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Opinião

Equação sem solução?

A intensidade de tudo o que precisamos fazer, multiplicada por todos os papéis que devemos ter, cria uma equação de altíssima complexidade


13 de maio de 2024 - 9h35

Há uns 15 anos, eu atendia um cliente de produtos de cuidado pessoal e beleza. Adorava liderar aquela conta: entender o imaginário feminino, falar sobre os (eternos) desafios e as (também eternas) agruras de ser mulher, trabalhar com os diferentes modelos mentais de beleza… tudo isso me encantava.

Num dado momento, a agência para a qual eu trabalhava produziu e apresentou para este cliente um estudo sobre a evolução da beleza ao longo das décadas – o que estava conectado, obviamente, ao papel feminino na sociedade e sua evolução ao longo dos anos.

A apresentação acabava na década de 2000, em que se chegava à conclusão de que as mulheres tinham se tornado multi-mulheres, multitarefa.

Isso significava que elas deveriam, por definição, dar conta da casa, da família, dos filhos e do trabalho em igual capacidade e competência. As capas de revista da época, que ditavam o estilo de vida antes das redes sociais, ilustravam esse conceito de forma literal e criavam essa expectativa (estarrecedora, eu sei. Vejam ao final deste artigo dois exemplos).

Muito bem: o tempo passou, o mundo mudou, a vida seguiu.

Evoluímos em parte. Involuímos em outra parte, também.

E agora, em pleno 2024, me vejo uma adulta responsável numa encruzilhada diferente, mas parecida: liderar equipes no momento em que vivemos pressupõe uma “nova multi-capacidade”.

Uma liderança de negócios na indústria criativa precisa ter domínio sobre o seu modelo de negócio, o dos seus clientes, e deve entender como usar as alavancas que tem à mão para desenvolver negócios para sua agência enquanto o faz para os seus clientes. Sem resultado financeiro para ambas as partes, o jogo não se ganha.

Ela precisa ter sensibilidade, empatia e jogo de cintura para conversar com clientes, de um lado, e com seus parceiros de agência, estúdio, produtora e/ou veículo, de outro.

Ela precisa entender como mobilizar e motivar profissionais de diferentes perfis, gerações e origens. Deve desenvolver profissionais e auxiliá-los a superar seus medos, dificuldades e angústias para torná-los profissionais de alta performance, com sensibilidade e equilíbrio para preservar a saúde mental dos times. Precisa ter delicadeza para trazer luz a pontos de melhoria e desenvolvimento nas equipes dos clientes, também.

Já dizia Rosalynn Carter: “Bons líderes levam pessoas aonde elas querem ir. Grandes líderes levam as pessoas a lugares em que talvez elas não queiram estar – mas são os lugares certos.”

Esta mesma liderança precisa estar atenta às oportunidades e desafios do presente – relacionais, operacionais, contextuais e de negócios. Organizar o trabalho, contribuir para o briefing, azeitar as engrenagens, seguir os processos e manter a relação com o cliente no eixo, correspondendo a demandas, recursos, prazo, qualidade e orçamento.

Entender de redes sociais, conhecer os trending topics, falar sobre as amenidades do momento, levar novidades e leveza ao cliente, saber do que ele gosta…

E, como se todo o acima já não fosse suficiente, precisa dar conta de entender o que vai acontecer no futuro: AI, XR, trabalho distribuído, geração alpha, spatial computing… e a lista não acaba.

Se tuuuuuudo acima já não fosse trabalho suficiente, muitas destas lideranças, especialmente as que são mulheres, ainda acabam seus dias em um (décimo) terceiro turno: ainda cuidam da casa, dos filhos e dos pais.

Se identificou com a lista e a sensação de cansaço que ela traz?

Você não está sozinha.

A intensidade de tudo o que precisamos fazer, multiplicada por todos os papéis que devemos ter, cria uma equação de altíssima complexidade pra gente resolver.

E sem aliados, ninguém resolve essa equação.

Revista Veja edição especial – Mulher (Ano 39, nº 65, Junho de 2006)

 

Revista Aurora, 2012

 

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