SXSW: A força das conexões em tempos de incerteza
Mais uma vez, o início do SXSW coincide com o Dia das Mulheres e, neste distópico 2025, duas chamaram a atenção no primeiro dia do evento
SXSW: A força das conexões em tempos de incerteza
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8 de março de 2025 - 10h30
Maggie Jackson e Kasley Killam chamaram atenção em painéis no primeiro dia do SXSW (Crédito: Arquivo pessoal)
Mais uma vez, o início do SXSW coincide com o Dia Internacional das Mulheres e, neste distópico 2025, duas mulheres chamaram a atenção em painéis no primeiro dia do evento. Ambas dedicam anos de estudos e são autoras de livros sobre os temas de suas apresentações por aqui. Dando o tom do evento, o painel de abertura levou ao palco Kasley Killam, cientista social e autora do livro “The Art and Science of Connection: Why Social Health Is the Missing Key to Living Longer, Healthier, and Happier” (ainda não lançado no Brasil), que traz a saúde social ao centro das discussões como um contraponto ao que chama de conexões com calorias vazias. Para a autora, em tempos de relações mediadas por dispositivos, algoritmos e IA, nunca foi tão importante exercitar a musculatura social.
Segundo Killiam, a saúde social – ou nossa capacidade de estabelecermos conexões com outras pessoas de forma positiva – se encontra atualmente no mesmo status da saúde mental há 15 anos. “Se no passado dificilmente alguém procuraria seu chefe para contar que sofre de ansiedade, hoje é esperado que as organizações tenham políticas internas para lidar com esse cenário de modo adequado.”
No caso da saúde social, está mais claro que as companhias precisam dar atenção também para essa questão, estimulando a construção de boas relações entre os funcionários. Isso porque a saúde social é tão importante quanto a mental e a física.
Para ela, o tema ainda é subestimado, mas olhando para as crianças e adolescentes atualmente, ela prevê que em um futuro não muito distante será necessário o ensino de conexões sociais nas escolas, assim como se ensina educação física. “Precisamos investir em saúde social de forma proativa e prevenir a solidão. Também precisamos reconhecer a solidão como uma única peça de um espectro mais amplo da saúde social. Há muitas nuances nisso. A pessoa pode ter ótimas relações com família e amigos, mas sentir-se desconectada dos colegas de trabalho ou do lugar onde mora. E isto é uma habilidade que precisa ser exercitada intencionalmente”, observou.
A autora do livro “Uncertain: The Wisdom and Wonder of Being Unsure” (também não lançado ainda no Brasil), a jornalista Maggie Jackson, trouxe ao SXSW uma interessante reflexão: “Quando podemos abrir mão da certeza, olhar além do que já sabemos, permanecer curiosos e ouvir a dissidência, muitas vezes podemos encontrar melhores soluções para os problemas com os quais lidamos”.
Para Jackson, a visão negativa que geralmente temos da incerteza vem do fato de que muitas pessoas a veem como paralisante. “Mas, na verdade, a incerteza é, antes de tudo, um tipo de ‘estresse bom’. Quando encontramos algo novo, ambíguo ou inesperado, temos uma resposta de estresse, tanto fisiológica quanto neural, que permite que o cérebro seja mais receptivo a novos dados. Nossa atenção se amplia e nossa memória de trabalho melhora. É um tipo de vigília que é realmente importante, nos dando a oportunidade de aprender.”
Em tempos de polarização, a incerteza também pode ser útil para negociações ao fazer com que as pessoas possam desenvolver melhores argumentos quando não estão completamente fechadas e certas e desenvolver uma habilidade que Jackson chama de especialista adaptativo. “Estar inseguro também está relacionado a uma deliberação mais profunda. O especialista adaptativo é alguém que é capaz de reconhecer e utilizar sua incerteza para investigar uma crise, um problema ou uma nova situação.”
E, por fim, a incerteza, ao contrário do senso comum, também contribui para ambientes de maior colaboração no trabalho. “A incerteza nos desacelera. Ela está ligada a uma melhor colaboração, pensamento de grupo mais criativo, inclusivo e de mente aberta, basicamente por meio da exposição de diferenças. Um bom conflito não é necessariamente sobre o triunfo de um lado sobre o outro ou a vitória de uma opinião divergente. A discordância e o desacordo frequentes e respeitosos, mesmo que errados, produzem ganhos de desempenho em grupos, porque o grupo é sacudido para um tipo de questionamento vigilante e incerteza cética.”
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