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Opinião

Acolhimento, exaustão, medo e muita reflexão

O aprendizado com o terremoto em Marrocos durante o evento Desert Women Summit


14 de setembro de 2023 - 15h46

(Crédito: TimeaPeter/AdobeStock)

Acordei cedo para embarcar para Marrocos, animada pelo que me esperaria no Desert Women Summit – evento organizado pelo Instituto Leke e o Grupo Xaluca. Um dia antes, na segunda, em uma espécie de déjà vu, quase fui para o aeroporto na data errada, acho que era meu instinto feminino me preparando para as surpresas positivas e, ao mesmo tempo, desoladoras que todas iríamos vivenciar, ainda que de forma indireta. 

Infelizmente, o terremoto não poupou os marroquinos, país tão querido e amável, de um povo de coração grande e generoso. Depois de um voo longo, três conexões e mais algumas horas de carro pelo deserto, totalizando 28h de translado, finalmente chegamos ao reduto que nos receberia e acolheria mulheres inspiradoras para debater o futuro do empreendedorismo. 

O calor era escaldante, como já esperado no deserto, mas a energia que emanava das pessoas que estavam ali, recaia como um bálsamo reconfortante. Posso dizer, como brasileira, que não existe povo mais prestativo e gentil que o marroquino.  Gratidão.  Vi raios e chuva – confesso que não imaginava um dia ver isso, não no deserto! Essa foi minha segunda ida para Marrocos, nesta terra que nos acolhe tão bem. 

Já no hotel Kasbah Xaluca, em Arfoud, dei minha contribuição no primeiro dia de conversas. Falei sobre o acesso a recursos e apoio para o desenvolvimento de negócios liderados por mulheres, bem como a importância do papel da mulher, da união e do fortalecimento do ecossistema na nova era da economia feminina. Pude compartilhar e dividir o espaço ao lado de grandes lideranças brasileiras, que são verdadeiras inspirações para mim. No decorrer dos dias também acompanhamos discussões acaloradas e igualmente interessantes, sobre redes de apoio e mentoria, desafios e oportunidades no mundo dos negócios, bem como a necessidade de inovação. 

Destaco a participação da Deputada Federal, Iza Arruda que, com maestria e desprendimento, contou-nos sobre os avanços e desafios da participação das mulheres na política. Além disso, foi abordado o papel delas na promoção da igualdade de gênero, empoderamento econômico e autonomia financeira das mulheres em situação de risco e vulnerabilidade social. O encontro também proporcionou momentos de relaxamento com mediação conduzida pela atriz brasileira, Luciana Vendramini, e ainda temas relacionados ao autocuidado, autoestima, autoconhecimento, gerenciamento do estresse e saúde integrativa. 

TERREMOTO

Felizmente, e em um grau infinitamente menor, também sentimos os impactos e abalos do terremoto de magnitude 6,8 e que, inevitavelmente, deixou muitos mortos e feridos. Quem sentiu mais foram a mulheres hospedadas no terceiro andar do prédio. Não pensávamos que fosse um terremoto. A notícia da tragédia demorou para chegar até nós, já que o sinal de internet era muito ruim no deserto do Saara. Estávamos a 500km do ápice do tremor, que ocorreu em Ighil, nas montanhas do Alto Atlas, cerca de 70 quilômetros a sudoeste de Marrakech. 

O desastre aconteceu às 23h11, hora local, e às 19h11 horário de Brasília. Nessa noite, estávamos no hotel, em uma festa marroquina, Gabi Lopes, Nina Silva e eu. Porém, apenas no dia seguinte, quando já nos encontrávamos no alojamento montado no deserto, é que, de fato, ficamos sabendo o que houve, a perda irreparável de vidas e de casas. Os moradores perceberam e saíram rápido, exceto nós, brasileiras. A tristeza tomou conta de todas, à medida em que acompanhávamos as notícias locais. 

A viagem para Marrocos teve um sentimento diferente dessa vez. Uma das lições que aprendi ao me despedir, já no voo para o Brasil, é a importância de se respeitar a mãe natureza. Ela não perdoa. Toda ação tem uma reação. Voltamos com um sentimento de tristeza e, ao mesmo tempo, pensando em como poderíamos contribuir para o mundo. Já fizemos contato com associações para ajudar, ONGs, e estamos contribuindo de alguma forma para ajudar a reparar um pouco a dor dos nossos irmãos, e em gratidão ao que recebemos deles durante esses sete dias intensos e aprendizados. 

Marrocos vai se levantar novamente em respeito às vidas que se foram. Por aqui, do Brasil, elevamos nossos pensamentos emanando energias positivas, e com o coração cheio de gratidão e amor. 

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