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Opinião

Você conhece uma cientista negra?

É nossa responsabilidade continuar fomentando projetos que promovam equidade e inclusão, garantindo que a ciência brasileira seja rica em diversidade


3 de dezembro de 2024 - 8h59

(Crédito: Shutterstock)

Jaqueline Goes, Ana Nascimento, Lívia Rodrigues… Tive a sorte de conhecer e trabalhar com essas mulheres inspiradoras, das quais me tornei uma grande fã. Mulheres negras que decidiram se dedicar à ciência, rompendo barreiras e traçando caminhos em áreas que, infelizmente, ainda são ocupadas por poucas como elas. 

Recentemente, me perguntaram se, na infância, eu sonhava em ser cientista. A verdade é que não. Como muitas crianças que cresceram em contextos adversos, isso parecia algo muito distante para mim.  

Para que meninas como a pequena Helen possam sonhar em ser cientistas, precisamos de um esforço conjunto que envolve a iniciativa privada, a sociedade civil, as escolas, governos… A ciência tem o poder de transformar o mundo, mas para que seu impacto seja verdadeiramente equitativo e abrangente, precisamos garantir que as portas estejam abertas para todos.  

No Brasil, apenas 31% das matrículas em cursos de STEM (Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática) são de mulheres, segundo dados da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco). Na Academia Brasileira de Ciências (ABC), elas estão presentes em apenas 14% das posições. 

Inspirador neste contexto é o exemplo das cientistas Dorothy Vaughan, Mary Jackson e Katherine Johnson, retratadas no belíssimo filme “Estrelas Além do Tempo” (se você ainda não viu, não perca).

Baseado em fatos reais, o filme mostra como essas mulheres negras contribuíram para a NASA e para a ciência na década de 1960 em um cenário de segregação. Suas trajetórias simbolizam a resiliência e a importância de ocupar espaços que, por muito tempo, foram limitados por gênero e raça. 

Ana Nascimento e Lívia Rodrigues são exemplos contemporâneos dessa luta. Criadoras da rede Pretas na Ciência”, elas construíram uma comunidade inspiradora de mulheres negras nas áreas de STEM, onde incentivam, dão visibilidade e promovem o desenvolvimento de suas carreiras acadêmicas e corporativas.  

Iniciativas como essa são imprescindíveis para quebrarmos os estereótipos de gênero associados a esse universo. Pense bem: você conhece uma cientista negra ou uma jovem cientista? Mas, e se eu te perguntar o nome de um homem que foi importante na ciência ou que fez história no ramo da tecnologia? Aí fica fácil, não é? 

Um dos indicadores da disparidade é a lista de vencedores do Prêmio Nobel: durante toda a sua existência, 26 láureas científicas foram para mulheres, ou seja, 4%,  enquanto homens ficaram com 627 prêmios. Isso evidencia o quanto precisamos avançar para alcançar uma igualdade de gênero efetiva. 

Um exemplo significativo de fomento à equidade é o programa “Para Mulheres na Ciência”, realizado pela L’Oréal em parceria com a Academia Brasileira de Ciências (ABC) e a UNESCO no Brasil, que premia as vencedoras com uma bolsa-auxílio de R$ 50 mil para as suas pesquisas. No ano passado, a professora Jaqueline Goes foi anunciada como uma das vencedoras da 18ª edição do programa.  

O projeto da Jaqueline analisa a transmissão de microrganismos que causam doenças, especialmente entre voos entre Angola e Brasil, um estudo importantíssimo para compreender e prever a disseminação de vírus e ajudar na formulação de políticas públicas de transporte.  

Jaqueline ganhou destaque nos últimos anos por ser responsável por coordenar a equipe que liderou o sequenciamento do coronavírus no Brasil. Quando a conheci, ela me disse que queria ser a inspiração para a futura geração. Eu não tenho dúvida de que será. Basta ver que já virou até Barbie. Foi escolhida pela Mattel para ser uma das bonecas que homenagearam mulheres que fizeram a diferença na luta contra o coronavírus. 

Sabemos que a pesquisa científica é cara, e precisa de fomento e financiamento de grandes instituições. Prêmios, bolsas e editais são um caminho para a promoção da diversidade nessa área, algo essencial para que a ciência avance cada vez mais.  

Para além das mulheres, a L’Oreal também tem um olhar para os jovens de áreas científicas. Recentemente, fiquei encantada ao participar de um evento do “Cientistas do Futuro”, programa que tem focado em dar visibilidade, acesso e oportunidades a jovens talentos, com um recorte específico para incluir pessoas pretas e pardas. A cada edição, abrimos inscrições para estudantes universitários de todo o País. Selecionamos 150 alunos para o programa, com 50% das vagas reservadas para pessoas pretas e pardas e 25% para moradores do Complexo da Maré, no Rio de Janeiro. 

O programa oferece cinco semanas de aulas imersivas, cobrindo temas que vão desde os fundamentos da cosmetologia até a inovação e a sustentabilidade na indústria da beleza. Além disso, disponibilizamos a possibilidade de entrada em nosso banco de talentos para futuras vagas de estagiários e assistentes.  

Ao longo das seis edições do “Cientistas do Futuro”, tivemos mais de 13 mil inscrições, 800 alunos certificados e já contratamos 11 estagiários, além de jovens que hoje fazem parte de nossa equipe como assistentes. Esse número representa mais do que empregos: são trajetórias que estamos ajudando a construir.  

Precisamos de mais histórias como a da Jaqueline, da Ana e da Lívia. É nossa responsabilidade continuar fomentando projetos que promovam equidade e inclusão, garantindo que a ciência brasileira seja rica em diversidade e cheia de perspectivas transformadoras.  

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