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Opinião

O impacto do nosso silêncio

Que tal revermos nossos vieses e passarmos a aplaudir mais as nossas colegas que falam abertamente sobre seu sucesso? Que tal olharmos com atenção para as diferenças salariais? Que tal ajudarmos mais a nos elevar às posições que merecemos?


8 de junho de 2022 - 10h32

(Crédito: Jorm S/Shutterstock)

Há 20 anos, um estudo identificou que mulheres que se autopromovem, ou seja, que falam sobre suas conquistas no ambiente de trabalho, eram percebidas como menos competentes, menos sociáveis e menos contratáveis que homens que fazem o mesmo. Desde então, mais estudos foram realizados e o dado, pasmem, continua sendo verdadeiro.

É comum ouvirmos histórias de rejeição a mulheres que, ao assumirem uma posição de liderança em uma empresa, são devidamente apresentadas com todas as suas credenciais. Enquanto homens são aclamados por suas conquistas profissionais, mulheres veem sua competência ser questionada. “Pra que se gabar tanto? Não deve ser lá essas coisas”.

E para piorar o cenário, não são apenas os homens que as criticam. São as próprias mulheres. As mesmas que, muitas vezes, sofreram as dores do crescimento corporativo. Essas que foram preteridas em vagas de liderança, ou que foram solenemente ignoradas em reuniões. Essas que foram assediadas e estiveram presentes em salas apenas para cumprir cota.

Falar sobre isso é importante porque a autopromoção e a capacidade de celebrar as vitórias são talentos essenciais ao crescimento e ingredientes primordiais na receita da inclusão.

Nos Estados Unidos, para cada dólar que um homem ganha, uma mulher recebe US$ 0,83. Se essa mulher não for branca, os centavos são ainda menores. A diferença não parece tão grande se não colocarmos em perspectiva: em quarenta anos de carreira, uma mulher terá feito aproximadamente US$ 417 mil a menos que um homem, de acordo com o National Women’s Law Center. E, no caso das latinas, negras e americanas nativas, a diferença pode ser superior a US$ 1 milhão, algo impossível de ser recuperado.

Uma das grandes razões para isso acontecer é o fato de mulheres terem dificuldade de negociar o seu primeiro salário. Apenas 7% não aceitam de cara o que lhes é oferecido e fazem uma contraproposta, enquanto 57% dos homens não hesitam em pedir mais.

Com isso, salários iniciais de homens tendem a ser 7,6% mais altos que os de mulheres, gerando o gap absurdo mencionado acima. 

Por termos medo de críticas e julgamentos, ou por quaisquer outros motivos, mulheres também não se candidatam a vagas para as quais não preencham todos os requerimentos. Já os homens estão satisfeitos em preencher apenas 60%.

São muitos os dados que comprovam que o nosso silêncio e a nossa falta de apoio a mulheres que proclamam suas vitórias nos colocam em desvantagens hoje e nos desfalcam financeiramente amanhã.

Que tal revermos nossos vieses e passarmos a aplaudir mais as nossas colegas que falam abertamente sobre seu sucesso? Que tal olharmos com atenção para as diferenças salariais? Que tal ajudarmos mais a nos elevar às posições que merecemos?

Como disse Madeleine Albright, “há um lugar especial no inferno para mulheres que não apoiam outras mulheres”. E o silêncio nunca foi uma forma de apoio.

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