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Protagonismo de mulheres negras cresce no entretenimento da Globo

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Protagonismo de mulheres negras cresce no entretenimento da Globo

Kellen Julio, diretora de diversidade e inovação em conteúdo dos Estúdios Globo, fala sobre iniciativas da emissora para que o Brasil esteja refletido em suas obras


14 de novembro de 2024 - 8h07

Kellen Julio, diretora de diversidade e inovação em conteúdo dos Estúdios Globo: “Para ser escolhida todos os dias pelos brasileiros, a Globo precisa estar conectada com o público e ser capaz de retratar a sua diversidade” (Crédito: Divulgação/Globo/Fábio Rocha)

Pela primeira vez, as três novelas do horário nobre da Globo têm mulheres negras como protagonistas. As atrizes Duda Santos, Jessica Ellen e Gabz estão à frente dos papéis de destaque nas principais produções da emissora — “Garota do Momento”, “Volta Por Cima” e “Mania de Você”.  

O feito foi comemorado recentemente por Taís Araújo, uma das atrizes precursoras, com Preta de Souza Lambertini, seu papel principal em “Da Cor do Pecado”, de 2004. 

O movimento é parte de uma série de investimentos da Globo para representar a diversidade brasileira em seus conteúdos, em um esforço de alcançar e reter mais audiências no País. No panorama da TV aberta, a emissora é destaque na pauta frente ao SBT, que aumentou a diversidade de suas produções com timidez, e à Record, que parece não ter avançado na agenda em suas tramas.

Recentemente, entre 2020 e 2024, por exemplo, 12 atores negros estiveram em papéis de protagonismo. A quantidade é o dobro quando comparada ao período de 2000 a 2018.

Vale lembrar que a primeira atriz negra a protagonizar uma telenovela na Globo foi Ruth de Souza, em 1969, em “A Cabana do Pai Tomás”, que teve um papel de destaque como a personagem Hannah, esposa de Tomás. Historicamente, contudo, a novela brasileira com a primeira protagonista negra principal e central na trama foi Xica da Silva, em 1976, com a atriz Zezé Motta interpretando a famosa personagem-título, na TV Tupi.

“O que vemos hoje é fruto de uma série de iniciativas que ganharam força nos últimos anos para que o Brasil esteja cada vez mais refletido nas nossas obras”, diz Kellen Julio, diretora de diversidade e inovação em conteúdo dos Estúdios Globo.

A executiva, que atua há mais de 15 anos com responsabilidade social, diversidade, inclusão e comunicação corporativa, liderou a criação da área de D&I da emissora em 2020. Depois, desenvolveu a estratégia do departamento e a transformou em processos, metas e resultados concretos. Em 2024, foi promovida ao cargo de diretoria.  

Confira entrevista do Women to Watch com Kellen.

Nos últimos anos, houve uma importante mudança no cenário das novelas da Globo, com mais protagonismo de mulheres negras. Como a emissora tem avaliado esse movimento?

Esse movimento faz parte de um compromisso da Globo em representar o Brasil e toda sua diversidade em seus conteúdos. O que vemos hoje é fruto de uma série de iniciativas que ganharam força nos últimos anos para que o Brasil esteja cada vez mais refletido nas nossas obras. Isso faz parte da nossa agenda ESG e norteia um conjunto de ações em busca de avanço permanente. 

Os Estúdios Globo buscam reproduzir o universo em que o brasileiro se vê, se reconhece e se inspira, e não há como fazer isso sem dar destaque às mulheres negras, as grandes protagonistas dos lares brasileiros. Temos pela primeira vez três mulheres negras como protagonistas em todas as novelas do nosso horário nobre, e isso é um marco muito importante na dramaturgia brasileira. 

Essa nova geração de atrizes e atores que está no ar representa também nosso investimento constante em mapear, formar e lançar novos talentos, em busca de mais representatividade e pluralidade no nosso elenco. Em todas as obras isso se torna cada vez mais evidente, e celebramos o fato de que em novelas como ‘Renascer’ e, agora, ‘Volta por Cima’, o elenco é composto por quase 50% de pessoas negras. As histórias que retratamos também contam com diretores, autores e criadores artísticos com diferentes vivências, que levam para a tela suas visões e experiências distintas de vida. 

Como tem sido a repercussão do movimento entre o público e anunciantes?

Nossa dramaturgia aborda temas e situações que refletem muito da realidade social e cultural do Brasil e isso gera uma conexão emocional com as pessoas, que se identificam com os personagens e as tramas. Engajamento reconhecido por nossos parceiros do mercado publicitário. Temos resultados bastante positivos quando olhamos para ações publicitárias presentes, de forma contextualizada, em nossos conteúdos, o que mostra que, para as marcas, se apropriar do impacto social das nossas narrativas gera proximidade, conversa e identificação com os consumidores.

O que essa transformação representa para a Globo? 

É um grande privilégio participar deste momento tão especial que vivemos na história da televisão brasileira. Receber o convite do Amauri Soares para me juntar aos Estúdios Globo em 2024 foi um sonho realizado. Estou muito entusiasmada pelo que estamos construindo e pelo nosso contínuo e genuíno compromisso em estar, cada vez mais, representando o brasileiro sem estereótipos e trazendo para as telas a pluralidade de suas vivências. 

Como já falei, isso reflete, na prática, os esforços da empresa no sentido de promover a diversidade e a inclusão em nossos conteúdos e nas nossas equipes. Assinamos o Pacto Global da ONU em 2022 e temos seis compromissos alinhados à Agenda 2030, com metas de médio e longo prazo. Dentre eles, está o compromisso #2: Diversidade e Inclusão: Promover a diversidade e a inclusão em nossos conteúdos e nas nossas equipes. Hoje, é real o avanço da estratégia de diversidade de inclusão, transversal em toda a companhia, com a inclusão de mais diversidade nas equipes: 72% das contratações ao longo de 2023 fazem parte dos grupos sub-representados priorizados pela empresa. Desse total, 46% foram mulheres e 46% pessoas negras. 

As lideranças estiveram focadas em elevar a diversidade nas equipes artísticas e no elenco das nossas produções.  É dessa maneira que buscamos enriquecer as nossas obras com olhares e contribuições críticas variadas. Não só de negros, mas de profissionais de diferentes regiões do país, com histórias de vida, gêneros, sotaques, classes sociais e experiências diversas. 

As histórias das novelas também têm sido mais diversas. Como funciona, atualmente, o processo de criação de narrativas e definição de equipe e elenco dos conteúdos da emissora?

Temos uma série de iniciativas conjuntas que resultam em maior diversidade nas equipes na frente e atrás das câmeras. A diretoria de diversidade e inovação em conteúdo dos Estúdios Globo, criada em 2022, atua de forma transversal e é responsável por influenciar na diversificação, representação e inclusão de todas as comunidades nas telas e nos times criativos. Dentre as iniciativas mais importantes da área está a criação do hub de diversidade e inovação, estruturado para atender todos os gêneros dos Estúdios Globo. Na prática, os líderes criativos passaram a contar com o apoio técnico de um time de consultores especializados nos mais variados conflitos sociais, de maneira ética e em linha com as diretrizes institucionais da Globo. 

Além disso, realizamos um profundo planejamento de renovação e qualificação dos talentos, pesquisando novos profissionais em festivais, escolas de teatros, de roteiros e cinema, em diversas regiões do Brasil. Além de cursos, viagens, workshops e uma série de treinamentos criados para desenvolver e capacitar criadores e elenco para as novas oportunidades e demandas do mercado audiovisual.  A premissa é estarmos preparados para ser cada vez mais um reflexo do Brasil em todas as telas, com um olhar aguçado para nossas vivências e sotaques. Acreditamos que, para seguir no centro das conversas, gerando identificação e engajamento com o nosso público, seja no sofá da sala, no celular ou nas redes sociais, promover a troca de experiências entre nomes consagrados do grande público e lançamentos é o melhor caminho.  

Qual é a visão de futuro da Globo para diversidade e inclusão da empresa e como isso reflete no entretenimento? 

Seguiremos investindo no desenvolvimento de conteúdos valorizando nossos talentos, nossas histórias, a regionalidade e a diversidade que faz parte da nossa cultura. A multiplicidade de talentos e narrativas é fundamental para a nossa busca permanente pela inovação, seja no formato ou na linguagem, para um alcance ainda mais amplo.  

Para ser escolhida todos os dias pelos brasileiros, a Globo precisa estar conectada com o público e ser capaz de retratar a sua diversidade. A premissa do talento vem cada vez mais acompanhada desse desafio de trazer o brasileiro para a composição das nossas obras. Diante e por trás das câmeras.   

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