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Torcida: um capítulo à parte no futebol

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Opinião

Torcida: um capítulo à parte no futebol

É muito bonito ver os torcedores nos estádios. São eles que deixam tudo mais alegre, colorido e deslumbrante


1 de dezembro de 2022 - 7h54

Já faz alguns dias que estou no Catar e já deu para perceber mais detalhes sobre este país tão singular. Os moradores, em sua maioria, não são daqui. Chegaram para trabalhar em grandes empresas e, aqui, conquistaram salários que nunca teriam no país de origem. Posso dar um exemplo interno, uma produtora contratada pela NWB, que é brasileira e já mora no Catar há 5 anos, comentou que a Copa está sendo o ápice da vida no país, afinal algumas normas foram flexibilizadas e atualmente as regras parecem estar um pouco mais brandas. Mas explicou que, muito frequentemente, as leis locais mudam conforme o interesse dos governantes, sem aviso prévio ou discussão com a população. Tudo muito unilateral. 

Apesar de tudo isso e aproveitando as alegrias que um campeonato de futebol global pode proporcionar, os moradores da região ficam muito felizes quando contamos que somos brasileiros. A NWB montou um espaço no país para receber seus criadores, marcas e convidados, para que criem seus conteúdos diretamente do Catar. É a Casa BR NWB, um espaço com campo de futebol, estúdio de gravação, piscina, totalmente montada para que muito entretenimento e informação sejam produzidos do local. E nosso vizinho aqui veio nos oferecer um jantar. Trouxe um banquete, nos explicou que só podemos usar uma das mãos para nos alimentar, e que só se deve comer um tipo de prato após o outro. Nos apresentou os costumes, além, é claro, de dizer que é fã do Brasil. Ele nos recepcionou com muita educação e cordialidade. Foi incrível viver essa experiência tão particular no Catar.

Jantar oferecido por um vizinho da equipe NWB no Catar (Crédito: Arquivo Pessoal)

Essa alegria e receptividade também transbordam nos estádios. Vemos muitos moradores do país árabe com a camisa do Brasil, torcendo pelo nosso futebol. Porém, apesar da acolhida, o que venho percebendo de comentários de brasileiros sobre esse evento é que tudo está um pouco desorganizado. Quando se precisa de informações, notamos que os voluntários não foram preparados para isso e fica um pouco difícil encontrar as coisas. Um exemplo disso foi que, no dia 28, nossos criadores e uma social media saíram do jogo do Brasil, rumo ao de Portugal contra o Uruguai, pegaram um shuttle (ônibus que faz caminho de um estádio a outro), e o motorista se perdeu. Eles só chegaram ao estádio depois que o jogo já havia terminado. O pior é que, como Doha é uma cidade de grandes avenidas, não se pode descer em qualquer lugar, o que gerou medo nos passageiros, que precisaram ficar no ônibus por duas horas e meia.

Além, é claro, de muitos turistas sentirem falta da cervejinha que acompanha os jogos e o rolê com os amigos. Aqui só se pode beber em lugares licenciados, como hotéis, bares e restaurantes (alguns poucos que têm licença), ou é possível comprar bebida em algumas fan fests com quantidade limitada, e até mesmo ter uma autorização para ir a um depósito fazer essa compra (essa autorização é mais pra quem mora no Catar e para quem está trabalhando junto à FIFA).

Mas, parece que nada tira a alegria dos torcedores. O movimento verde e amarelo (primeira torcida organizada do Brasil, criada em 2008) tem feito um esquenta muito animado, e os brasileiros normalmente se juntam em direção ao estádio fazendo a maior festa já em clima de jogo. Inclusive, os integrantes do movimento já estiveram aqui na Casa BR conosco e pudemos sentir a energia dessa galera animada, que além de organizarem a preparação para os jogos, acompanham a seleção, recebem a equipe nos aeroportos e hotéis, oferecem aulas e oficinas de bateria, realizam projetos sociais, organizam as caminhadas até os locais dos jogos e recolhem os lixos nos estádios. Prática essa muito comum entre os japoneses, que já em duas competições anteriores ficaram conhecidos por deixarem os estádios limpos depois das partidas da seleção oriental. E mais uma vez a cena teve muita repercussão nas redes sociais.

Torcida brasileira e movimento verde e amarelo no esquenta para o jogo Brasil x Suíça, no dia 28 de novembro (Crédito: Arquivo Pessoal)

É muito bonito ver a torcida nos estádios. Com diversas nações competindo, é possível conhecer um pouco sobre cada cultura, crenças e características. E são elas que deixam tudo mais alegre, colorido e deslumbrante, afinal, só quem entrou em um estádio lotado sabe a emoção que é poder fazer parte desta festa. E para quem não pode estar presencialmente no Catar, o canal Passa a Bola, de Luana Maluf e Ale Xavier, vem trazendo conteúdo fresquinho com olhar feminino direto das torcidas no país dos catari. E, se fora das quatro linhas, o país árabe tem sua cultura e leis restritivas para muitos, dentro de campo e nas arquibancadas temos visto a união de diferentes povos na luta por causas coletivas, como, por exemplo, o torcedor que, no jogo do dia 28 entre Portugal e Uruguai, invadiu o campo com uma bandeira do movimento LGBTQIAP+. 

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