Tempero brasileiro em churrasco alemão
Receita imbatível com pitadas de ousadia para garantir resultados excepcionais em qualquer lugar do mundo
Receita imbatível com pitadas de ousadia para garantir resultados excepcionais em qualquer lugar do mundo
31 de julho de 2024 - 9h36
Finalmente foi possível estender a viagem para a Alemanha por mais alguns dias, além da semana programada para participar da reunião da liderança global de comunicação. Era a oportunidade que eu vinha buscando há quatro anos, trabalhando numa multinacional alemã, mas ainda não tinha conseguido colocar em prática: o encontro presencial com nossa gente da matriz.
E mais: eu estava mesmo curiosa era para testar, com os alemães, possíveis encontros que não estavam marcados oficialmente na agenda. Aqueles meio inesperados, que aconteceriam por acaso no corredor ou no café. Mas como a cultura alemã é conhecida pela formalidade, pontualidade, regras e regulamentos, muita gente me alertou que as chances de sucesso para essas conversas casuais seriam bem pequenas. “Esqueça: alemão não faz nada de última hora, sem marcar”, ouvi. Mas eu não viajaria milhares de quilômetros, para o outro lado do oceano, sem ao menos testar em solo germânico um pouco desta receita brasileira que tanto valorizo e que tem dado muito certo por aqui.
E foi assim, entre um compromisso formal e outro, quando andava pelos corredores da empresa à procura da próxima reunião, que me deparei com uma sala de portas abertas com uma plaquinha que mostrava o nome do Marc, colega responsável pela comunicação do Mathias, nosso líder global de sustentabilidade. Há tempos queria conhecê-lo pessoalmente. Parei por alguns instantes e assim que ele me viu eu o cumprimentei e disse: “Marc? Que prazer encontrá-lo! Malu Weber, do Brasil. Aceita um café”? Ele deu um sorriso tímido, olhou no relógio e disse: “consigo 10 minutos para um café”. E lá fomos nós.
O tempo concedido foi mais que suficiente para pensarmos juntos em oportunidades de exposição estratégica no Brasil para Mathias. Conversa vai, conversa vem, lembrei do Aberje Trends, evento em que eu participaria como moderadora do painel sobre mudanças climáticas – justamente o tema-chave de Mathias. E como a sorte parecia estar ao meu lado, não é que eu o avistei, justamente na porta de entrada da Bayer, retornando de uma de suas viagens?
Não perdi a oportunidade de ir até ele e me apresentar. Foi uma saudação rápida, mas marcante, já que ele não apenas me reconheceu como me cumprimentou no café da manhã do hotel no dia seguinte. E foi quando nos servíamos, no buffet de pães, que sugeri que ele gravasse uma breve fala para incluirmos no maior evento anual de comunicação corporativa do Brasil.
Marc estava conosco nesse momento (pois acompanhava a preparação de Mathias para uma entrevista) e sugeriu que a gravação ocorresse logo em seguida, utilizando a estrutura já pronta para as outras atividades daquela manhã. Para minha alegria, ao final da tarde, eu recebia o vídeo com depoimento dele, personalizado, para o evento. Fiquei tão entusiasmada com o primeiro resultado da minha estratégia verde-amarela que voltei à matriz, no dia seguinte, mobilizada para testar novos formatos de conexões, desafiando todo protocolo alemão.
Novas reuniões extraoficiais aconteceram e não precisei de muito mais tempo para perceber que os alemães, ainda que muitas vezes surpreendidos, valorizaram a iniciativa menos protocolar. No início, senti um certo receio e até comentários do tipo: “podem achar – equivocadamente – que não estamos falando de trabalho, sentados ao sol, no pátio do prédio”. Mas tal preocupação foi diminuindo e dando espaço a um comportamento mais relaxado e próximo.
Mais do que isso, as relações profissionais mudaram completamente a partir daquelas experiências: os vínculos se fortaleceram, o ambiente de confiança aumentou, construímos pontes, eliminamos barreiras, identificamos oportunidades de ser mais efetivos e de trabalhar, de fato, como um só time – e mais felizes. Ofereci ajuda, ganhei aliados e fomentamos uma atmosfera que gerou novas ideias, que nos uniu e nos fortaleceu. E como se não bastasse toda essa abertura no âmbito profissional, ainda recebi convites para ir à residência de dois colegas (para o espanto de alguns), que me ofereceram um típico churrasco alemão, junto às suas famílias, em pleno final de semana.
Volto para casa com o aprendizado de que a tal formalidade alemã pode, sim, render-se aos encantos brasileiros e a pitadas de ousadia. Aliás, arrisco dizer que precisamos desafiar estereótipos e preconceitos: qualquer nacionalidade pode se beneficiar com conversas casuais, inclusive dentro das tradicionais salas de reunião. Ambientes informais constroem compreensão mútua, respeito e confiança, receita imbatível de sucesso também no ambiente de negócios. Ambientes que diminuem o estresse, a tensão e a ansiedade estimulam as pessoas a dar o melhor de si, a se engajar e entregar resultados excepcionais.
É o efetivo e afetivo juntos, dando certo em qualquer lugar do mundo. É o calor humano, ingrediente universal que todos deveriam experimentar, aquecendo os corações mais durões e (supostamente) intocáveis. Falando nisso, minha próxima viagem para a Alemanha, agora em setembro, ainda não tem a agenda formal marcada, mas já recebi convite, dos mesmos colegas, para mais um churrasco, onde certamente levarei de volta uma boa porção do já testado – e ao que tudo indica, aprovado – tempero brasileiro.
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