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Opinião

Totalmente… equivocada

Da mesma maneira que Tilda Swinton ganhou passaporte brazuca e carteirinha do SUS, os idealizadores de Emilia Pérez ganharam um problemão para resolver


20 de fevereiro de 2025 - 9h08

Karla Sofía Gascón, protagonista do filme ‘Emilia Pérez’ (Crédito: Divulgação)

Que o Brasil está todinho em festa por conta de nossa “Totalmente Indicada” Fernanda Torres e também pelas indicações de “Ainda Estou Aqui” ao Oscar, ninguém discute. com pena das escolas de samba que desfilarem no domingo de Carnaval, viu – porque só vai dar Cerimônia do Oscar neste dia.  

Mas nem só de alegrias vive o brasileiro: nas últimas semanas, vimos uma crescente polêmica acontecer em torno de um dos nossos concorrentes a melhor filme e melhor filme estrangeiro – “Emilia Perez” – que começou com as alegações de agressão feitas por Karla Sofia Gascón sobre a equipe de Fernanda Torres, mas expandiu-se em torno de outras várias questões relacionadas ao filme.  

Começando pelo equívoco do título: faltou sororidade a Karla ao atirar a primeira pedra. E digo mais: faltou estratégia também. Se Karla tivesse ido no caminho contrário, e se aliado a Fernanda, com quem compartilha o status de “indicada fora do circuito óbvio”, tinha muito mais a ganhar.  

Depois disso, a internet não parou quieta e a caixa de Pandora se abriu: primeiro, veio o entendimento de que o filme, que conta uma história que se passa no México, foi filmado em grande parte na França e dirigido por um diretor francês, que contratou poucos mexicanos para seu elenco (Karla Sofia é espanhola, por exemplo). Também houve críticas ao espanhol do filme e, o mais importante, ao tratamento leve dado para as mais de 100 mil pessoas desaparecidas no México. Quem procurar vai ver matérias dizendo que no México o filme flopou, inclusive.

Falo disso hoje aqui nesta coluna não só porque o assunto está nos trending topics neste momento, mas, também, porque esta crise é relacionável a outras que vimos no mundo da publicidade: as pessoas estão cada vez menos tolerantes a “versões artificiais”, histórias mal contadas (contém eufemismo) e cada vez mais empoderadas para achar a verdade. Hoje em dia, quem conta história de sorvete feito com receita do vovô que na verdade é fabricado numa linha de montagem é pego de calça curta bem mais rápido do que era em 2014.

Falo disso também pra lembrar de uma lição que aprendi nas primeiras aulas de marketing na faculdade: a comunicação é sempre responsabilidade do emissor. E, agora, que nossas falas, fotos e videos colocadas na internê são imediatamente eternizadas publicamente, essa responsa só aumentou. Meu conselho para os sobrinhos e filhos de amigos é sempre o mesmo: o que você posta hoje pode falar sobre você daqui a muitos anos. Karla Sofia aprendeu a lição a duras penas.  

Por fim, este caso também diz muito sobre a força do coletivo e das comunidades: da mesma maneira que Tilda Swinton ganhou passaporte brazuca e carteirinha do SUS, os idealizadores de Emilia Pérez ganharam um problemão para resolver. E para as marcas não é diferente: uma pisada no tomate aqui pode gerar um cancelamento ali na frente.

No mais, só nos resta aguardar (ansiosamente!) aquele primeiro domingo de março, com as melhores vibrações e torcida, para a gente gritar de alegria quando o mocinho dourado estiver nas mãos dos nossos. 

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