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Opinião

Substantivo Feminino

Sobre a importância de desafiar estereótipos e promover ações transformadoras para celebrar a força feminina e impulsionar a igualdade de gênero


27 de março de 2024 - 8h32

(Crédito: Adobe Stock)

Uma simples pergunta que recebi recentemente me atingiu em cheio: “Qual é o seu superpoder?”. Me expôs a luta que as mulheres enfrentam para articular suas forças, consequência de um condicionamento social que minimiza nossas realizações. “Os homens conseguem expressar suas qualidades em 30 segundos… as mulheres, em média, levam 5 minutos para começar a falar sobre seus talentos e sua história profissional”, diz a Andréa Cruz da Serh1. Essa hesitação não é exclusiva do Brasil. Um estudo global da LeanIn.Org revelou que apenas 42% das mulheres em cargos de liderança se sentiam confiantes de que estavam sendo avaliadas com justiça para promoções, em comparação com 63% dos homens.

Essa falta de autopromoção não é uma falha pessoal; é sintoma de um problema maior. Pesquisas da Universidade da Pensilvânia e da Universidade de Harvard destacam como as mulheres consistentemente subestimam suas realizações em 33% em comparação aos homens. Esse fenômeno se repete em várias culturas. No Japão, por exemplo, o conceito de “amae”, que enfatiza uma suposta dependência emocional, quando relacionada às mulheres, pode impedir que elas se afirmem profissionalmente. Da mesma forma, na Índia, as normas culturais em torno da modéstia feminina podem desencorajar as mulheres de buscar ativamente cargos de liderança.

A independência econômica é outro fator crucial na emancipação feminina. Como Ana Fontes, fundadora da Rede Mulher Empreendedora, afirma com poder: “Precisamos falar de dinheiro e mulheres na mesma frase. Precisamos normalizar mulheres com dinheiro.” A mensagem de Fontes ressoa globalmente. Na Índia, por exemplo, pesquisas do Banco Mundial ressaltam o impacto transformador da inclusão financeira no poder de decisão e no bem-estar geral das mulheres.

No entanto, a verdadeira igualdade exige o desmonte das estruturas sistemáticas que desfavorecem os grupos marginalizados. O Observatório 2030 do Pacto Global – Rede Brasil destaca essa realidade alarmante: além de poucas empresas brasileiras acompanharem dados sobre funcionárias negras, o percentual de mulheres negras na força de trabalho, na verdade, diminuiu 40%. Esses dados ecoam uma luta global. O feminismo interseccional nos lembra que os desafios enfrentados pelas mulheres negras são agravados por raça, origem econômica e orientação sexual. Como uma validação desse contexto, um relatório recente da Organização Internacional do Trabalho (OIT) descobriu que mulheres LGBTQIA+ têm maior probabilidade de enfrentar discriminação e violência no trabalho em comparação com suas colegas heterossexuais. E ao somarmos todas as intersecções + mulheres com deficiência….. 

A luta pela igualdade só se concretiza quando reconhecemos a resiliência que as mulheres personificam. E para avançarmos nessas questões é preciso falar sobre, ampliar o debate e incluir pessoas de diferentes vivências de forma democrática. O poder da informação pode ser transformador e a tecnologia pode e deve nos ajudar nisso nos dias de hoje. A websérie “Maria da Penha – Retrato do Brasil“, no canal do Ministério das Mulheres, é a personificação desse espírito. Ao narrar a história de uma sobrevivente de violência doméstica cuja bravura resultou em uma legislação histórica de proteção às mulheres, a série nos convida a refletir sobre a força e a perseverança de tantas outras que enfrentam desafios semelhantes em todo o mundo.

Uma das minhas maiores buscas é poder promover mudanças que irão impactar nosso país e nossa sociedade. Dessa forma, construído por algumas grandes e potentes mulheres, surgiu a iniciativa “Substantivo Feminino“, em parceria com a Ana Fontes da Rede Mulher Empreendedora, InternetLab, Gênero e Número e CaséFala. O grande objetivo é abordar essas questões de frente, promovendo discussões abertas sobre os desafios multifacetados que as mulheres enfrentam. Seu formato serve como um modelo poderoso para muitas iniciativas, criando espaços onde mulheres de origens diversas podem compartilhar experiências, traçar estratégias e defender a mudança. Ainda em março, o Substantivo Feminino saiu do Brasil pro mundo, e esteve presente na sede da ONU durante a 68⁠º CSW (Comission of Status of Women), na iniciativa do Pacto Global da ONU no Brasil. Ana Fontes faz um convite e traz para dentro da nossa alma convidadas e assuntos que se misturam entre um soco no estômago e inspirações como um motor de mudança na nossa sociedade.

Trabalhar numa plataforma que fala com bilhões de pessoas todos os meses é gratificante e inevitavelmente desafiador. Mas posso afirmar que, como uma grande ativista de como a tecnologia pode fazer o bem para as pessoas, nada me deixa mais feliz do que usar o poder de escala e da influência positiva para fazer parcerias sólidas capazes de mudar o comportamento da sociedade.

Minha luta inicial com a pergunta sobre nossos superpoderes é um microcosmo do silenciamento que as mulheres enfrentam globalmente. No entanto, uma onda de mudança está surgindo. À medida que cultivamos a autoconfiança, desmontamos preconceitos internalizados e celebramos o poder da interseccionalidade, reescrevemos a narrativa. Nossos “substantivos femininos” não são limitações, mas potências transbordando de força, empatia, inovação e liderança. Ao reconhecer esses superpoderes e alavancar o poder da ação coletiva, construímos um mundo onde todas as mulheres, independentemente das suas interseccionalidades, podem mudar o rumo e voar alto. 

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