Pesquisa da Havaianas revela o perfil da comunidade LGBTQIAP+ no Brasil
Realizado em parceria com o Datafolha, estudo aponta que grupo representa mais de 9% da população e são em maioria jovens, metropolitanos e têm orgulho de ser quem são
Pesquisa da Havaianas revela o perfil da comunidade LGBTQIAP+ no Brasil
BuscarRealizado em parceria com o Datafolha, estudo aponta que grupo representa mais de 9% da população e são em maioria jovens, metropolitanos e têm orgulho de ser quem são
Lidia Capitani
22 de setembro de 2022 - 16h30
Mais de 9% da população se identifica como LGBTQIAP+ no Brasil, ou seja, aproximadamente 15,5 milhões de brasileiros são desse grupo. É o que revelou a Pesquisa do Orgulho, realizada pelo Datafolha e encomendada pela Havaianas. O estudo inédito, que também envolveu a organização não governamental All Out, a Media.Monks e a consultoria Apego, quantifica e identifica o perfil dessa comunidade no país. Entre os principais achados estão algumas características do grupo, que em sua maioria são jovens (18% de 16 a 24 anos, e 13% de 25 a 34 anos), concentrados em regiões metropolitanas (11%), com ensino superior (11%), solteiros (59%) e sem filhos (70%).
A pesquisa aprofunda, pela primeira vez no país, características relacionadas à identidade de gênero. O IBGE já publicou um estudo que analisa o percentual das diferentes orientações sexuais, mas não identifica o número de pessoas trans/travestis, não binárias e intersexuais. De caráter experimental, os dados do governo apontam uma subnotificação de homossexuais, bissexuais e outras orientações — agora, verificados pela Pesquisa do Orgulho.
O estudo tem o propósito de entender esse grupo populacional no Brasil, para o qual Havaianas já direciona estratégias e ações por meio da Plataforma Pride, criada em 2020 junto à All Out.
A COMUNIDADE LGBTQIAP+ NO BRASIL
Nesse sentido, o estudo traz os percentuais das diferentes identidades presentes na população brasileira. Quanto à identidade de gênero, 0,98% são intersexos, 0,8% não binários e 1,7% são transgêneros/travestis. Referente às orientações sexuais, os resultados afirmam que 2,7% são bissexuais, 1,6% gays, 1,2% lésbicas, 0,9% assexuais, 0,9% panssexuais e 1,5% heterossexuais (lembrando que é possível uma pessoa transgênero se identificar com a orientação hétero).
O estudo identificou a percepção da comunidade LGBTQIAP+ sobre diversos temas comparados ao restante da população. As perguntas abordaram questões como relacionamento, respeito, liberdade, segurança, mercado de trabalho e representatividade na mídia.
Dessa forma, os resultados indicaram uma situação preocupante quanto aos preconceitos e discriminações que o grupo enfrenta nos ambientes familiares, sociais e profissionais. No entanto, também é importante ressaltar que 88% dos entrevistados LGBTQIAP+ sentem orgulho de ser quem são, dado relevante que demonstra avanços quanto à consolidação da comunidade no país.
INTOLERÂNCIA, DISCRIMINAÇÃO E FALTA DE ACESSO
Enquanto 54% do restante da população afirmam que têm o respeito da sociedade, apenas 37% da comunidade LGBTQIAP+ concordam com a afirmação — 26% concordam parcialmente e 36% discordam totalmente ou em parte. A percepção é avaliada pela comunidade a partir de experiências pessoais, situações que viveram e preconceitos sofridos.
Quanto à discriminação, 57% afirmam que sofrem frequentemente, sempre ou às vezes, frente a 35% do restante da população. Esses episódios de intolerância são comumente relacionados ao ambiente familiar e profissional. Quando o assunto é violência física, 19% dos LGBTQIAP+ afirmam já ter sofrido, frente aos 14% restantes.
Quando o estudo entra nos detalhes das dificuldades de acesso à saúde, educação e trabalho, a pesquisa não identificou diferenças expressivas entre a comunidade LGBTQIAP+ e o resto da população. Em contrapartida, destacou que outros indicadores socioeconômicos estariam relacionados a essas dificuldades. Os perfis das classes C, D e E são os que mais enfrentam entraves no mercado de trabalho. O acesso à educação é mais difícil para as classes sociais menos favorecidas e os menos escolarizados, e as dificuldade de acesso ou preconceito em serviços de saúde é mais percebido entre as mulheres e as classes C, D e E.
A percepção da falta de representatividade em políticas públicas é percebida igualmente entre as duas populações, entretanto, no perfil de quem não é LGBTQIAP+, quem mais sofre neste quesito são as mulheres.
Ainda sobre a relação do restante da população com a comunidade, 85% tende a respeitar quem é LGBTQIAP+, mas o número decai quando o assunto é o reconhecimento dos mesmos direitos (79%), expressão livre de quem são (74%) e demonstração pública de afeto (53%).
PRECONCEITO NO AMBIENTE FAMILIAR
Apesar de 65% da comunidade considerarem que têm um bom relacionamento com a família, o percentual é bem abaixo da situação vivida pela outra parcela, relatada em 80% dos entrevistados.
Sobre episódios de preconceito no ambiente familiar, 35% dos LGBTQIAP+ já sofreram, enquanto 21% da população diz ter passado por algo semelhante. Quando o assunto entra na seara jurídica, a comunidade percebe maiores entraves frente aos seus direitos de casamento e adoção de crianças. 34% do grupo relata sofrer, em algum grau, a falta do reconhecimento do seu direito ao casamento, e 29% do direito à adoção.
REJEIÇÃO NO MERCADO DE TRABALHO
Quando a pesquisa analisa as dificuldades percebidas pela comunidade no ambiente de trabalho, a discriminação é o fator que se destaca. 40% dos entrevistados do grupo concorda com a afirmação “o mercado de trabalho me rejeita”. Além disso, 34% dos respondentes LGBTQIAP+ sentem entraves no acesso às mesmas oportunidades que o restante da população. Ainda dentro da comunidade, as classes D e E e os menos escolarizados percebem maior dificuldade de acesso a oportunidades.
No ambiente laboral, 42% nunca ou raramente falam abertamente sobre sua orientação sexual ou identidade de gênero. Não é estranho que o assunto não seja abordado, afinal, 16% vivenciam comentários negativos sobre sua identidade LGBTQIAP+ sempre ou frequentemente, e 19,8% passam pela situação às vezes.
Devido à frequente discriminação, falta de oportunidades e rejeição, 58% da comunidade teve que se adaptar ao trabalho informal. Um dado relevante que demonstra a falta de inclusão no mercado de trabalho sofrido pelo grupo.
Numa lista dos principais problemas que devem ser resolvidos, a comunidade LGBTQIAP+ elencou como prioridade a falta de segurança pública, violência física e discriminação, preconceito e intolerância. Em segundo patamar estão o acesso à educação, saúde, mercado de trabalho, preconceito e hostilidade no ambiente familiar, e representação nas políticas públicas.
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