Renata Gomide destaca o papel da indústria da beleza na transformação de padrões
VP de Consumer do Boticário conta como equilibra a entrega de resultado no dia a dia e uma agenda de futuro
Renata Gomide destaca o papel da indústria da beleza na transformação de padrões
BuscarVP de Consumer do Boticário conta como equilibra a entrega de resultado no dia a dia e uma agenda de futuro
Marina Vergueiro
21 de agosto de 2023 - 9h15
Graduada em Administração pela Faap, pós-graduação em Marketing pela ESPM e Gestão Estratégia pela FGV, Renata Gomide é uma profissional que está em busca de novas tendências que a ajudem a apoiar suas decisões de negócio. Assumiu em 2022 como vice-presidente de consumer do Grupo Boticário e, atualmente, é responsável pelas mais de 60 marcas do portfólio da companhia, conduzindo a estratégia de produtos, mercado, branding, comunicação, loyalty e pricing.
Antes de ingressar no setor de beleza, Renata passou 13 anos no Grupo Pão de Açúcar, onde se desenvolveu como profissional, atuando em diversas funções. “Digo que, no varejo, cada ano parece dez, porque é muito dinâmico. Como passei por todas as marcas lá, acho que foi minha grande escola”, conta. Em 2019, Renata passou a ocupar o cargo de diretora de marketing da Eudora, marca que naquela época tinha apenas dois anos de existência. “Gosto de enxergar os desafios na carreira como presentes. Me interessei pela proposta porque era, basicamente, construir uma marca que ninguém conhecia. Muito do que me atraiu ter vindo para o Grupo Boticário foi poder construir alguma coisa do zero, algo embrionário. Tinha a responsabilidade de fazer essa marca ser conhecida e desejada pela brasileira”. Cerca de um ano mais tarde, Renata assumiu como head da Quem Disse Berenice?, marca de maquiagem 100% alocada em lojas de shopping. Era 2020 e a pandemia de Covid-19 assolava o mundo com lockdowns por todos os lados. “Como é que vou vender batom com a loja fechada e as pessoas usando máscara?”, se perguntou. Foi, definitivamente, um dos momentos mais desafiadores de sua carreira. “Tinha que, ao mesmo tempo, liderar um time que ainda não conhecia, conseguir entender qual era a forma da gente conseguir continuar tracionando a marca e a venda com 200 lojas fechadas e, ainda, assumindo um negócio novo na área comercial”.
Renata entende sua posição de vice-presidente de consumer do Grupo Boticário como uma área de construção do futuro da empresa, porque está 100% ligada aos hábitos do consumidor, olhando constantemente para as tendências de mudança de comportamentos e inovação. “O maior objetivo é ter o equilíbrio entre a entrega do resultado no dia a dia e uma agenda de futuro. A gente precisa ser obcecado por entender esse consumidor, como é que podemos atuar sobre a dor dele, criar novas necessidades, tendo em vista que é preciso entregar o dia a dia e performar também”, frisa.
Meio & Mensagem – Você foi contratada ainda grávida na Eudora. Como foi esse processo?
Renata Gomide – Gosto bastante de falar sobre isso, porque, ainda nos dias de hoje, não é uma coisa tão natural para todas as empresas. É uma história que gosto de contar para inspirar líderes, que, ainda, talvez não tenham essa visão. Participei do processo seletivo e depois de uns três meses, de algumas entrevistas, me ligaram fazendo a proposta. Eu tinha descoberto um dia antes que estava grávida, nem minha família sabia. Então, disse assim: “Vocês estão com o desafio de construir uma marca, uma expectativa muito alta sobre a entrega do resultado, fiquem super à vontade de avaliar”. Em seguida, me ligaram dizendo que é uma empresa de mulher, construída para mulher e que não fazia o menor sentido minha gravidez ser um problema. Essa resposta foi o motivo final para a minha decisão. Já estava orientada e supermotivada para ir, mas foi muito bom ver esse tipo de comportamento por parte da empresa naquele momento.
M&M – Quais são os maiores desafios de liderança no setor da beleza? Renata Gomide – É um mercado muito resiliente, que cresce constantemente. A brasileira é muito vaidosa e consome muitos produtos. Isso faz com que existam muitas marcas. A barreira de entrada é pequena para você fazer um batom. Então, a todo momento existe um monte de marcas aparecendo. O que procuro trabalhar no time é garantir que eles estejam conectados realmente de uma maneira muito forte com o que está acontecendo, porque as marcas estão brotando e a consumidora está experimentando. Existe uma verdade que é o fato de a consumidora misturar marcas e se a gente não estiver 24 horas conectado, pensando e prestando atenção nessa mulher, a gente perde a jornada dela. O que procuro fazer é que sejamos sempre muito humildes para entender que o jogo nunca está ganho. A gente precisa se desafiar o tempo todo, esse é um olhar que o profissional de marketing tem que ter.
M&M – Qual o papel da indústria da beleza na aceitação de corpos reais? Renata Gomide – Gigantesco. Digo que essa foi uma indústria que historicamente sempre reforçou os padrões de beleza e ela tem a responsabilidade e a obrigação de puxar essa agenda e fazer o papel contrário. Acho que, nos últimos anos, temos visto uma agenda muito positiva de trazer representatividade, de valorizar a beleza individual. Esse é o nosso papel, é a valorização da beleza plural, pois é uma indústria que tem uma atuação muito forte e um impacto muito grande na autoestima da mulher. Nossa obrigação é conseguir dar a ferramenta para essa mulher se aceitar, mais do que isso, ser quem ela quiser ser. E aí entra a história da representatividade nas campanhas, no produto, em todo o portfólio. Quando a gente dialoga com a consumidora, traz conteúdo sobre isso nas nossas redes, tudo isso é impacto, é ajudar a mulher a se aceitar do jeito que ela quer ser. A transição capilar, por exemplo, é outro tema supersensível. As mulheres alisavam o cabelo todo, e agora estamos vendo uma valorização do cabelo da forma que ele é, o crespo, o encaracolado, o ondulado. É muito legal ver que hoje têm produtos para todas as mulheres porque elas querem valorizar o cabelo que elas têm. E nós temos a obrigação e a responsabilidade de liderar essa agenda e ajudar essas mulheres a garantir a autoestima.
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