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Opinião

Precisamos pensar sobre o pensar

Pensar é o que nos define como humanos, e esse é um momento em que precisamos valorizar e acreditar na nossa humanidade


14 de abril de 2025 - 13h49

(Crédito: Olga C./Shutterstock)

O título desse artigo é uma frase do meu amado amigo e antropólogo Michel Alcoforado, em uma de suas geniais palestras sobre cultura. Ela representa exatamente o movimento que quero refletir com vocês: o fato de termos perdido a curiosidade pela profundidade, pelo pensar, pelas diferentes camadas de comportamentos e valores que movem as pessoas.

Nos acostumamos com a avalanche de informações fragmentadas que recebemos pelas redes sociais, com inúmeros memes pulando na nossa cabeça. Nos viciamos no flash ou no vídeo do momento enquanto, ansiosamente, esperamos pelo próximo.

E o que perdemos com isso?

No meio de complexos contextos e o excesso de informações que temos disponível, tenho encontrado visões superficiais em diferentes projetos estratégicos: do assunto-chave da marca, dos comportamentos identificados e dos valores humanos envolvidos. Por essa razão, tenho levado para as minhas aulas esse convite: “É preciso pensar sobre o pensar”. É preciso desejar pensar mais. Ir além. Pensar mais profundo.

O Future of Job Report, relatório do Fórum Econômico Mundial, destaca as principais tendências para o mercado de trabalho até o final dessa década. E essas tendências são, na verdade, habilidades do futuro. Na lista das top 5 habilidades mais importantes, duas são baseadas no pensamento. A primeira delas é o pensamento analítico:

  1. Pensamento analítico;
  2. Resiliência, flexibilidade e agilidade;
  3. Liderança e influência social;
  4. Pensamento criativo;
  5. Motivação e autopercepção.

Nós vamos analisá-los conjuntamente, pois, embora exista uma tensão entre lógica e imaginação, na prática, o pensamento analítico e o criativo são inseparáveis. O pensamento analítico estrutura e orienta, enquanto o criativo rompe padrões e gera novas possibilidades. Juntos formam um ciclo poderoso de inovação e resolução de problemas. E quanto mais juntos, melhor. Porque na jornada da análise, precisamos conhecer números, fatos e dados de comportamento, valores dos grupos envolvidos, dominar o cenário em profundidade, mas somente o pensamento criativo vai poder transformar todo esse aprendizado em insights poderosos.

Do ponto de vista da análise de comportamento, que é onde me dedico mais, costumo buscar referências na filosofia, antropologia, psicologia, sociologia e, claro, na cultura. Até um momento em que tudo o que estudamos e pensamos (analítica e criativamente) se conecta em um grande insight. Um insight verdadeiro. Porque foi pensado, refletido, alvo de dúvidas, hipóteses, repetições de pensamentos, uma jornada de análises e imaginação.

Analisar profundamente um contexto precisa de intenção e leva tempo. Pelo menos algum tempo. E requer paciência para percorrer a jornada e a curiosidade e coragem para romper com conceitos prontos.

A dúvida é uma das principais ferramentas para aprendermos a pensar. Duvidar é não receber algo pronto e imaginar outras possibilidades. É construir e constantemente evoluir hipóteses” – Dr. Miguel Ângelo Hernandez.

O processo de análise também demanda exercícios de imaginação, que é fundamental, porque somente a nossa imaginação vai nos levar à inovação. Sem imaginarmos o novo, ele não vai existir. A criatividade nos leva aos insights, mas é a imaginação que nos permite ver o futuro.

A maior vantagem competitiva virá para aqueles que melhor transitarem entre os mundos do pensamento analítico e criativo e acessarem também a imaginação. Mas, antes de tudo, é se apaixonar por pensar. Porque é isso que estamos perdendo frente à tamanha presença de fatos visíveis da cultura. Um meme ou um conjunto de memes é capaz de te contar sobre uma trend cultural, mas dificilmente irá provocar a conexão entre dados, comportamento e valores, que é o que vai nos levar aos pensamentos originais, lugares menos percorridos nas análises tradicionais.

Vamos pensar sobre o pensar e dar o valor que ele tem, como a maior habilidade humana em relação à inteligência artificial. Pensar é o que nos define como humanos. E esse é um momento em que precisamos valorizar e acreditar na nossa humanidade.

O que podemos ganhar com mais pensamento?

Deixo para você a sugestão de fazer o exercício de treinar a atenção, de trazer a curiosidade para cada análise (e não se livrar dela), se apaixonar pelo problema e mais ainda pelas soluções possíveis. Ao trazermos a intenção do pensamento crítico e criativo, certamente vamos acionar as fontes de informação mais interessantes, analisar a complexidade das questões que precisamos resolver. Vamos estar mais capacitados a fazer conexões interessantes que nos levem para novos caminhos.

A intenção de aprofundar nossos pensamentos é nossa. A vida e as redes sociais puxam para a superfície e nós precisamos reagir e mergulhar em análises mais interessantes, em contextos mais complexos que tragam visões mais originais. Não imagino para isso longas apresentações. Ao contrário, os tempos do nosso tempo são curtos e nossa maior habilidade é ampliar a análise ao máximo, fazer as conexões mais originais e resumir nosso pensamento nos fatos mais relevantes e nas ideias mais potentes.

Após esse exercício de pensar mais profundo, compare o resultado do trabalho com projetos anteriores e me conta se algo mudou. Eu garanto que vai mudar e você vai se apaixonar pelo pensamento novamente.

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