Por que precisamos de mais criativas líderes de agências?
Ainda não somos chamadas para as conversas que realmente movem ponteiros de negócios
Por que precisamos de mais criativas líderes de agências?
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5 de outubro de 2022 - 17h22
Olhe no ranking das maiores agências brasileiras. Quantas mulheres CEOs você vê? Pouquíssimas. E quantas são criativas? Entre as 20 maiores agências do ranking no Brasil, não existe nenhuma CEO ou Co-CEO criativa mulher, isso inclui mulheres trans e pretas. Avançamos um pouco, na composição das equipes de criação, mas ainda não somos chamadas para as conversas que realmente movem ponteiros de negócios. Onde estão a Ana , a Adriana Cury, a Christina Carvalho Pinto da nossa geração? Por que não temos espaço nas cadeiras do C-Suite?
Existe uma crença rasa de que “os meninos da criação não são comprometidos com vendas”. Quantos erros estão nessa frase? A falta de seriedade atribuída ao departamento de criação pode ser, em alguns aspectos, herança do comportamento de alguns colegas de profissão, mas a verdade é que existe uma grande barreira de gênero (ainda existe) e um grande preconceito de que criatividade e números não andam juntos. É difícil um líder criativo subir de posição internamente numa grande estrutura e assumir o cargo de CEO. Para uma líder criativa mulher, preta ou trans, então, o desafio é praticamente inalcançável. A história de grandes marcas comprova que a criatividade é um multiplicador econômico. Nada mais natural do que ter criativos e criativas dividindo o comando de empresas.
Alguns podem argumentar que o Brasil é um mercado grande, machista, de economia difícil. Que soluções tradicionais – mais homens no poder – são mais assertivas. Porém, não conheço mercado maior e mais difícil do que os Estados Unidos e, entretanto, várias líderes mulheres e algumas líderes criativas são CEOs e Co-CEOs por aqui. O mercado americano é mais diverso e existe oportunidade para várias agências, de grandes redes internacionais e independentes, compartilhando verbas de diferentes tamanhos. Ainda assim, quando se olha o total de CEOs na lista da Fortune 500 de 2021, mulheres representam apenas 8,1% do total. E, nós, mulheres, somos 52% da população mundial. Há uma desproporcionalidade assustadora.
Lá fora, existe uma nova geração de consumidores analisando gôndolas, amando e rejeitando marcas de acordo com os seus próprios valores, novos métodos de aquisição, mercados virtuais e reais, onde há interseccionalidade de gêneros, de opções, de tudo. Não podemos seguir com os mesmos modelos tradicionais de atuação e apenas um gênero e uma raça dominante liderando tudo e reproduzindo-se em cativeiros. Não combina mais com o público que queremos conversar.
Uma CEO criativa (mulher, trans ou negra) traz uma bagagem única e poderosa à mesa. Além da capacidade comprovada para soluções de problemas e experiência com grandes marcas, temos o olhar da maior força consumidora desse país. Nossa perspectiva está nos dois lados do balcão, ao mesmo tempo: como criativas e consumidoras, mães e filhas, solteiras, juntadas, misturadas ou chefes de família.
Ser uma líder diferente é estar atenta ao presente e ao mesmo tempo fazer planos para o futuro. É inspirar os times com diversidade, coragem, caráter, respeito, cuidado e colaboração. É não ter todas as respostas, mas cultivar o olhar curioso para fazer todas as perguntas (que, claro, trarão as respostas certas). Podemos influenciar o mercado com um novo estilo de liderança. Não digo melhor, ou pior, mas diferente.
Um novo estilo de liderança que pode acelerar a conquista daquele centímetro quadrado mais caro que existe: um pedacinho no cérebro ou no coração do nosso novo consumidor. Que cliente não quer isso em favor da sua marca?
O mercado brasileiro está mudando, mas ainda aceita indicações. E toda líder criativa mulher recebe ligações de líderes criativos homens pedindo indicação de mulheres para cargos de DC (diretora de criação). Em geral, para marcas de beleza ou de consumo. Quase nunca para cervejas, carros ou motos, sendo que temos grandes mulheres à frente dessas marcas como clientes e presidentes de empresa, como a Giulia Faria e a Dani Bibas no Grupo Itaipava, e a Dani Cachich, que fez história como CMO na Heineken e agora é CEO da empresa mais inovadora da Ambev. A esses meus amigos, eu pergunto: “E indicação para líder criativa como CEO ou Co-CEO? Tenho várias para indicar.”
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