Regras ou não?
Existe aquilo que funciona para mim e não para você, e vice-versa. E a percepção do que é bom para um ou para outro só pode ser discutida individualmente
Existe aquilo que funciona para mim e não para você, e vice-versa. E a percepção do que é bom para um ou para outro só pode ser discutida individualmente
3 de agosto de 2022 - 8h47
Quanto mais passa o tempo, mais eu noto em mim uma aversão a tudo o que é muito certinho e pré-definido. Não sei se você que também passou dos 40 compartilha da mesma opinião, mas pra mim é cada vez mais chato encher meu HD com regras, listas e afins. Minha mente não tem mais espaço pra esse tipo de conteúdo e isso tem influenciado muito a minha maneira de trabalhar.
Desde que comecei a dar coaching e treinamento em storytelling tenho participado de muitas palestras e workshops para aprender como tratam esses temas por aí, para observar a resposta do público e trocar experiências com quem já está no mercado há tempos.
Grande parte do conteúdo que vejo responde às necessidades das empresas e indivíduos que estão comprando: deve ser prático, fácil de assimilar e escalável, ou seja, poder ser repassado com agilidade às equipes, parceiros, clientes.
E, na minha opinião, com esse briefing em mãos, a oferta acaba nunca surpreendendo de fato. É quase sempre um pacote de sessões com afirmações do tipo “o que fazer para atingir aquele objetivo” e uma lista de dicas que todos anotam prontamente. Depois do evento, treinamento ou reunião, o público transforma suas anotações em uma mini-apresentação ou documento, e compartilha com colegas e clientes, escalando o tal conteúdo.
Ora, se isso funcionasse, de fato nossos problemas teriam acabado, não é mesmo? Tantas fórmulas são compartilhadas que poderíamos nos converter em uma grande fábrica produtora de soluções em massa.
Fato é: não há fórmula para nenhum tipo de sucesso. Regras não nos ajudam a sermos melhores e superarmos os demais. Na verdade, muitas delas tiram a nossa originalidade e espontaneidade.
Por outro lado, existem milhares de opções e caminhos alternativos que podem te levar àquele mesmo fim (sucesso, ou o que mais desejar).
Existe aquilo que funciona para mim e não para você, e vice-versa. E a percepção do que é bom para um ou para outro só pode ser discutida individualmente.
Com isso em mente, comecei a fazer as minhas apresentações e sessões dentro de um outro padrão: o do “não”. Coisas que não devemos fazer, coisas que devemos evitar. Deixam de ser regras, passam a ser sugestões. A gente tende a memorizar mais o que não devemos fazer, já que instintivamente queremos deixar abertas as opções do que fazer.
Um exemplo: quando alguém te fala “não deixe o Uber pegar aquele caminho porque é perigoso”: ninguém está dizendo que vai acontecer algo com você se decidir usar o caminho. Está apenas sugerindo que aquela pode não ser a melhor opção e que certamente há tantos outros para arriscar.
Ou seja, possivelmente, seguir o conselho do “não faça isso” vai te deixar aberto para diversas outras possibilidades de “sim”, que você poderá refletir com seus botões ou em sessões de coach, terapia e mesas de bar, ouvindo e trocando a experiência com outros, sem esperar que repetir a mesma escolha de alguém vá te trazer o mesmo resultado.
Deixo aqui um trecho do roteiro de uma dessas apresentações que fiz, porque quero saber a sua opinião: você acha que as fórmulas positivas “faça isso para atingir aquilo” funcionam ou prefere as negativas “faça o que quiser, apenas não faça isso”?
Trecho do roteiro:
O que não fazer quando tudo o que esperam de você é uma boa história (para quem quer ser bom em conversa fiada, em papos sociais, em grandes apresentações e entrevistas de emprego)
– Não coloque o seu passado no centro da narrativa
– Não saia contando uma única história para todos
– Não conte fatos que não te levam ao objetivo desejado
– Não se desculpe
– Não chame atenção para suas inseguranças
– Não obedeça às regras (o que fazer com as mãos, como falar, como andar)
– Não tenha medo de mostrar suas emoções
O roteiro não está detalhado porque é rico em histórias, mas as sugestões de “não” são claras e úteis, e por enquanto a proposta tem funcionado muito bem.
Vou adorar ouvir seus comentários. Não deixe de compartilhar comigo o que achou 😉
Compartilhe
Veja também
Como as marcas podem combater o racismo na publicidade?
Agências, anunciantes e pesquisadores discutem como a indústria pode ser uma aliada na pauta antirracista, sobretudo frente ao recorte de gênero
Cida Bento é homenageada pela Mauricio de Sousa Produções
A psicóloga e ativista vira personagem dos quadrinhos no projeto Donas da Rua, da Turma da Mônica