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SXSW: O Ikegai como moldura das nossas histórias

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Blog da Regina

SXSW: O Ikegai como moldura das nossas histórias

Dupla de cineastas Daniels deram uma aula de storytelling e de como a busca por propósito e significado se faz tão necessária em tempos caóticos como os atuais


13 de março de 2024 - 14h18

A palavra japonesa ikigai é única e traduz um conceito amplo que se refere àquilo que traz valor e alegria à vida: desde pessoas, como filhos ou amigos, até atividades que incluem trabalho e hobbies. Ela se tornou mundialmente conhecida, em 2016, com o lançamento do livro “Ikigai: O Segredo japonês para uma vida longa e feliz”, que foi traduzido para 63 idiomas e vendeu mais de 3 milhões de cópias desde então.

O Ikegai foi o pano de fundo da apresentação da dupla de cineastas Daniel Kwan e Daniel Scheinert, mais conhecida como Daniels no SXSW 2024, que ficou mundialmente conhecida pelo sucesso Tudo em todo lugar ao mesmo tempo, que ganhou o Oscar de melhor filme em 2023 e outras seis estatuetas, incluindo a de melhor direção. Kwan contou que ambos descobriram o conceito japonês há algum tempo e, por traduzir a partir de um diagrama as quatro premissas que fazem parte da jornada em busca da realização, resolveram adotá-lo no seu processo criativo.

A dupla de cineastas Daniel Kwan e Daniel Scheinert em painel no SXSW 2024 (Crédito: Arquivo pessoal)

O diagrama do Ikegai é dividido em quatro premissas: o que você ama (suas paixões e vontades), o que você oferece (seu talento, contexto, habilidade), o que você ganha (dinheiro) e o que o mundo precisa. Citando o antropólogo Jamie Wheal, Kwan afirmou que há momentos na humanidade em que há muitas histórias e ninguém sabe ao que se agarrar, pois não existe um único mito unificador. Este é o contexto para o surgimento do niilismo ou para o fundamentalismo.

Quando isso acontece, afirmou Kwan, o meio do caminho, que é o equilíbrio de uma sociedade, começa a colapsar. Dito isso, a dupla de diretores se baseia em alguns conceitos para encontrar o significado e o propósito em suas criações.

De forma bastante transparente e franca, os diretores contaram que estavam descrentes do poder de histórias antes de Tudo em todo lugar ao mesmo tempo.Mas ouvimos pessoas contando que o filme mudou a vida delas”. Além disso, a ciência e a psicologia também comprovam esse poder. “Para mudar hábitos, mudamos as histórias que contamos para nossa mente”, ressalta Kwan. E daí a importância de pensar no quê e como contar.

Como sociedade, somos viciados em um sistema baseado nas histórias que nos contaram desde que somos muito pequenos, como a de que somos bons ou ruins de acordo com nosso trabalho. Como storytellers, podemos reescrever as histórias e os sistemas. “Como diretores, nem sempre pensamos na audiência. Mas precisamos pensar em como as pessoas estão se sentindo, precisamos ser empáticos. Nunca fomos tão solitários. Estamos todos depressivos, ansiosos e exaustos tentando mudar o mundo, mas precisamos focar no nosso jardim, mesmo que ele seja pequeno. Mudar o que está sob nossa responsabilidade”, lembra Kwan.

“Busque valor e realização no que fizer, para todos os seres. Mas comece por você”, sugeriu Daniel Kwan ao concluir: “Lembre-se do seu lugar no mundo, do poder que você tem e da responsabilidade que vem com ele”.

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