Raquel Virgínia: “Uma empresa sustentável precisa considerar a diversidade”

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Raquel Virgínia: “Uma empresa sustentável precisa considerar a diversidade”

A trajetória da executiva com as marcas e com o mundo da publicidade começou ainda durante a carreira de seis anos como cantora premiada


30 de agosto de 2022 - 10h27

Por Caio Fulgêncio

Raquel Virgínia, CEO da Nhaí, é uma das lideranças homenageadas pelo Women to Watch 2022 (Crédito: Kiko F)

Do sonho adolescente de cantar axé em Salvador à criação da Nhaí, agência de gestão de cultura que se propõe a mostrar ao mercado de comunicação a diversidade como uma mina de ouro de oportunidades. A trajetória — e a aproximação — da cantora paulistana Raquel Virgínia com as marcas e com o mundo da publicidade começou ainda durante a carreira de seis anos no trio As Baías (inicialmente chamado de As Bahias e a Cozinha Mineira), com o qual foi indicada duas vezes ao Grammy Latino, além de vencer diversas premiações, como o Prêmio da Música Brasileira, Bravo, Folha de S.Paulo e Multishow.

Com o término do grupo musical no ano passado, Raquel decidiu direcionar a vida em prol da oxigenação do mercado, propondo soluções para a construção de uma comunicação mais diversa. “Vivemos um momento de grandes discussões sobre sustentabilidade e uma empresa sustentável precisa considerar a diversidade”, diz.

A proposição de construir caminhos ganhou corpo na formação estrutural da Nhaí, composta por um time de pessoas pretas e LGBTQIAP+. É a diversidade de olhares que baliza o próprio modelo de negócio. Não se trata, segundo ela, de uma empresa militante, mas da criação de oportunidades comerciais a partir das vivências desses grupos. “Comercializamos as nossas perspectivas com projetos baseados no storydoing”, explica.

Poucos meses depois de ganhar vida, a Nhaí lançou o Contaí, um dos seus principais projetos proprietários, que funciona como uma plataforma de aceleração de negócios de empreendedores negros e LGBTs, cujos encontros já tiveram patrocínios de marcas como Ambev, Avon, Magazine Luiza e Meta. Em janeiro deste ano, na edição piloto, o Contaí! foi voltado para a população trans que empreende. Em março, o evento focou em mulheres LGBTQIAP+ donas de negócios e, em julho, se estendeu para toda a comunidade. As próximas duas edições estão marcadas para novembro, em Salvador e Tiradentes. Em versões semanais menores, empreendedores se encontram virtual ou presencialmente para a troca de experiências. “Estamos construindo um ecossistema de relacionamento”, complementa.

 

Como sua história de sucesso na arte agrega ao trabalho na comunicação, com a Nhaí, e, consequentemente, ao mercado?

É um dueto de criação e coragem. As Bahias e a Cozinha Mineira sempre ocupou um lugar inovador na música. A crítica sempre foi aberta às nossas produções e acho que foi muito por causa da união desses fatores. Como artista, gostava muito de conversar com as marcas, de participar das discussões e de todo o arco comunicativo de uma produção. Isso acabou me trazendo para esse mercado do marketing e da publicidade. Participar do contorno narrativo completo torna, de fato, os produtos legítimos. Além disso, o fato de eu ser cantora e ter tido um percurso de sucesso faz com que muitas portas se abram com mais facilidade. Foi muito tranquilo dialogar com marcas com elas entendendo quem eu sou e o que já tinha feito na minha carreira.

Como a sua vida empresarial contribui para que as marcas entendam a diversidade como um campo rico de oportunidades?

Precisamos pensar no que é um projeto sustentável no mundo ocidental no século 21. Não vamos conseguir seguir em frente de maneira saudável se não formos uma sociedade mais inclusiva. Dentro dessa inclusão, existem muitas oportunidades comerciais para diversos setores, ramos e grupos. Por causa disso, precisamos ser mais estratégicos e inovadores. Então, para ser uma empresa que pautará as questões do século 21, vai ser necessário falar de diversidade. Não é uma questão filantrópica, é uma questão de oportunidades de negócios, que vai fazer com que a sua empresa, além de ter um propósito, lucre mais. Nesse sentido, eu acho que a Nhaí pode contribuir para outras companhias, conseguindo ampliar esse repertório.

Você tem em sua trajetória a característica forte de um ativismo que vai além do discurso. De que forma levantar bandeiras, como a da diversidade, pode modificar o mercado?

Estamos vivendo em uma época em que as pessoas querem legitimidade. É muito bom que queiramos propósitos legítimos. Na história das empresas no mundo, sempre existiram esses movimentos e acredito que podemos trazer coisas que podem ser benéficas. É nessa direção que, hoje, eu carrego o meu ativismo. Já tive várias fases como uma pessoa ativista. Tive momentos mais duros, até porque o meu contexto pessoal era mais duro. Logo, obviamente, eu trazia uma dureza maior. Hoje, estou em um lugar de privilégio em que posso construir pontes e estabelecer diálogos entre as marcas e a comunidade. Eu flutuo por esses universos. Nesse sentido, contribuo para alguns avanços que, por menores que possam parecer, são grandes para que esse mercado, que ainda é bem conservador, possa se modernizar, se flexibilizar ao entender as pautas e compreender que as coisas podem ser legítimas sem perder o apelo comercial. Acredito que é uma onda que vai ser estrutural. Estamos mexendo com as estruturas.

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