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Opinião

Só por diversão

Já pararam para se perguntar qual foi a nova atividade que começaram, na maturidade, apenas para se divertir?


2 de outubro de 2024 - 12h18

(Crédito: Shutterstock)

Vocês já pararam para se perguntar qual foi a nova atividade que começaram, agora na maturidade, só para se divertir? Eu confesso que, antes de entrar nos libertadores 50 anos, me batia aquela preguicinha assim que resolvia partir para uma aula nova.  

Sou uma pisciana curiosa e inquieta, mas meu ego ainda adolescente gritava quando novas ideias surgiam. Será que eu toparia mostrar toda a minha ginga sueca em uma aula de ballet fitness, numa sala cheia de mulheres gatas que dançam como Margot Fonteyn? Ou sentaria em uma sala de aula para começar o francês do zero?  

Já tinha tido uma experiência aos 45 anos, quando entrei com calma e tranquilidade no mundo do ioga e meu espírito competitivo logo me estimulou a fazer as aulas mais power. Afinal, eu queria ser uma daquelas mulheres yoginis, com seus tapetinhos de grife que brilhavam nos seus trikonasanas. Ao invés de pensar na diversão, levei toda a história um pouco mais a sério. Nas invertidas, eu era um horror. Mesmo depois de quatro anos, não me afastava das paredes que me davam apoio. Na postura do escorpião, caía no chão sem dó. 

Seguia dia após dia nas minhas tentativas, mas acabei me frustrando por não ter chegado onde eu queria. Onde mesmo eu planejava chegar? Por que não encarei aquela jornada de uma forma muito mais leve?  

Quando cheguei aos 50, meu algoritmo deu certo e me deparei com um livro sobre esse tema chamado “It’s Great to Suck At Something” (sem tradução para o português, que pena), da jornalista americana Karen Rinaldi. Karen conta, nesse livro incrível, como aprendeu a surfar depois dos 40 anos. Resolveu colocar em prática seu sonho de menina, chamou um instrutor e, depois de 10 anos surfando pelas praias do mundo, confessou que esse é seu verdadeiro “manifesto da meia idade”.  

É difícil aprender alguma coisa nova, especialmente quando ficamos mais velhos? “Pode ser”, Karen explica, “mas o esforço do aprendizado nos ensina a termos autocompaixão, e nesse processo aprendemos a não nos julgar tão duramente quando falhamos”. Será que conseguimos? Em uma realidade atual, onde a palavra de ordem é “performar”?  

Karen Rinaldi afirma que quando tiramos a pressão de sermos excepcionais, em qualquer atividade, nos permitimos viver o momento. Pode parecer simples e clichê, mas viver o momento é justamente onde falhamos mais. Eu percebi que agora, aos 56 anos, já não tenho mais medo de me jogar em lugares onde nunca estive, e não sei dizer se é porque aprendi a domar o meu ego ou se é porque quero somente me divertir.  

Sei que talvez eu não seja excepcional em quase nada, mas não vejo e não iria querer essa pressão no segundo ato da minha vida. Resolvi criar um perfil no Instagram aos 50 anos, e com isso passei a dominar alguns aplicativos que antes eram sânscrito para mim. 

Se eu sou boa em editar videos? Um horror, mas me divirto. Procuro fazer isso sem pressão nem grandes exigências para as minhas limitações. Com autocompaixão e um olhar generoso com a minha história. E é com esse espírito que já quero me matricular em uma aula de forró, segurar de novo uma raquete para conhecer o pickeball, perder o medo do palco e aprender a falar em público. Quem sabe? 

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