SXSW: Scott Galloway, meninos em crise e os direitos reprodutivos
Dentre as precisas avaliações de Scott Galloway sobre as grandes tendências que moldam o momento atual, uma delas ressoou muito: a crise dos meninos americanos
SXSW: Scott Galloway, meninos em crise e os direitos reprodutivos
BuscarDentre as precisas avaliações de Scott Galloway sobre as grandes tendências que moldam o momento atual, uma delas ressoou muito: a crise dos meninos americanos
10 de março de 2025 - 15h15
Scott Galloway apresenta report com previsões para 2025 em um dos painéis mais disputados do SXSW (Crédito: Arquivo Pessoal)
Muito já se falou sobre o report com as previsões de Scott Galloway para 2025, apresentado em um dos painéis mais disputados do SXSW. Dentre suas ácidas e precisas avaliações sobre as grandes tendências que moldam o turbulento momento atual, uma delas ressoou muito para quem, assim como eu, é mãe de filhos adolescentes: o que ele chama de crise dos meninos americanos. Por uma série de razões, eles estão lutando como nunca para encontrarem seus espaços e enfrentam desde o aumento das taxas de suicídio e uma epidemia de solidão ao fracasso em se lançarem para o início da vida adulta.
“Nunca houve uma parcela demográfica que tenha caído mais rápido do que os jovens que vivem em democracias ocidentais. A porcentagem de jovens de 20 a 24 anos que não estão na escola nem trabalhando triplicou desde 1980. A participação na força de trabalho entre os homens caiu abaixo de 90%, enquanto os salários médios por hora são na casa de US$ 3. Soma-se a isso o fato de, nos últimos 20 anos, os suicídios nos Estados Unidos totalizaram 414 mil, excedendo os 407 mil americanos mortos na Segunda Guerra Mundial”, alertou.
Também é uma crise de acasalamento. Os jovens hoje se relacionam menos afetivamente. “E sem as proteções de um relacionamento, os jovens se comportam como se não tivessem… nenhuma proteção”, conclui Galloway.
O professor da Universidade de Nova York e host dos podcasts Prof. G e Pivot faz um contraponto instigante: “Outra grande mudança foi entre as mulheres de 45 a 64 anos. Acredito que essas são as mães de homens jovens em dificuldades. A América elegeu o presidente T; o ‘T’ significa testosterona. A eleição deveria ser um referendo sobre os direitos das mulheres. Em vez disso, foi um referendo sobre os homens jovens fracassados.”
Nesse ponto, Galloway fez uma reflexão muito forte sobre esse que parece ser sua maior preocupação neste momento ao afirmar que o fato de ter se tornado pai mudou radicalmente a forma como enxerga a vida. “Nenhuma realizacão profissional, nenhuma conquista ou sucesso chegam perto da experiência de ser pai. Mas, há uma geracão inteira de meninos que estão crescendo em um mundo sem referências, sem propósito, sem figuras paternas presentes, porque o número de lares monoparentais só aumenta e esse cuidado acaba ficando muito em cima das mães.”
Esse ponto levantado por Galloway vai ao encontro de alguns painéis do SXSW que estão dando luz a um assunto cuja simples menção no Brasil é interditada: o direito reprodutivo. Se pensarmos que o evento ocorre no Texas, um dos estados com legislação mais restritiva ao aborto, e no segundo mês de governo Trump, o recado não poderia mais contundente.
Quando esse assunto é colocado sob a ótica do ambiente corporativo, uma pesquisa do Institute for Women’s Policy Research com 10 mil norte-americanos apontou que 57% dos entrevistados que querem ter filhos buscam empregadores que ofereçam suporte para a saúde reprodutiva. Além disso, 56% dos adultos empregados acreditam que as companhias deveriam atuar ao lado dos legisladores para garantir direitos reprodutivos.
Não à toa, o assunto foi tema de pelo menos quatro painéis. Um deles com a congressista Ayanna Pressley, ativista e a primeira mulher negra a ser eleita para o Congresso norte-americano pelo estado de Massachusetts. Pressley também é co-chair da Abortion Access Task Force.
“Minha avó morreu de complicações no parto de meu pai em 1950. Estamos vivendo, hoje, retrocessos que nos fazem estarmos ainda no mesmo lugar que estávamos há 75 anos”, afirmou a parlamentar, que lidera uma série de iniciativas legislativas para mudar a lei sobre aborto nos Estados Unidos.
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