Os desafios do empreendedorismo negro no Brasil
O caminho é duro, sim, cheio de lombadas, subidas e descidas, mas afirmo também que passar por elas é redentor
Os desafios do empreendedorismo negro no Brasil
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31 de julho de 2024 - 14h18
Sou uma exceção e digo isso com orgulho. Dentro da realidade em que os negros ainda vivem no Brasil, de preconceito e desigualdade de oportunidades, sou uma privilegiada. Sou filha de advogado e de uma cozinheira. Nasci em um lar onde meus pais sempre priorizaram muito os estudos.
Sem dúvida, a educação vinha em primeiro lugar e meus pais sempre me mostraram os caminhos que eu deveria seguir se quisesse êxito e uma carreira bem estruturada. Sempre tive em mente a certeza da minha missão. Formei-me em advocacia aos 26 anos, pela Faculdade de Direito da Pontifícia Universidade Católica (PUC) de São Paulo. Também tenho orgulho de ser a primeira mulher negra proprietária de uma incorporadora e construtora no país, um setor ainda majoritariamente e culturalmente dominado por homens.
Depois, me especializei em direito urbanístico e em regularização fundiária. Essa jornada, de certa forma, me ajudou a entender melhor o espaço que eu queria ocupar no mercado e como poderia usar do meu conhecimento e ofício em prol da construção de moradias dignas no país.
É claro que tive que pavimentar o caminho e driblar algumas situações desagradáveis que passei. Durante minha trajetória tentando empreender, tive que enfrentar algumas situações de preconceito por ser mulher negra, mas não me deixei abater. Superei as dificuldades, focando sempre no lugar em que queria ocupar, no esforço que empenhei para chegar até aqui, e não coloquei energia nas situações adversas.
De certa forma, esses entraves acabaram me ajudaram a formar quem eu sou hoje: obstinada em querer oportunizar morada digna a quem não tem seu lar ainda e, do outro lado, regularizar imóveis no âmbito do direito e da justiça. O caminho é duro, sim, cheio de lombadas, subidas e descidas, mas afirmo também que passar por elas é redentor.
Digo que empreender no Brasil requer jogo de cintura e inteligência. Ser mulher também não é fácil, empreendedora também não. Temos que estudar mais, ralar mais, provar que somos capazes. Fora isso, temos burocracia, procrastinação, sem falar da política de tributação, que ainda é muito alta para quem deseja se aventurar em ter uma empresa.
Porém, a dica que dou é pensar em soluções que, de fato, agregam e tragam mudanças significativas para a vida das pessoas. Precisa ser uma solução que realmente tenha impacto social e ressignifique realidades duras. Quando você encontra e encaixa esses dois eixos, ainda que as dificuldades apareçam, o dia a dia não se torna um fardo e um peso e, sim, um combustível para seguir transformando.
Esse é meu oásis. Avante, mulherada. Temos e teremos nosso lugar ao sol.
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