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Por que 2024 foi ano de avanços para mulheres em startups?

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Por que 2024 foi ano de avanços para mulheres em startups?

Empreendedoras fazem uma retrospectiva sobre o setor e refletem sobre o cenário das profissionais do ecossistema de inovação


2 de dezembro de 2024 - 9h10

O ano de 2024 representou um marco importante para as mulheres no ecossistema de startups no Brasil. Ao mesmo tempo, embora tenha sido um período de maior visibilidade, reconhecimento e acesso a recursos financeiros, ainda existem barreiras significativas para alcançar a equidade de gênero e ampliar a representatividade feminina no ecossistema de inovação brasileiro.

“Houve avanços, mas o caminho para fortalecer a igualdade de oportunidades ainda é longo”, afirma Mariane Takahashi, CEO da Associação Brasileira de Startups (Abstartups). 

Para a associação, este foi um ano importante para avançar a pauta de equidade de gênero, mas também para consolidar o ecossistema de inovação brasileiro. Para 2025, Mariane destaca o foco da Abstartups: “Apoiar mais ações externas para o empreendedorismo, como criação de programas de mentoria, que já temos, a fim de aumentar a conexão entre mulheres empreendedoras iniciantes a mentoras experientes na área de inovação”. 

De acordo com Sarah Hirota, co-fundadora e CRO da Fhinck, a promoção de iniciativas voltadas para mulheres empreendedoras foi essencial para fomentar o empreendedorismo feminino. “Estamos criando referências, mas a equidade no mercado ainda demanda muito investimento e esforço. Apesar das mudanças, ainda temos muito espaço para avançar nesse tema”, reflete. 

Sarah Hirota, co-fundadora e CRO da Fhinck (Crédito: Divulgação)

A Fhinck oferece soluções para aumentar a eficiência operacional dos centros de serviços compartilhados das grandes empresas. O ano da startup foi de muitos desafios e mudanças internas, mas, para 2025, Sarah pretende seguir apoiando outras mulheres. “Quero trazer mais mulheres aos espaços em que tenho o privilégio de participar, promovendo o desenvolvimento delas na tecnologia”, afirma. 

Diversificação do ecossistema

Apesar de representarem apenas 12% das lideranças de startups no Brasil, o destaque feminino ficou evidente em setores como healthtech, edtech e HRtech. Segundo Mariane Takahashi, as mulheres passaram a liderar 19% das startups mais inovadoras em práticas de inovação aberta, refletindo uma diversificação significativa no ecossistema. “Ainda temos muito que alcançar, mas estamos otimistas que a presença feminina seja mais reconhecida e incentivada”, afirma a CEO. 

Mariane Takahashi, CEO da Associação Brasileira de Startups (Crédito: Divulgação)

Além dos setores citados, a ocupação de espaços por mulheres no setor também foi destaque na chamada economia prateada. Marcia Vieira, CEO da MasterCare Brasil, relata que, no Hub Longevidade, plataforma da startup dedicada ao público mais maduro, 57,5% dos negócios são liderados por mulheres. “Esse protagonismo evidencia como estamos transformando um mercado dinâmico e em constante evolução”, pontua. A MasterCare conecta cuidadores a idosos, e o Hub Longevidade funciona como um ecossistema de soluções e tecnologias para o cuidado na longevidade. 

Neste mercado, o principal desafio é ainda a educação e o letramento sobre a importância do olhar sobre a população longeva. Por isso, o ano de 2024 para a MasterCare foi marcado pela expansão de espaços de debates, como o evento Conacare (Congresso sobre Cuidadores, Cuidados e Longevidade), que realizou sua terceira edição, e a presença em outros eventos realizados nas regiões Norte e Nordeste do País. 

Decisão estratégica

Com 13 anos de atuação no ecossistema de startups, Marcia enfatiza que a presença feminina não é apenas um reflexo de mudanças sociais, mas uma decisão estratégica. “Empresas que incorporam diversidade compreendem que ela é essencial para inovação e competitividade”, ressalta. 

Marcia Vieira, CEO da MasterCare Brasil (Crédito: Divulgação)

Na biotecnologia, as mulheres estão moldando o futuro do setor. “A bio é feminina”, declara Mona Oliveira, CEO e fundadora da Biolinker, destacando que as fundadoras têm conquistado apoio governamental e institucional, apesar de ainda serem minoria entre investidores. A Biolinker é uma startup que oferece soluções de biologia sintética e já recebeu reconhecimentos como o prêmio da 100 Open Startups deste ano, que, com o tema “Mulheres que Valem Ouro”, destacou o protagonismo feminino, premiando 82 startups e scaleups lideradas por mulheres. 

Mona Oliveira, CEO e fundadora da Biolinker (Crédito: Divulgação)

Outro destaque da 100 Open Startups foi a MatchIT, fundada pela Rose Ramos, atual CEO. A startup é uma plataforma de IA que otimiza a gestão do portfólio de projetos de inovação digital. Em 2024, lançou seu produto ao mercado e já conquistou clientes importantes como a Caixa Econômica, que lhes rendeu o prêmio. “Nós, fundadoras de startups, temos nos apoiado e aberto espaço umas às outras, e vejo cada vez mais a pauta tendo relevância em eventos do mercado, como exemplificado na celebração do ranking 100 Open startups”, afirma Rose. 

Rose Ramos, fundadora e CEO da MatchIT (Crédito: Divulgação)

Tais eventos foram responsáveis por impulsionar a visibilidade feminina. “Premiações como o 100 Open Startups destacaram empreendedoras de alto impacto, como Mona Oliveira (BioLinker), Rose Ramos (Match IT) e Cecília Ribeiro (3,2,1 Beauty), em áreas que vão de biotecnologia a soluções de beleza corporativa. Muitas dessas startups demonstraram forte crescimento em contratos corporativos, com um aumento de 85% nos valores negociados, atingindo R$ 1,3 bilhão no total”, destaca Mariane Takashi. 

O ano delas

Além da premiação 100 Open Startups, 2024 teve outros marcos importantes para as mulheres. No Web Summit Rio, realizado em abril deste ano, 45% dos fundadores presentes eram do gênero feminino, o maior percentual já registrado em todas as edições do evento. “Além disso, iniciativas como o Programa Mulheres Inovadoras, promovido pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI) e Finep, e o lançamento do Sororitê Fund 1, fundo de venture capital de R$ 25 milhões criado para investir em startups fundadas ou cofundadas por mulheres, vêm para reforçar o compromisso com a diversidade de gênero no mercado de inovação”, avalia Cecília Ribeiro, CEO e Founder da 3,2,1 Beauty. 

A startup que oferece soluções de beleza e bem-estar para empresas e condomínios também teve um ano importante. “Batemos o recorde de faturamento e fomos reconhecidos entre as top 4 healthtechs no ranking 100 Open Startups. Também fomos selecionadas para participar do programa Winning Women, da EY, o que foi um divisor de águas, um momento de amadurecimento estratégico e pessoal”, afirma a Cecília. 

Cecília Ribeiro, CEO e Founder da 3,2,1 Beauty (Crédito: Divulgação)

Mariane Takashi destaca o Prêmio Mulheres Inovadoras como uma das iniciativas que contribuiu para o avanço da presença feminina na área, ao promover capacitação e reconhecimento em áreas tecnológicas emergentes, como inteligência artificial, biotecnologia e IoT. “Esses projetos visam não apenaws aumentar a representatividade feminina, mas também estimular a competitividade nacional no setor de startups”, reforça a CEO. 

Avanços e recuos

Para Vanessa Poskus, CEO e co-fundadora da Uppo Brasil, o ano foi marcado por progressos em programas de mentoria e fundos focados em diversidade. “Existe uma necessidade cada vez maior de iniciativas para promover a diversidade de gênero, programas de mentoria e redes de apoio para mais mulheres se envolverem nesse setor. Hoje, me considero uma agente de transformação. Vi fundos com tese focada em mulheres serem lançados esse ano e excelentes programas de mentoria ganhando novas turmas”, aponta. 

A Uppo Brasil é uma plataforma de benefícios flexíveis para empresas, que passou por um ano de desafios e aprendizados. “Um ano após a captação, é o momento de mostrar toda eficiência operacional e fazer os ajustes necessários para evitar uma queima de caixa maior que o necessário”, afirma Vanessa.

Vanessa Poskus, CEO e co-fundadora da Uppo Brasil (Crédito: Divulgação)

No âmbito pessoal, o próximo ano da CEO será focado em promover discussões e iniciativas de diversidade. “Continuo atuando no hub de diversidade do Cubo Itaú o Mulheres ao Cubo para apoiar novas iniciativas e em 2025 farei parte do Conselho da Abstartups, sendo o primeiro conselho desde a criação da associação, e estarei lá para trazer exatamente mais discussões para a mesa na pauta”, reforça. 

Por outro lado, Rafaela Cavalcanti, CEO e fundadora da CloQ, percebeu um certo recuo de programas de startups específicos para mulheres. “Acredito que isso não é um sinal negativo em si, mas o símbolo de que já estamos, como mulheres, tão mais presentes no ecossistema de startups e inovação que talvez o foco já não seja mais incluir. O alvo, agora, deve ser em investir, trazendo assim o suporte necessário para o crescimento de startups inovadoras lideradas por mulheres”, pontua. 

Rafaela Cavalcanti, CEO e fundadora da CloQ (Crédito: Divulgação)

Neste ponto, já vemos sinais positivos. Os investimentos dedicados a startups femininas avançaram significativamente. Fundos como o Rethink Impact, com foco em gênero, arrecadou mais de R$ 1 bilhão globalmente. A CloQ é uma startup que oferece soluções de nano-crédito, e que teve um ótimo ano de crescimento. “Dobramos nossas operações sem aumento do time, sendo bootstrap e ainda sem nenhum custo de marketing. Esse avanço trouxe aprendizados e demandas, levando-nos a realizar mudanças estratégicas e estruturais para sustentar o crescimento que projetamos para 2025”, afirma a CEO. 

Desigualdade no acesso ao capital de investimento

Mesmo com o avanço de iniciativas que apostam em lideranças femininas, a desigualdade no acesso à capital ainda é um dos principais desafios para as mulheres empreendedoras. “A presença feminina aumentou, mas o acesso a capital de investimento ainda é limitado. Por outro lado, os movimentos para mudar essa realidade são inspiradores”, reflete Mariana Moreno, COO e fundadora da Bis Legal Design, startup que facilita o acesso e a leitura de documentos jurídicos.  

Mariana Moreno, COO e fundadora da Bis Legal Design (Crédito: Divulgação)

A Bis Legal Design acumula reconhecimentos como 100 Open Startups, 100 Startups to Watch e o Startup Awards. Mas, além disso, Mariana também mantém como objetivo ser uma referência de diversidade. “Hoje, o time da Bits tem mulheres em mais de 50% dos cargos e pretendemos levar essa paridade também para o nosso conselho”, afirma. 

Força no ecossistema

Camila Florentino, fundadora e CEO da Celebrar, reflete sobre a força coletiva das mulheres no ecossistema. “Ainda há muito a ser feito, mas as iniciativas lideradas por mulheres estão mudando a cara da inovação, especialmente em áreas historicamente dominadas por homens”, diz. A Celebrar é uma startup para eventos corporativos, que teve um ano de muitas conquistas e comemorações. 

“Conseguimos consolidar nosso product-market fit, o que nos deu uma base sólida para trabalhar. Esse foi também um ano de muito foco interno, com equipes dedicadas a sprints de tecnologia para melhorar ainda mais a experiência dos nossos clientes e expandir nossa capacidade de impactar o mercado de eventos corporativos”, pontua a CEO. Para o próximo ano, Camila almeja o crescimento da empresa, mas também se preocupa em apoiar mulheres nesta área. 

Camila Florentino, fundadora e CEO da Celebrar (Crédito: Divulgação)

“Quero ser exemplo e apoiar outras mulheres a ocuparem posições de liderança no setor, provando que tecnologia e empreendedorismo são caminhos para todas. Acredito que a tecnologia, quando impulsionada por perspectivas diversas, gera as melhores inovações”, defende. 

Em 2024, as mulheres mostraram que estão mais presentes e atuantes, mas o caminho para a equidade ainda exige esforço e resiliência. “Fortalecer a representatividade feminina é essencial para impulsionar a inovação e alcançar resultados ainda mais expressivos nos próximos anos”, conclui Cecília Ribeiro. 

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