Transição de carreira
A vida é curta demais para desperdiçarmos a felicidade profissional. Não dá para ser feliz apenas aos fins de semana
A vida é curta demais para desperdiçarmos a felicidade profissional. Não dá para ser feliz apenas aos fins de semana
16 de agosto de 2024 - 6h24
Você já parou para pensar o que leva as mulheres a mudarem de emprego? Qual seria aquele turning point que leva alguém sair da sua zona de conforto para encarar algo novo? Não acredito que ciclos se encerram completamente para que outros se iniciem. Antes de um ciclo se encerrar, o outro já teve início, ainda que por meio dos sentimentos, pensamentos e sinais do universo. É preciso estar atenta às inquietações e desconfortos vividos, mas também às oportunidades.
De acordo com uma pesquisa realizada no final do ano passado, pelo LinkedIn, a maior rede social profissional do mundo, com 23 mil trabalhadores globalmente e 1.300 no Brasil, 60% dos brasileiros estavam com pressa: planejavam mudar de emprego ainda em 2023. Segundo o estudo, o maior anseio por mudança estava na busca por mais estabilidade financeira e maior flexibilidade. Dentre os maiores receios estava o medo do desemprego.
A verdade é que qualquer mudança apresenta desafios e nem sempre uma simples alteração de emprego irá ser suficiente para satisfazer aqueles anseios. Às vezes é preciso mudar de ares, de relações, sair completamente de um setor e lidar com desafios diferentes.
Em um levantamento realizado pela consultoria de recrutamento Robert Half, 36% dos brasileiros desejam mudar de carreira ainda em 2024. O ponto de partida para entender o anseio pela mudança deve ser a identificação da essência da insatisfação atual. Na pesquisa da Robert Half, os principais motivos que passam pela cabeça dos brasileiros estão no campo da realização pessoal: maior flexibilidade, maior qualidade de vida e aprender algo novo. Além disso, a busca por salários maiores também aparece no topo do ranking entre as motivações elencadas para aqueles que desejavam mudar de carreira.
Recentemente, uma reportagem da revista Exame chamou minha atenção. Ela trouxe a primeira pesquisa realizada pela Talenses Group, uma empresa brasileira de recrutamento e seleção de talentos, sobre lideranças tóxicas. O levantamento foi realizado em maio deste ano, com quase 600 lideranças no país. Os dados apontam que o abuso de poder é uma das principais razões que levam funcionários a pedirem demissão atualmente. E, ainda, consideram que o maior impacto trazido por esse tipo de liderança no cenário organizacional é o reflexo causado na saúde mental. Desmotivação e desengajamento aparecem em segundo lugar.
Aposto com você que ao ler a palavra “desmotivação”, em alguma medida, você se identificou, não é mesmo? Quantos de nós estamos nesse ambiente que pode até ser confortável, mas aquela pulga atrás da orelha não sai de lá, com indagações e indignações das mais diferentes naturezas. O importante é não varrer esses questionamentos para baixo do tapete. Vale uma conversa com sua liderança? Talvez. Mas nunca deixe as suas convicções em segundo plano. Foi o que fiz.
Mudar não é simples. De fato, exige coragem. É preciso um quê de bravura para se libertar dos medos que envolvem uma transição e encarar a instabilidade do processo. Quando identifiquei esses medos em mim, me solidarizei com um número enorme de mulheres, que também poderiam sentir os mesmos receios para a mudança de carreira. Nem sempre querer é poder. O contexto que muitas mulheres vivem e trabalham pode tornar mais difícil uma transição de carreira.
Um boletim publicado pelo IBGE no ano passado analisou dados de 2022 e mostrou que, no Brasil, as mulheres dedicaram mais de 21 horas aos cuidados de pessoas ou a afazeres domésticos, quase o dobro das 11 horas dedicadas pelos homens. No caso das mulheres pretas ou pardas, a estatística piora: elas estavam envolvidas com o trabalho doméstico não remunerado em 1,6 hora a mais do que as mulheres brancas. Ou seja, para aquelas que ainda têm que arcar com a carga de chefiar um lar e de dar conta de afazeres domésticos sozinhas, a coragem para uma transição de carreira precisa ser ainda maior. E os movimentos devem ser ainda mais calculados.
Sempre há tempo de recomeçar. Um bom caminho, quando possível, é fazer o planejamento da mudança desejada, iniciando pela identificação das motivações do desejo, mapear atividades de interesse e organizações que atenderiam seu novo propósito, traçar um plano transição, mapear e fazer a busca ativa pelas oportunidades. Dicas importantes: a primeira é ter uma boa network. Cultive a sua. A outra dica é estar preparada, mesmo antes da oportunidade aparecer. Vale a máxima: sorte é quando a preparação encontra a oportunidade.
E você, está feliz no seu trabalho? O que lhe inspira profissionalmente a usar seu precioso tempo de vida? Onde está a sua insatisfação e como transformá-la em ação? Até quando você sustentará uma situação profissional que não te deixa feliz? A vida é curta demais para desperdiçarmos a felicidade profissional. Não dá para ser feliz apenas aos fins de semana. Chega de domingos aflitos e segundas-feiras desmotivantes.
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