Assinar

A culpa não te deixa mais rica, bonita ou esperta. Te deixa culpada

Buscar
Publicidade
Opinião

A culpa não te deixa mais rica, bonita ou esperta. Te deixa culpada

Sei que, como eu, você já surtou pensando em como criar uma criança feliz, cuidar da saúde, ter um relacionamento com sexo e ainda fazer pão e meditar


23 de fevereiro de 2024 - 10h24

(Crédito: Unsplash)

Muito do que a gente acredita sobre ser boa mãe e profissional é uma mentira. Foi algo criado para nos manter sobrecarregadas e caladas. Sei que, como eu, você também já surtou pensando em como criar uma criança feliz, cuidar da saúde, ter um relacionamento com sexo e ainda fazer pão, tocar ukulelê e meditar. E com as redes sociais e nossos líderes pedindo perfeição em uma nova economia que por definição é ambígua e não linear, esse sentimento de insuficiência e “atraso” vai minando nossa saúde mental.

Primeiro precisamos entender o que estamos consumindo de informação. Uma amiga querida, futurista, chamada Ligia Zotini, disse algo que faz muito sentido: “Cada um tem o algoritmo que merece”. Eu comecei a perceber que seguia perfis que me faziam mal, que me mantinham o tempo todo no modo comparação, engatilhada e sofrendo. Isso vale também para os círculos familiares, de amigos e até do trabalho, que ficavam com o dedo no gatilho da culpa bem no meio da nossa testa.

Em uma pesquisa realizada pelas doutoras Tatiana Carvalho e Bruna Moretti Luches, foi identificado na amostra que 25% das mães tinham sintomas de depressão, 7% apresentavam sintomas de ansiedade, 23%, de estresse e, 39%, de estresse pós-traumático. Estão entre as principais causas:

– Sobrecarga materna com a falta da rede de apoio;

– Preocupação financeira;

– Preocupação com o casamento, principalmente com o sexo;

– Culpa, que leva as mães a ignorar diagnósticos importantes;

– Os pais que não assumem a paternidade – temos vinte milhões de mães solo no Brasil, de acordo com o instituto Data Popular.

A sobrecarga, principalmente para as mães, é um dos tópicos mais estudados pela B2Mamy nesses 8 anos de vida. Além de maternidade e carreira, nos dedicamos a entender melhor também a economia do cuidado, que é quando o trabalho de cuidar de alguém não é remunerado. É uma economia invisível e desvalorizada, porque aprendemos que só tem valor aquilo que gera dinheiro diretamente. E, muitas delas, além de exercer esse trabalho em casa, também estão gerando renda em empresas ou empreendendo.

A filósofa Simone de Beauvoir disserta sobre as origens da crença de que os serviços domésticos são naturalmente femininos, já que na estrutura da sociedade as mulheres estão pré-destinadas à vida privada e os homens à vida pública. Os números refletem o que ela acredita e continuam se repetindo.

De acordo com a Oxfam, mulheres e meninas dedicam, ao longo da vida, 12,5 bilhões de horas ao trabalho de cuidado não remunerado – uma contribuição de, pelo menos, 10,8 trilhões de dólares por ano à economia global, quase 24 vezes o que fatura o Vale do Silício e suas startups. O trabalho do cuidado equivale a 11% do PIB do Brasil.

Eu tenho alguns rituais aqui para me ajudar. O primeiro é reconhecer algumas afirmações que não são verdades absolutas, até porque são muitas as possibilidades de maternidade. E questionar TODAS elas:

– Nasce um filho, nasce uma mãe;

– A mãe tem que estar sempre disponível para a família;

– Toda mulher tem instinto materno;

– Somos naturalmente multitarefas e conseguimos dar conta de tudo;

– Só existe laço real de amor entre mãe e filho se existir amamentação;

– Alguns lugares não são para as mães;

– Você precisa escolher entre ser mãe e ter uma carreira.

E também faço coisas que me ajudam a me reorganizar quando tudo fica confuso e me perco de mim.

– Vou para minha comunidade e converso com outras mulheres;

– Converso com meu filho e reafirmo nosso amor com o olhar;

– Chamo meu time e líderes e alinho nossas expectativas;

– Me lembro das minhas vitórias e falo alto no que sou incrível;

– Escolho um dos pratos que eu deveria equilibrar e jogo ele no chão.

Vivemos tentando equilibrar vários pratos, nos cobrando quando alguns se quebram. Deixe que caiam. Antes eles quebrarem do que você.

Com amor e potência,

Dani Junco, B2Mamy

Publicidade

Compartilhe

Veja também

  • Como as marcas podem combater o racismo na publicidade?

    Como as marcas podem combater o racismo na publicidade?

    Agências, anunciantes e pesquisadores discutem como a indústria pode ser uma aliada na pauta antirracista, sobretudo frente ao recorte de gênero

  • Cida Bento é homenageada pela Mauricio de Sousa Produções

    Cida Bento é homenageada pela Mauricio de Sousa Produções

    A psicóloga e ativista vira personagem dos quadrinhos no projeto Donas da Rua, da Turma da Mônica