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Evento

Vidas, potências e existências

Embora tenham conseguido projeção por suas trajetórias e atuação, Erica Malunguinho e Isa Isaac Silva acreditam que os grupos minorizados estão longe de furar as bolhas do mercado e da sociedade


22 de março de 2023 - 15h26

“Vocês têm noção de tudo o que representam?”. Quando a moderadora Cristina Naumovs, consultora de criatividade e inovação da Apego Inc., fez esse questionamento a Erica Maluguinho e Isa Isaac Silva o painel que encerrou o Summit Women to Watch 2023 já estava próximo do fim e ambas já tinham, por meio do relato de suas trajetórias e experiências, mostrado ao público o quão potente podem ser as histórias das pessoas quando elas não têm sua existência invisibilizada.

Erica Malunguinho foi a primeira deputada estadual trans eleita no Brasil. No ano passado, desistiu de disputar uma cadeira de deputada federal no Congresso, mas seguiu com seu trabalho acadêmico e com a coordenação do Quilombo Urbano Aparelha Luzia, centro cultural que se define como Associação Preta Política Artística Gentista destruidora de razões.

“Não consigo achar comum e passar despercebida quando vejo situações de violência. Isso sempre moveu minha pesquisa acadêmica, a criação do meu ateliê e mídia vida política. Sempre estive nesse lugar. Estou pensando sempre em como contribuir para que os territórios possam ser mais prósperos. Essa é minha forma de estar no mundo”, definiu.

Já Isa, estilista e criadora da marca Isaac Silva, encontrou na moda a porta de entrada para transformar sua história e as de outras pessoas. Ela contou que a moda salvou sua vida, já que era para ateliês que corria para se esconder quando sofria violências durante a infância. Quando foi morar em Salvador, ficou fascinada com a moda e cultura das mulheres daquela cidade e, depois de se formar em design e moda, notou que aquela mercado que ela idealizava estava longe do que ela julgava como ideal.

“Quando entrei no mercado de moda encontrei um local adoecido, com mulheres tristes, em um sistema que foi tornado triste. Era um mercado que não queria absorver. A moda é uma ferramenta linda e sempre pensei que são as roupas que precisam caber nas pessoas, não o contrário. Quando disse não ao mercado da moda, como ele era, aprendi a valorizar o que é nosso, contando histórias da cultura afro-brasileira e indígena”, disse.

A moderadora questionou a essas duas mulheres trans como é possível furar bolhas em um País em que o simples fato de existir ainda demanda uma luta diária por parte de grupos minorizados.

Erica Malunguinho foi categórica ao dizer que as bolhas ainda não foram furadas. “O capital e o poder ainda estão nas mãos das mesmas pessoas. Imaginem onde pessoas como nós poderíamos ter chegado se não tivéssemos interrupções. Não nos dão, ainda, oportunidade de apresentar nosso projetos. Precisamos enfrentar burocracias para provar o que somos capazes de fazer. A sociedade só há de caminhar quando todos os agentes participarem, o que significa redistribuir projetos, dinheiros e relações”, explicou.

Isa Isaac Silva defendeu uma nova perspectiva para olhar o tema da diversidade e sua real aplicação na sociedade e no ambiente corporativo. “Quando se fala de diversidade, não existe perda de privilégio. Só haverá ganhos. Ninguém quer competir pelo espaço do outro. Sou um ser-humano e só quero sobreviver. Quando trazemos a diversidade, sempre haverá ganhos, nunca perdas”, sentenciou.

Ainda assim, a estilista reconhece que ocupar esse lugar e levar essa mensagem adiante é uma luta diária diante de um sistema que nega seus esforços e sua trajetória todos os dias. “Mas, quando contrato uma pessoa trans, quando consigo vestir uma mulher para um importante momento político, tudo isso me move e me diz que estou no caminho certo”, declarou.

Já Erica diz que sua forma de seguir em frente é não pensar sobre seu impacto e seguir em frente com a sua atuação. “Sempre precisei negociar pertencimento. Não penso sobre meu impacto; vou realizando e fazendo e observando as dificuldades. Quero consolidar espaços de cultura, felicidade e de retroalimentação constantes”, finalizou.

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