Mais vale um homem com o cargo enquanto duas mulheres esperam?

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Opinião

Mais vale um homem com o cargo enquanto duas mulheres esperam?

Como a série Succession representa o machismo real nas corporações


21 de junho de 2023 - 8h02

Quem acompanha minhas colunas aqui sabe que eu adoro fazer paralelos entre o mundo das séries e o da vida real: sigo acreditando que Hollywood se inspira e alimenta, simultaneamente, o nosso zeitgeist.  

Nas últimas semanas, duas das melhores que eu vi nos últimos 12 meses chegaram ao fim: Succession e Ted Lasso. Então, começo por um aviso importante: há spoilers grandes a seguir sobre a primeira!  

Penso que uma das razões pela qual ambas me fisgaram como espectadora foi trazerem mulheres de negócios como protagonistas. Personagens diferentes, mas igualmente impactantes.   

Quero falar aqui de Shiv Roy, a única filha mulher na família disfuncional de Succession. E se no começo ela nos é apresentada de certa forma como “queridinha do papai”, ao longo da série a gente percebe que não é bem assim. E se já é difícil como mulher termos que nos provar para os nossos respectivos mercados de trabalho, imaginem ainda precisar demonstrar a mesma capacidade para os seus irmãos, que competem com ela pela sucessão do pai (vem daí o nome da série).  

Mas de todos os perrengues pelos quais ela passou na série, nenhum foi mais cruel do que o destino dela – ser trocada na liderança do império pelo ex-marido, muito menos competente tecnicamente.  

Nas palavras do homem branco cis que compra o conglomerado, vem as “explicações”: a primeira – ele não queria uma pessoa que tivesse ideias próprias, mas sim alguém que executasse as ideias dele. E depois, a derradeira e pior: “Se eu posso ter qualquer pessoa do mundo, por que não pego o cara que botou o bebê dentro dela ao invés da moça grávida?”  

E se ele fala esse absurdo, outros falam muitos mais. Quando ela (mais uma vez) pleiteia a posição de CEO no grupo dos irmãos com um consultor mediando o papo, ela ouve: “o nome de uma mulher não acalmaria o mercado”.  

Pois bem: assistir essa série – e especialmente, a última temporada dela – foi um soco no estômago, que me fez questionar mais uma vez se estamos caminhando para a frente, de fato, ao pensar em mulheres na altíssima liderança. Fui buscar a resposta nas estatísticas dos últimos anos:  

– O festival Cannes Lions, desde 2011, premia pessoas que contribuíram com a indústria da criatividade com o Leão de São Marcos. Quantas são mulheres na lista? 3. De um universo de 14 nomes.  

– A revista Consumidor Moderno elegeu, nos últimos 10 anos, apenas uma CEO do ano mulher. (será que esse consumidor é moderno mesmo, rs?)  

– O jornal Valor Econômico também escolhe os “executivos de valor” anualmente. Entre 2018 e 2022, ele distribuiu prêmios para 17 mulheres e 98 homens.  

A resposta óbvia à pergunta do título é “não”. E estas estatísticas tão doloridas me fazem vir aqui para lembrar a todas e todos que lerem esse artigo: essa realidade precisa mudar. E rápido.   

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