Qual o lugar da criatividade no caos?
À medida que o mundo evolui por meio da tecnologia, surgem fatores que, muitas vezes de maneira silenciosa, têm minado a capacidade criativa das pessoas
À medida que o mundo evolui por meio da tecnologia, surgem fatores que, muitas vezes de maneira silenciosa, têm minado a capacidade criativa das pessoas
27 de março de 2025 - 14h53
(Crédito: Shutterstock)
É comum ouvir que quanto mais difícil é uma situação, mais criativos temos que ser.
Entretanto, à medida que o mundo evolui por meio da tecnologia, surgem fatores que, muitas vezes de maneira silenciosa, têm minado a capacidade criativa das pessoas.
O primeiro deles diz respeito à sobrecarga de informações. A mente, consumida por uma enxurrada 24 horas por dia, muitas vezes se vê incapaz de se aprofundar em um único pensamento capaz de ser desenvolvido dentro de um objetivo, como requer a publicidade.
Além disso, a busca incessante por novidades e atualizações pode gerar uma falsa sensação de produtividade. Mas ficamos tanto tempo consumindo coisas “novas” que falta momento para associar ideias.
A supervalorização das redes sociais também pode ter um papel negativo para este fim. A constante comparação, a busca por validação e o medo de não ser bom “o suficiente” podem inibir a originalidade. As pessoas muitas vezes se sentem pressionadas a seguir tendências ou a criar conteúdos que se alinhem com as expectativas dos outros, em vez de explorar suas próprias ideias e conceitos.
De uma internet que pretendia ser livre, criativa e experimental, passamos a uma internet controlada e que pretende querer prever tudo.
Porém a criatividade precede os dados.
O que é um dado, senão a tradução numérica da reação de pessoas? Pessoas reagindo, comprando, gostando, compartilhando, recomendando, estes gestos é que se transformam num número ou num percentual no seu relatório. “Marca, me dê uma experiência incrível, e eu te devolverei dados incríveis”. Simples assim.
Atuar sobre os dados é fundamental para entender como chegamos até ali e como podemos planejar uma próxima etapa.
E saber gerir é saber analisar e projetar o curto, o médio e o longo prazos.
Percebe como é necessário o olhar experiente de um profissional para separar o conjunto de dados que só expressa volume no curto prazo daquele conjunto de dados que traduzem conteúdos de qualidade que constróem significados?
Existe algo de errado com as ferramentas de aferição de resultados? Óbvio que não. Como tudo que diz respeito à tecnologia, o problema é sempre como a usamos. Não podemos simplesmente seguir “a letra fria” dos dados. Porque com tantas “certezas”, como ter coragem para explorar novos territórios?
Como estimular uma equipe a criar, mesmo que aquilo venha a se tornar um projeto fracassado? E quem disse que não há aprendizado com os erros? Isso também é ingrediente da criatividade.
Quando dou palestras em universidades , é comum me perguntarem “que conselho você dá pra quem vai entrar no mercado de trabalho?”. Minha resposta é sempre a mesma: “Leia. A cada livro que você ler, você vai se sentir diferente. É um conjunto de conhecimentos que você conseguirá compartilhar ao conseguir desempatar um conflito, ao conseguir ganhar a confiança de um cliente, ao conseguir fazer sair algo incrível de uma reunião”. Criar soluções é criatividade.
Hoje, trabalho muma empresa que tem uma biblioteca. Isso é riquíssimo. É um incentivo à exploração de campos diversos de conhecimentos. É um incentivo à interdisciplinaridade.
Por fim, a criatividade também requer tempo. A ideia de que criatividade são estalos, sacadas, é um erro. Em vez de investir horas em um projeto criativo ou em uma atividade que exija mais reflexão, muitas pessoas são obrigadas a chegar em soluções rápidas e imediatas, que são mais “práticas”, e podem até trazer resultado de curto prazo, mas são menos inovadoras. E inovações são fundamentais na sustentabilidade dos negócios no longo prazo.
A gente sabe que a criatividade é esta habilidade essencial para a inovação e para o progresso humano. Quer ter uma empresa criativa? Contrate gestores que saibam conviver com os criativos, estimulando-os, e que consigam neutralizar os chatos. Os chatos são inimigos da criatividade porque são sempre contra o diferente. Contrate ao menos uma pessoa criativa e deixe que ela se encarregará de atrair outras para a sua empresa.
A humanidade já tem inovações demais. O que nos resta agora é saber usá-las para não cair na pasteurização. Não existe “inovação pré-testada”. Só a criatividade pode dar conta disso.
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