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Opinião

Protagonistas de nossas histórias

Ser mulher na atualidade é aceitar os desafios não porque somos obrigadas, mas porque somos capazes


2 de agosto de 2024 - 14h14

(Crédito: Shutterstock)

Vamos falar de peito aberto? Ser mulher, nos dias de hoje, é uma arte digna de um espetáculo do Cirque du Soleil. Como uma mistura de malabarista com contorcionista, temos que dar conta de tudo. As pressões externas são reais e se multiplicam numa velocidade muitas vezes difícil de acompanhar. O que não falta são exigências e críticas vindas de todos os lados. E olha que não estou falando apenas da família, do trabalho ou da sociedade. Na maior parte do tempo, estamos apontando o dedo para nós mesmas. Afinal, no fim do dia, depois de tudo, eu quero poder me olhar no espelho e me admirar pela mulher incrível que sou. 

Para que não pareça que estou a ponto de escrever um melodrama, vamos analisar os fatos. Na sociedade atual, a mulher é mãe, esposa, profissional, dona de casa, amiga, cidadã e ainda tem que ter aquela veia de psicóloga, eletricista, animadora de festa infantil e boleira. E, para além disso tudo, ainda precisa cuidar de si mesma. Não me basta ser uma grande profissional e uma mãe amorosa, eu preciso estar com o botox em dia. Nós, mulheres, administramos múltiplos papéis sem reclamar (muito), porque sabemos o quanto somos competentes para isso. Simples assim. Afinal, quem precisa de manual de instruções quando se tem um instinto multitarefa tão afiado? 

Eu, por exemplo, tenho plena consciência da buraqueira em que escolhi caminhar, a começar pela minha carreira profissional. Sempre estudei, batalhei muito e corri atrás das minhas metas com aquela ambição saudável. Como executiva, assumi um cargo importante na Vibra, que me proporciona desafios em nível nacional.  

Administrar um lar em São Paulo e outro no Rio não é bolinho, mas essa foi uma decisão maravilhosa em minha trajetória profissional. Decisão que me fez admirar ainda mais a vida das comissárias de bordo. Isso porque agora eu vivo na ponte aérea, estou sempre tentando me equilibrar em meio a turbulências com um sorriso no rosto e, pra completar, já sou reconhecida pelo cara do raio-x no aeroporto (e nem é meme!).  

Como mãe, eu me desdobro para não apenas me fazer presente, mas para realmente ser parte fundamental na construção de dois grandes seres humanos. Atualmente, preciso acompanhar uma filha de dez anos que virou artista – está ensaiando um espetáculo teatral – e outra de 14 que tem exigido mais minha atenção.  

Aliás, há alguns meses eu vinha procurando alguma atividade para criar uma conexão maior com a mais velha, algo para fazermos juntas. Até que surgiu a oportunidade de participar, com ela, de uma corrida de rua. Não era uma maratona, claro, mas que fique registrado que, em plena manhã de domingo, eu desidratei de chorar ao cruzar a linha de chegada ao lado da minha adolescente. Nesse quesito, pelo menos, fui muito bem instruída. Minha mãe me ensinou a ser mãe. E eu sinto sua mão sobre meu ombro nesses momentos.  

Também sou esposa. Estou em meu segundo casamento, o que ainda me faz pensar em tudo que este precisa ter de diferente do primeiro para dar certo. Meu marido é um homem incrível e, acima de tudo, parceiro. E eu acredito que faz parte de um bom casamento querer se cuidar para o outro. O “botox em dia” não é uma mera questão estética, há todo um contexto em que nos encaixamos. Eu gosto de me cuidar pra mim, claro. E já que eu não tenho o DNA da família Bündchen (eu fiz o teste, deu negativo!), busco fazer meus exercícios e procuro me alimentar bem.  

Nosso bem-estar reflete em todas as áreas da nossa vida. Mas não vou negar que gosto de me cuidar para o meu marido. E por que não? Não julgo quem não liga para isso, acredito que cada um é livre para pensar e agir como bem entender. Mas a unha bem feita, a raiz do cabelo retocada e o batom com ácido hialurônico são desses detalhes que exijo de mim mesma, exijo daquela Vanessa refletida no espelho. Acho importante termos essas pequenas vaidades. Para alguns, pode parecer algo fútil, mas só nós sabemos a pressão que sofremos e como os cuidados fazem diferença na nossa autoestima. 

Há pouco tempo, li um estudo da Grant Thornton mostrando que, em 2022, mulheres ocupavam 38% dos cargos de liderança no Brasil. Em 2019, esse número era de apenas 25%. No mesmo ano de 2022, o Censo Demográfico apontou que o Brasil tem seis milhões de mulheres a mais do que homens. Elas correspondem a 51,5% da população residente no país e ainda chefiam 50,8% dos lares brasileiros. Em muitos aspectos, ainda há um desequilíbrio e algumas injustiças. Nossa força é nítida e essencial, mas temos uma pressão muito maior sobre nós.  

Ser mulher hoje é saber que podemos, sim, alcançar nossos objetivos, ser e ter tudo o que queremos. Mas é, também, entender que, às vezes, é preciso priorizar. Tudo bem deixar a casa um pouco bagunçada para poder tirar um tempo para um jantar com as amigas ou um encontro romântico. Tem dias que eu mesma fico na dúvida se estou mais para um personagem da Marvel ou da Turma da Mônica. O equilíbrio não está em fazer tudo perfeitamente, mas em saber o que é importante para nós em cada momento. 

Fato é que ser mulher na atualidade é aceitar os desafios não porque somos obrigadas, mas porque somos capazes. Capazes de reescrever nossas próprias histórias, de buscar o melhor para nós e para quem amamos, de nos reinventar quantas vezes for necessário.  

A vida pode ser uma montanha-russa, mas a gente entra nesse passeio de gloss e salto alto. Se o mercado de trabalho exige, a gente entrega. Se a família precisa, a gente acolhe. Se o corpo pede, a gente se cuida. E não, não somos vítimas dessa rotina maluca. Somos protagonistas, donas das nossas escolhas e decididas a fazer dar certo. E no final do dia, quando colocamos a cabeça no travesseiro, sabemos que somos verdadeiras heroínas do nosso cotidiano, e isso já é motivo mais do que suficiente para sorrir. 

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