Ser, simplesmente ser
Como superar nossa síndrome de impostora e ocupar o espaço que queremos para nós mesmas
Como superar nossa síndrome de impostora e ocupar o espaço que queremos para nós mesmas
23 de março de 2023 - 9h39
Crédito FGC-Shuttestock
Não, calma, eu sou escritora. Assim eu pensei em me defender de uma situação constrangedora.
Mas pera, eu sou escritora? Uma sensação boa e ao mesmo tempo de total inadequação me arrebatou na hora, um meio sorriso de satisfação e um meio sorriso de vergonha de falar em voz alta, mesmo dentro da minha cabeça.
Eu vou voltar aqui nesse tema específico, mas antes vale falar das minhas, das suas, das nossas quase certezas.
O que precisamos para nos sentirmos prontos para alguma coisa? Para simplesmente nos sentirmos alguém? Como superar esse sentimento de insegurança que nos invade quando ainda não fomos suficientemente referendados e reforçados pelo mundo externo? Hummmmm… Então é o mundo externo que nos outorga papéis e funções e que somente nossa decisão não é suficiente? Nosso sentimento de ser não é suficiente? Somente o júri popular constantemente implantado pode dar esse veredito? E pode tirar também a qualquer momento. Nossa! Que medo!
Entendendo que também fazemos parte da banca de todo o resto da humanidade, estamos lá emitindo decretos, outorgando papéis, sacramentando e destituindo funções, carimbando e rasgando quase certezas.
Julgamos nas mais diversas áreas, seja isso algo intrínseco ou não, seja um papel na arte ou na vida (sou palhaça, atriz, bailarina, roteirista, diretora) ou na essência mesmo, ou na sexualidade mesmo, ou em qualquer canto mesmo.
Eita! Como abrir mão de tanto julgamento? Sim, porque não tem como começar pelo inverso, não tem como começar pedindo para ninguém te julgar, sendo você, sendo eu, uma julgadora de mão cheia, mesmo que eu queira pensar que não, que faço diferente.
Então, vamos voltar mais um passo para atrás e começar trazendo à consciência nossa condição nessa existência de vingadores e julgadores. Esse caminho também é complicado, mas necessário. Já sinto minha ansiedade quicando em mim, então com calma, respiro. Expiro e inspiro. Barulho do ar entrando e saindo… Fuuuuuuuuu….
Baby steps. Sempre em uma longa caminhada, baby steps.
Vamos começar por nós mesmos, por olhar essas quase certezas para ver o que fica de pé.
Essa função, esse papel, vale para tudo? Será que sou escritora? Será que sou mulher? Será que sou cis? Será que sou trans? Será que sou lésbica? Será que sou bi? Tem coisa que você simplesmente é, independente do que quer te digam, te questionem ou te peçam, tem quase certezas que só habitam o mundo do quase porque aceitamos que nos imponham esse lugar.
Têm um poeta austríaco chamado Rilke que respondia uma carta de um jovem escritor perguntando como ele poderia ter certeza se ele era ou não escritor, e o Rilke respondeu que se ele não pudesse deixar de ser, então ele simplesmente era e ponto.
Portanto, que sejamos e ponto. Eu vou começar pelo que sinto ser, sou mulher, sou bi, sou nortista e sou escritora. E você? O que você simplesmente é e ponto?
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