Rafaela Alves: da perspectiva do anunciante à cadeira de agência
Em busca de uma visão transversal da comunicação, a chief media and digital officer da AlmapBBDO trilhou uma carreira diversa em áreas e segmentos
Rafaela Alves: da perspectiva do anunciante à cadeira de agência
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Meio & Mensagem
20 de agosto de 2024 - 7h34
Filha de um engenheiro e de uma professora de Artes, a atual chief data media officer da AlmapBBDO, Rafaela Alves, se define como uma profissional que traz em sua personalidade uma mistura entre o lado humano e criativo, com traços pragmáticos e racionais. Isso a fez querer ter uma visão transversal do marketing, área em que atuou do lado do anunciante, somando passagens por Claro, Fundação Dom Cabral e TIM, e de agência.
“Sou apaixonada pelo consumidor. Meu olhar está sempre direcionado às pessoas. Quero entender os caminhos. Quando olho para o marketing e para a comunicação, meu drive sempre foi olhar para a criatividade, para a diferenciação e para inovação”, diz.
Formada na Uni BH, em Belo Horizonte, Minas Gerais, Rafaela cursou Jornalismo, mas puxou para sua grade matérias de publicidade, já que, desde o início da graduação, sabia que queria ter uma visão geral do que era a comunicação. Isso fez com que a executiva trouxesse para a sua percepção o business como um diferencial para o seu dia a dia.
Como inspiração, Rafaela traz em sua bagagem pessoas de todos os lugares pelos quais passou. “Seria injusto nomear uma pessoa. Em uma indústria dinâmica e em constante movimento, fragmentos diversos me inspiram diariamente. Gestores, pares, equipe, amigos da indústria. Todos me ajudam a construir uma visão da Rafaela do futuro e sou curiosa e ávida pelo novo”, afirma.
Fiz o caminho contrário da maior parte das pessoas. Fiquei pouco mais de 24 anos como cliente e sempre tive a perspectiva do que era necessário para o impulsionamento do business. Quando migro para uma cadeira da agência, consigo entender quais são os planos de latência dentro do anunciante e quais são os gaps e as oportunidades que a agência poderia criar para atender a isso. Um dos pilares que venho trabalhando é sobre a construção de uma área de martech, que é como, por meio de uma dor do cliente e do negócio, consigo unir tecnologia e inovação para impulsionar o negócio. Isso pode estar atrelado a algum pilar de comunicação ou não. Consigo, por ter passado pela cadeira do cliente, entender qual é a necessidade. Passei por setores diversos dentro do cliente, tenho visão generalista: já fui responsável por criatividade, mídia, dados, tecnologia, e-commerce, trade e eventos. Tudo isso me dá visão holística de comunicação.
A minha transição se deu de uma forma não planejada, mas ficou claro que existia uma necessidade de construção no lado da cadeia. Sempre fui movida por inovação, não queria me tornar expert de uma indústria. Hoje, olho para 30 marcas em segmentos diferentes. Vivemos esse movimento de transformação do lado das agências. A minha transição se deu de uma busca incessante minha de liderar e pivotar inovação.
Fui criada por pais progressistas, em um ambiente onde meu pai e minha mãe sempre tiveram a mesma posição, dentro de casa, na educação afetiva e financeira. Nunca houve um papel diferente do masculino e do feminino para mim. Isso fez com que eu entendesse e internalizasse na minha vida que não existem diferenças ou papeis diferentes. Isso eu faço com meu time, com as mulheres que convivo. Tenho duas enteadas e mostro para elas que existem desejos e não existem limites entre o que é para homens e para mulheres.
O que faço com meu time é garantir que todo mundo tenha voz. Sou obcecada para garantir que exista equidade de gênero entre o time. Porque pode ser até bonito falar que damos voz, mas não adianta olhar para o lado e ter um time que é 70% masculino e só 30% feminino, ou que exista discrepância salarial entre homens e mulheres. O que faço diariamente para empoderar essas mulheres é mostrar que não existe diferenciação no meu time, que existe equidade, que todos eles têm voz e que não existe essa barreira imaginária que a sociedade nos impôs por todos esses anos.
Nós, mulheres, não engolimos sapos, temos quase um estômago de brejo. Fomos criadas para aprender a engolir. Se pensar em quase todos os meus empregos, nos meus dez ou quinze primeiros anos de carreira, passei por alguma situação em que tive que trabalhar duas ou três vezes mais do que um homem que fosse meu par. E isso não é um privilégio meu, todas passamos por isso. Especificamente, tive situações em que tive de fazer a mesma apresentação inúmeras vezes enquanto um homem fez a mesma defesa e precisou de apenas uma vez. Já tive que pedir para que a pessoa prestasse atenção nos meus olhos, e não nas minhas pernas; já passei por situações em que tive que pedir que a pessoa me chamasse pelo meu nome, e não por um apelido.
O maior desafio é como você sempre precisa se posicionar em situações em que nenhum homem precisa pensar. Somos educadas para estar preparadas para lidar com algumas situações que eles não precisam. Temos que estar atentas ao ecossistema como um todo. Se você se depara com uma situação dessas, o primeiro ponto é se posicionar. A primeira coisa que eu diria é para respirar, para não ser taxada como descontrolada, e para que se posicione com palavras claras. Pare uma reunião, se for necessário. Reuniões podem ser interrompidas, conversas podem ser pausadas. Não temos que ter medo de ser mal avaliadas ou julgadas por essas situações.
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