Michelle Borborema
9 de junho de 2022 - 9h10
O número de mulheres que sofrem no ambiente de trabalho por diferentes razões ainda é alto, sobretudo quando o assunto é maternidade. De acordo com a segunda parte da pesquisa “Elas: Comportamentos e barreiras”, novo levantamento da Nielsen sobre as mulheres brasileiras realizado em parceria com o Opinion Box, empresa de pesquisa de mercado, 75% das mulheres afirmam que a gravidez é usada como razão para questionar seu trabalho, e 88% acreditam que a possibilidade de engravidar é considerada um motivo para não as contratar.
Os dados apontam para um comportamento que começa ainda nas entrevistas de emprego: 75% das mulheres são perguntadas sobre terem filhos em processos seletivos, contra 69% dos homens. Além disso, 52% delas afirmam terem sido questionadas sobre onde deixariam seus filhos durante o trabalho, e 23% disseram que esse tipo de pergunta gerou desconforto na entrevista.
A pesquisa, realizada entre fevereiro e março de 2022, foi feita com mil pessoas maiores de 18 anos de todo o Brasil, das quais 69% eram mulheres, 24% homens e 7% preferiram não responder seu gênero.
Gráfico 1 – Ao fazer uma entrevista de emprego, você já foi perguntado se tem filhos?
Gráfico 2 – Ao fazer uma entrevista de emprego, já foi perguntado com quem você deixaria seus filhos? Você acha que isso gerou um desconforto durante a entrevista?
Gráfico 3 – Você concorda que mulheres são questionadas sobre sua capacidade de realizar seu trabalho quando ficam grávidas?
MANSPLAINING E MANTERRUPTING
A porcentagem de mulheres que já presenciaram ou passaram por mansplaning (quando um homem explica algo a uma mulher de maneira condescendente, sem considerar que ela já tem conhecimento sobre o tema) no ambiente de trabalho também é alta, embora ainda seja um conceito pouco conhecido por elas: apenas 21% das entrevistadas têm familiaridade com a expressão. Entre elas, 48% afirmam já terem presenciado ou vivido a prática no meio corporativo.
Gráfico 4 – Você já presenciou mansplaining no seu trabalho? Tanto com você quanto com colegas.
De acordo com a pesquisa, as ocorrências de manterrupting (quando um homem interrompe a fala de uma mulher a ponto de impedi-la de emitir alguma opinião sobre determinado tema) são ainda mais frequentes: das 23% mulheres que conhecem o conceito, 54% testemunharam ou foram vítimas da prática no trabalho.
Quando o recorte é racial, os números aumentam: 58% das mulheres que se consideram pretas já passaram por mansplaining no trabalho e 60% afirmam já terem sido vítimas de manterrupting.
Gráfico 5 – Você já presenciou Manterrupting no seu trabalho? Tanto com você quanto com colegas.
“Esta é a primeira vez que levantamos dados acerca de manterrupting e mansplaining, por isso não temos comparação com anos anteriores. Entretanto, este primeiro olhar revela que ambos são temas relevantes para serem promovidos dentro e fora do ambiente corporativo”, comenta Sabrina Balhes, líder de measurement da Nielsen.
ASSÉDIO NO TRABALHO
Ainda segundo o levantamento, a maior parte das mulheres sabe o que é assédio (92%) e 46% delas já sofreram ou presenciaram isso no trabalho, especialmente na faixa etária entre 24 e 45 anos.
CUIDADOS COM A CASA
De acordo com a pesquisa, mulheres ainda são as principais responsáveis por cuidar da casa: 22% das respondentes afirmam que é a sua principal atividade durante o dia, contra 2% dos homens. No Brasil, em 2019, elas se dedicaram aos cuidados de pessoas ou a afazeres domésticos por quase o dobro de tempo que os homens (21,4 horas, contra 11 horas), segundo o IBGE.
A PERCEPÇÃO DELES
Quando provocados a pensar sobre as mulheres em cargos de liderança e sua capacidade no trabalho, a maioria dos homens (68%) acredita que elas são tão capazes quanto eles, enquanto 58% dos respondentes masculinos se sentem confortáveis de elas estarem em posições superiores às deles ou em cargos de chefia.
Já 16% acreditam que as mulheres não são tão capazes quanto eles, sobretudo os homens acima de 55 anos de idade. Entre os entrevistados, 13% se sentem desconfortáveis de elas ocuparem cargos mais altos ou de liderança, sendo essa opinião mais recorrente na faixa etária entre 18 e 45 anos.