Quem são as inspirações de lideranças femininas negras

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Quem são as inspirações de lideranças femininas negras

Fernanda Ribeiro, Helena Bertho, Viviane Duarte e outras executivas homenageiam mulheres negras que fizeram a diferença em suas carreiras


25 de julho de 2024 - 8h00

A pauta de igualdade racial e de gênero nas empresas tem sido cada vez mais debatida no mês de julho, embora a efeméride tenha sido criada há 10 anos, em 2013, pela organização negra feminista Odara – Instituto da Mulher Negra. A ação, batizada de Julho das Pretas, ganhou amplitude nacional ao impulsionar o dia 25 como Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha no Brasil e tem a missão de fortalecer as mulheres negras em todas as esferas da sociedade. 

Já o Dia da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha foi instituído em 1992, durante o histórico 1º Encontro de Mulheres Afro-Latino-Americanas e Afro-Caribenhas em Santo Domingo, República Dominicana. No Brasil, desde 2014, a data também celebra oficialmente o Dia de Tereza de Benguela e da Mulher Negra, homenageando a rainha do Quilombo de Quariterê, no Mato Grosso, no século 18.  

No mundo corporativo e na indústria da publicidade, ainda há muito a ser feito — e não apenas em julho, mas ao longo de todo o ano. Um estudo da consultoria Gestão Kairós revela que, no Brasil, as mulheres negras são apenas 3% entre os líderes nas empresas. Nas agências de publicidade, apenas 4,6% das pessoas do gênero feminino em cadeiras de lideranças são negras, e menos de 1% têm uma mulher negra como CEO ou presidente, segundo levantamento do Observatório da Diversidade na Propaganda. 

Os dados apontam para a necessidade de ações e políticas efetivas para promover mais inclusão racial e de gênero nas empresas. Além disso, é fundamental inspirar e motivar a mudança. 

Para marcar a data, convidamos lideranças femininas negras a homenagear a trajetória de outras mulheres negras que as inspiram na carreira. 

Assertividade, empatia e impacto social

Fernanda Ribeiro, CEO da Conta Black

(Crédito: Larissa Isis)

“Nasci em um berço feminino e negro. São quatro irmãs, minha mãe e uma tia-avó. Elas foram inspiração e grandes mentoras ao longo da minha vida. Então sempre busquei inspirações femininas na minha jornada profissional. Atualmente, gosto de me inspirar na Teri Williams, uma mulher negra do mercado financeiro que lidera o maior banco fundado por negros nos EUA [OneUnited Bank]. Seu modelo de liderança assertivo, empático e com olhar para a transformação social, seu posicionamento e o fato de ela ter liderado processos importantes de mudança no modelo de negócios do banco me fazem admirá-la.”

Inspiração e resultados

Helena Bertho, diretora global da Nubank 

(Crédito: Divulgação)

“Profissionalmente, quem mais me inspirou e ainda inspira é minha mãe. Quando penso que liderança é sobre inspiração, alavancar outras pessoas, resultados superiores e além do que faz, como faz, ela é role model. Ela foi excelente em tudo o que fez. Trabalhou boa parte da vida como empregada doméstica, foi ‘rodomoça’, vendedora, auxiliar de biblioteca – aqui ela me ensinou a amar livros.” 

Conexão, gentileza e solidez

Heloisa Santana, presidente executiva da Ampro 

(Crédito: Divulgação)

“Antes de conhecer Dilma Campos, CEO da agência Nossa Praia e conselheira da Ampro, já tinha muitas referências sobre ela em diversos ambientes. O que me faz mencionar essa profissional, conselheira e amiga é o impacto social significativo que ela gera por meio do trabalho. Dilma tem uma capacidade extraordinária de conectar pessoas e impulsioná-las, independentemente das circunstâncias, sempre com gentileza e fundamentação sólida. Ela se destaca em pautas como políticas de diversidade e inclusão, empreendedorismo, mentoria, capacitação, desenvolvimento de cultura organizacional e, essencialmente, no combate ao racismo. Essas qualidades fazem dela uma líder genuinamente horizontal, que deixa sua marca em todos os ambientes onde está presente. Um salve para essa pessoa incrível.” 

Pioneirismo, ternura e visão

Kamila Camilo, delegada do W20 e líder do tema Justiça Climática 

(Crédito: Divulgação)

“A mulher negra que inspirou a minha carreira foi Ngozi Okonjo-Iweala, atualmente à frente da WTO (World Trade Organization). Em tempos onde mulheres sequer assumiam posições relevantes na política e menos ainda em organizações que desenham o futuro dos negócios, ela é revolucionária. Ela é uma economista nigeriana que trilhou sua carreira até uma das organizações multilaterais mais importantes do mundo sem perder a ternura, o propósito e a visão de futuro.

Quando a conheci, durante o fórum econômico mundial de 2022, ao ser perguntada sobre o desafio de ter sucesso e manter a família, ela respondeu: ‘não desisto de ser feliz e me realizar’. Ela também nos deu um conselho para ter um relacionamento saudável, que foi ‘seja sincera com o quanto você traz para a mesa diariamente. Há dias em que tudo o que temos parece pouco para o outro, mas é tudo o que temos’.

Uma outra mulher que me inspirou muito no maior clichê foi a Oprah Winfrey. Ela sofreu muitas violências, assim como eu, mas não se deixou ser definida por elas, e isso mudou tudo. Admiro a capacidade que ela tem de ler um espaço, se adaptar e se sobressair. Ela é magnética, conectora e tem muito brilho no olhar.”

Projeção e dimensão

Liliane Rocha , CEO da Gestão Kairós

(Crédito: Arthur Nobre)

“As duas lideranças femininas que são minhas referências, certamente, são Michelle Obama e Oprah Winfrey. Temos mulheres negras brilhantes no Brasil, destaques imensos, porém, devido ao racismo estrutural, ainda não alcançaram em plenitude o lugar onde poderiam estar. Nos Estados Unidos, por uma série de fatores e apesar de todo o racismo estrutural que também existe — há coisas muito comuns e muito distintas no racismo e na forma como ele ocorre nos dois países —, há a possibilidade de haver uma mulher negra primeira-dama de uma das maiores potências econômicas mundiais, e outra mulher negra que é uma das maiores comunicadoras globais. A Oprah ainda construiu um patrimônio bilionário, e isso a coloca como uma das mulheres mais influentes e ricas do mundo.

Como acredito no ‘moonshot’ e trabalho, luto e vivo para que a gente consiga ter representatividades tão imensas e extraordinárias aqui no Brasil, o meu ‘moonshot’ vai lá nos Estados Unidos para que a gente consiga, apesar de todo o racismo estrutural que temos no país, construir representatividades tamanhas em dimensões quando falamos de ocupar lugares de poder. Não de talentos, não de intelectualidade ou potência, porque isso a gente tem aqui. Mas ainda não alçamos, mas iremos alçar, os maiores postos de poder e tomada de decisão.”

Produto preto e equilíbrio

Marta Celestino, CEO da Ebony English 

(Crédito: Larissa Isis)

“A Fernanda Ribeiro, da Conta Black, é uma das minhas maiores inspirações. Ela tem um produto preto, um banco preto. Quem fez banco preto no Brasil? Só a Fernanda e o marido dela. Fora que, com a pandemia, tenho uma relação de trabalho 100% online. Não tenho mais colegas de escritório. Então, quando preciso sair e me vestir, vou atrás de uma amiga para conversar ou de uma referência do que estão usando. E a Fernanda é um exemplo de moda materializada. Vou logo atrás de saber o que ela esta usando.  

A Juliana Oliveira, da Oliver Press, também é maravilhosa. Ela tem filho, marido, viaja, tira férias e trabalha. Então é possível ser uma mulher executiva, andar bonita e arrumada como ela anda e ter família. Ela desfaz o mito de que se você faz sucesso na carreira não faz sucesso na vida pessoal, e eu já ouvi isso. Uma colega profissional falou que se até os 30 anos ela não fosse diretora, a carreira dela estaria arrasada. Só que ela fez 30 anos sem ser diretora. É grave a coisa. Então, não acredito nisso.”

Identidade e poder das palavras

Viviane Duarte, CEO da Plano Feminino

(Crédito: Divulgação)

“Sempre olhei a carreira da Oprah Winfrey com muita admiração, por ser também uma comunicadora e acreditar demais no poder das palavras. Ela construiu um império e sem perder sua identidade. Isso é inspirador. Adorei ouvi-la falar num evento que estava presente sobre não ter medo de falar sobre dinheiro e nem receio de ser próspera. Não precisamos nos diminuir para que o outro fique confortável e ela ensina isso. E teve esta frase: ‘Não acredite na síndrome da impostora, pois você está exatamente onde deveria estar’. Precisamos cada vez mais de mulheres que tenham coragem de ser que quiserem ser.”

Clareza, influência e reconhecimento

Luciene Rodrigues, gerente de relações institucionais do Mover

(Crédito: Divulgação)

“Para mim, uma liderança inspiradora é aquela que exerce empatia, que consegue saber ouvir e resolver situações, tendo a sensibilidade de se colocar no lugar do outro. Tenho duas lideranças que me inspiram: a primeira é a Helena Bertho, diretora global de Diversidade e Inclusão no Nubank, com quem tive a oportunidade de trabalhar na Coca-Cola. Sempre me vi muito na Helena porque, para além de ser uma mulher negra, nascida e criada no subúrbio do Rio de Janeiro, ela sempre traz em seus discursos a importância que a família dela tem. Então temos muitos valores em comum, e a história dela me inspira exatamente por ser de alguém em quem consigo me reconhecer. 

Helena fala com muita maestria e tem muita clareza na forma como se comunica, conseguindo navegar por diferentes espaços e entre diferentes públicos. Se estiver falando com presidentes, ela sabe usar a linguagem adequada. Se for com jovens aprendizes, também. Isso me cativou. Em 2022, ela ganhou um prêmio como uma das 100 pessoas afrodescendentes mais influentes do mundo e eu tenho muito orgulho de poder chamá-la de amiga.  

Outra pessoa que foi bem importante no meu processo de desenvolvimento de carreira foi a Debora Mattos, da Coca-Cola. Hoje, ela atua no Chile, mas teve papel fundamental no meu crescimento, pois foi quem pegou na minha mão e disse: ‘preciso que seu nome surja na mesa da diretoria quando estivermos discutindo sobre ‘talentos’ e eu quero te desenvolver’. Costumo brincar que a Débora me escolheu para ser mentorada ao invés de eu tê-la escolhido como mentora. Sempre vou reconhecer e ser grata por ela ter exercido esse papel importante na minha vida, e por ter me ajudado no processo de decisão da minha transição de carreira de marketing para impacto social.”

Autoconhecimento, autoestima e protagonismo

Ednalva Moura, gerente de relações institucionais do Pacto de Promoção da Equidade Racial 

(Crédito: Divulgação)

“Na juventude, me inspirei na Neusa Santos Souza, por meio do livro ‘Tornar-se Negro’. Fez muita diferença quando eu estava trabalhando a minha identidade e o meu autoconhecimento na década de 1990. Naquele momento, também compreendi a importância do conhecimento. A Neusa trouxe um lado intelectual muito comprometido com a questão racial em uma época distante da que vivemos hoje. Então, ali, comecei os primeiros movimentos dentro da minha comunidade, investindo em jovens negros e trabalhando cultura afro.  

Fui professora de dança, catequista, e sempre trouxe recortes de identidade, autoestima e autoconhecimento, pois são relevantes para qualquer lugar onde quiséssemos pensar no nosso protagonismo e na nossa carreira. Primeiro, a gente precisava ter segurança de quem nós éramos. Ela me acompanha desde então, mas fiz uma escolha um pouco diferente. Sou, sim, ativista, trabalho hoje numa organização por propósito, vinculada ao mundo corporativo. Na leitura que faço sobre o momento e o racismo estrutural, era urgente e emergente que nossas vozes e nosso movimento acontecessem dentro do mundo corporativo. Então, entendo que minha conexão com o setor, principalmente por meio da associação, faz eu hoje estar muito conectada ao meu projeto de vida e carreira, que é levar cada vez mais negros e negras para o mercado de trabalho formal e para o empoderamento. Que a gente possa mitigar essa história de racismo tão estrutural que existe. Esse é o ponto e é isso que me inspira e me fortalece.”

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