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Guilherme Valadares: “Como os meninos se tornarão o que não conhecem?”

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Guilherme Valadares: “Como os meninos se tornarão o que não conhecem?”

O fundador do PapodeHomem deseja que seu instituto seja o espaço para apoiar meninos que se transformarão em homens diferentes de seus pais e avôs


28 de maio de 2024 - 7h54

Por Andrea Assef

Valadares: foco na transformação das masculinidades e enfrentamento do machismo (Crédito: Filipe Redondo)

A pergunta que não quer calar é como Guilherme Nascimento Valadares, o fundador do PapodeHomem, de 2006 — portal que nasceu com o mote “conteúdo e diversão para homens” e que discutia temas como o que fazer quando levar um fora do sexo oposto —, virou o criador do projeto “Meninos: sonhando os homens do futuro”? Lançada em 2024, a iniciativa tem o apoio do Pacto Global da ONU — Rede Brasil e o objetivo de oferecer um percurso formativo que auxilie meninos na passagem para a vida adulta.

“Nesses quase 18 anos de história foi uma longa e árdua jornada de transformação para o projeto e para mim, pessoalmente”, conta. Valadares admite que os primeiros anos do Papo de Homem refletiam muita imaturidade, que era uma materialização de vários problemas associados à masculinidade hegemônica e uma visão de mundo patriarcal.

Ao longo dos anos, o Papo de Homem foi evoluindo e se tornou o PHD, instituto dedicado à transformação das masculinidades, enfrentamento do machismo, racismo, homofobia e todas as demais formas de preconceito. “O menino cresceu, o que não significa que todas as dores e medos tenham ido embora, ou que eu ande por aí com uma carteirinha de ‘homem 2.0’ na mão”, avisa.

O projeto Meninos, que foi apresentado por ele em março deste ano, em Nova York, na Commission on the Status of Women (CSW), evento mundial criado pela ONU para acompanhar a evolução dos direitos das meninas e mulheres, está sendo viabilizado pela Natura para ser implementado em escolas, comunidades, espaços esportivos e clubes de futebol a partir de uma linguagem focada e pensada para engajar meninos adolescentes de 13 a 17 anos.

“Começamos entrevistando especialistas sobre gênero, masculinidades, educação, psicologia, saúde e esporte, gente do Brasil, Argentina, México, EUA e Austrália. Em seguida, fizemos uma pesquisa que reúne mais de 10 mil respostas de adolescentes de 13 a 17 anos, pais, mães e responsáveis”, conta Valadares. Nos próximos meses, um documentário será gravado com as principais conclusões e dados levantados pela pesquisa. “A ideia é que seja uma bússola, desenhada a partir da escuta que fizemos”, diz ele.

Logo que se formou em Jornalismo e Publicidade pela UFMG, em 2006, Guilherme resolveu empreender e criar um veículo digital focado no público masculino. Naquele tempo, ele ainda carregava traumas e muitas dores mal resolvidas da sua infância.

“Solidão, machismo, confusão, agressividade, raiva e uma imensa falta de referenciais saudáveis sobre o que significa ser homem se acumulavam num caldeirão interno dentro de mim”, conta. E o nome do portal, quem diria, foi dado por uma mulher. Ao ouvir o filho falando sobre o projeto, Maria Beatriz Nascimento disse: “tem que chamar papo de homem, meu filho”.

O Papo de Homem/Instituto PHD é o acúmulo do que essa rede de homens aprendeu ao longo dos anos e se tornou, hoje, um dos principais núcleos de discussão e estudo sobre masculinidade do País. Valadares diz que é o projeto que ele gostaria de ter participado quando era criança.

“Hoje, é esperado dos meninos que se tornem homens fundamentalmente diferentes do que seus pais e avôs foram, mas há uma enorme escassez de espaços, materiais e pessoas preparadas para apoiar esse processo. Como eles se tornarão o que não conhecem, o que nunca viram?”, questiona.

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