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Os 30 minutos que mudaram minha carreira

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Opinião

Os 30 minutos que mudaram minha carreira

Referências, aliados e boas doses de coragem que fizeram a diferença no meu caminho


11 de dezembro de 2024 - 8h47

Patrícia Muratori em discurso pelo prêmio Caboré de melhor Dirigente da Indústria da Comunicação, em dezembro de 2024 (Crédito: Reprodução/YouTube)

Voltei pra casa essa semana com um sorriso no rosto daqueles que a gente não esquece. Eu havia recebido o prêmio Caboré de melhor Dirigente da Indústria da Comunicação, como dizem, o grande “Oscar” da propaganda.

O prêmio tem uma longa história de reconhecimento e valorização dos profissionais e empresas que fazem a diferença no Brasil, e continua a ser um evento de grande prestígio e importância para o setor. Confesso, esse ano achei ainda mais especial, lindíssimo e potente – a direção de arte “Alice” estava, digamos, encantadora. O nome “Caboré” tem uma história curiosa: foi inspirado em uma coruja, ave que simboliza sabedoria e conhecimento.

Quando fui indicada, me senti tomada por uma onda de incredulidade. Evitei fazer campanha que pudesse ser julgada como “autopromoção”, e reconheci o talento dos meus concorrentes. A síndrome do impostor, tão presente em nossas vidas, tentou me sabotar, mas isso é conversa para outro artigo.

O que pretendo compartilhar aqui é que a história com o Caboré me fez lembrar de um momento crucial que mudou minha trajetória: 30 minutos que me trouxeram até aqui.

Eu já trabalhava no Google, empresa dos sonhos, tinha feito uma trajetória bastante sólida e gratificante no mundo de vendas, o coração da empresa, quando percebi que a mudança era necessária. Aquela mudança que iria me trazer o desconforto novamente, a inquietude da sabedoria, de novas fontes de conhecimento, e estava disposta a deixar rastros diferentes em novos negócios.

Há 6 anos, eu tive uma conversa com a então líder do YouTube no Brasil. Quando soube que ela se mudaria com a família para o Japão, conversamos sobre sua transição. Numa dessas conversas, ela injetou em mim algumas doses de coragem e veio o despertar para me aplicar para a vaga dela. Eu a percebia como muito talentosa, criativa, inteligente e forte. Por que não tentar? 

A pessoa para quem eu reportaria trabalhava em Nova York e, ao abrir seu calendário, vi que estaria no escritório do Brasil na semana seguinte. Em sua agenda, vi que existia apenas um espaço de 30 minutos vago! Agarrei a oportunidade e a convidei para uma conversa. Entrei no processo, passei nas entrevistas, consegui a vaga e passei a viver a posição mais desafiadora que já tive em toda minha trajetória profissional.

Agora que aquela emoção toda da noite mais especial da minha carreira aconteceu essa semana, a reflexão bateu forte. Nós, mulheres, não podemos desistir. Não podemos esperar que o outro faça pela gente. Podemos, sim, criar laços fortes com pessoas que vão nos encorajar e iluminar nossos caminhos. Podemos, sim, ter grandes aliados (mulheres e homens)!

Ao celebrar essa conquista, me deparei com uma realidade incômoda: em 44 anos de premiação, fui apenas a segunda mulher a receber a coruja na categoria Dirigente da Indústria da Comunicação. A primeira foi a Fiamma Zarife, em 2020, uma profissional por quem tenho profunda admiração e respeito. Diante de tantas mulheres incríveis liderando negócios com excelência, fazendo um trabalho digno de todas as premiações do mundo, essa disparidade me faz questionar: será que o mercado da comunicação ainda está preso a um passado que só reconhecia a liderança masculina?

Muito feliz e orgulhosa de existir iniciativas como o Women to Watch, que ecoam nossas vozes e fazem esses espaços se multiplicarem.

Que essa coruja sirva de inspiração para que mais mulheres ocupem posições de liderança e recebam o reconhecimento que merecem. Em meu discurso, ressaltei a importância de sermos autênticas, sem nos encaixarmos em estereótipos. Agradeci às minhas referências da vida – no trabalho e fora dele – que me inspiraram a ser mais forte e mais gentil ao mesmo tempo.

Desejo imensamente que cheguem mais gaiolas para nossas grandes líderes mulheres em todas suas interseccionalidades. Que seja palco para muitas outras profissionais inspiradoras que atuam em espaços de decisão, gerando fortes resultados de negócio, contribuindo com perspectivas e talentos para um futuro mais igualitário e diverso. 

É verdade, seria fascinante ter a capacidade de prever o impacto de cada decisão e vislumbrar os diferentes caminhos que a vida poderia tomar. Se pudéssemos visualizar as infinitas possibilidades geradas por cada escolha, como num “efeito borboleta” pessoal, talvez a tomada de decisão fosse menos angustiante.

Mas, já que essa previsão é impossível, o que nos resta é a coragem para agir. Já compartilhando resoluções para 2025, desejo que tenhamos a ousadia de seguir nossos instintos, de abraçar as oportunidades e de trilhar caminhos desconhecidos. Afinal, cada ação intencional, cada passo dado, abre um leque de novas possibilidades, nos impulsionando para lugares que jamais imaginaríamos.

Desejo muito que a gente se permita explorar as oportunidades que surgem, ainda que de forma não linear, com a convicção de que mesmo 30 minutos podem ser suficientes para seguirmos caminhos que jamais imaginamos. 

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