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“Velha está na moda”, alerta Mirian Goldenberg

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“Velha está na moda”, alerta Mirian Goldenberg

Em conversa com Rita de Almeida, da AlmapBBDO, a pesquisadora e antropóloga revelou seus aprendizados sobre a velhice brasileira


26 de março de 2024 - 16h25

Em 2022, o percentual de pessoas com 65 anos ou mais no País atingiu 10,9% da população, o que representa uma alta de 57,4% frente a 2010, segundo o Censo Demográfico do IBGE. Além disso, dados do Ministério da Saúde projetam que, em 2030, o número de idosos no Brasil ultrapassará o total de crianças entre zero e 14 anos.

Apesar dessa transformação demográfica pela qual o País está passando, a população acima dos 40 anos, principalmente as mulheres, ainda enfrenta muitos desafios em meio a uma sociedade etarista, que não enxerga seus desejos e comportamentos.

Mirian Goldenberg

Rita de Almeida, head de estratégia da AlmapBBDO, entrevista Mirian Goldenberg, que não pode comparecer presencialmente ao Women to Watch Summit (Crédito: Eduardo Lopes/Imagem Paulista)

Ao identificar esse movimento, a professora, escritora, pesquisadora e antropóloga Mirian Goldenberg dedicou anos de estudo ao tema. Seu objetivo é revelar caminhos de libertação dos preconceitos, estereótipos e estigmas que cercam as mulheres em todas as fases de suas vidas e principalmente na velhice.

Atualmente, Mirian está estudando o tema “envelhecimento, felicidade e autonomia”. “Liberdade é diferente de autonomia. Hoje, a minha palavra de ordem é como você ser você mesma, como ser uma mulher autônoma em todas as fases da vida, mas principalmente, na velhice, que é o meu tema atual”, explicou.

Falta de representatividade na publicidade

Conduzindo o painel com Mirian, Rita Almeida, head de estratégia da AlmapBBDO, ressaltou que nos ambientes de comunicação, há a presença de somente 5% das pessoas com mais de 50 anos. “Temos grande dificuldade de falar com essas pessoas, porque somos uma indústria muito focada na juventude.” Neste sentido, ela ainda questionou Mirian sobre como a comunicação pode olhar de um jeito mais natural para as mulheres mais velhas.

Antes de falar sobre essa falta de representatividade no mercado de comunicação, Mirian ressaltou que, no Brasil, o corpo é um verdadeiro capital. “Esse corpo capital, que não é um corpo qualquer, é um corpo magro, jovem, em forma, e que provoca muito sofrimento”, revelou, enfatizando que, ao mesmo tempo, as mulheres brasileiras são as maiores consumidoras de ansiolíticos, remédios para dormir e antidepressivos do mundo.

A antropóloga ainda disse que existem três níveis para compreender essa realidade cultural. O primeiro é o discurso; o segundo são os comportamentos; e o terceiro são os valores culturais. “Somos um País de jovens, que valorizou sempre a juventude. Há cinco anos essa pauta estava dentro de uma gavetinha bem escondidinha. E os valores demoram muito a mudar, não mudam de uma hora para a outra”, complementou.

Para esclarecer seu pensamento, Mirian usou Leila Diniz, uma das feministas mais populares do Brasil, como exemplo. “Leila foi a primeira mulher grávida a exibir uma barriga de biquíni numa praia de Ipanema. Quando tempo levou para os valores mudarem e acharmos a gravidez linda?”, indagou.

Na sua visão, o que falta hoje na publicidade brasileira é a multiplicidade. “Eu digo para o mercado: velha está na moda. Não tem uma propaganda hoje que não entre um velho e uma velha, mas falta ver a multiplicidade. Velhice não é singular, velhice é plural”, alertou, ressaltando que é preciso entender a diversidade da beleza das velhices.

Em suas pesquisas sobre o tema, a antropóloga identificou três momentos diferentes da velhice, que denominou de “velhofobia”, “velheuforia” e “velhautonomia”.

Mirian constatou que as mulheres brasileiras têm pânico de envelhecer, o que identificou como “velhofobia”. O segundo momento, “velheuforia”, é aquele de excitação, ou seja, aquele momento em que as mulheres percebem que podem fazer o que quiserem. “Encontro muitas mulheres que chegam nessa fase dos 50, que se separam e entram em apps de relacionamento, compram vibrador, viajam”. E o terceiro momento é aquele na qual a pessoa descobre o que ela realmente quer da sua vida, o que Mirian chamou de “velhautonomia”.

Apesar desses momentos, a pesquisadora enfatizou para o mercado que as mulheres não se definem em só um desses momentos. “As mulheres mais velhas que tenho pesquisado são uma mistura contraditória e, às vezes, com muito sofrimento, esses sentimentos ao mesmo tempo”.

Mirian finalizou seu discurso enfatizando que um dos maiores problemas do envelhecimento atual não são as pressões, mas as próprias fobias e vergonhas de envelhecer das pessoas. Com isso, a antropóloga criou o movimento “Velhas sem vergonha”.

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