O copo meio cheio de Juliana Ballarin, da Johnnie Walker
Diretora de marketing de Scotch na Diageo para Brasil, Paraguai e Uruguai fala sobre ser mulher em segmento historicamente dominado por homens
O copo meio cheio de Juliana Ballarin, da Johnnie Walker
BuscarDiretora de marketing de Scotch na Diageo para Brasil, Paraguai e Uruguai fala sobre ser mulher em segmento historicamente dominado por homens
Michelle Borborema
23 de março de 2022 - 9h14
Criada com duas irmãs mais velhas na cidade de Bauru, interior de São Paulo, Juliana Ballarin, atual diretora de marketing de Scotch na Diageo para Brasil, Paraguai e Uruguai, não hesita ao falar sobre como faz parte das estatísticas de mulheres brasileiras que são demitidas das empresas na volta da licença-maternidade e que foram assediadas em bares e baladas.
Um estudo feito pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), com 247 mil mães, mostrou que 50% das mulheres são demitidas no retorno da licença-maternidade. Outra pesquisa, conduzida pela Johnnie Walker e liderada pela Studio Ideias, concluiu que 66% das brasileiras são assediadas em bares, baladas, restaurantes ou casas noturnas.
“Na minha segunda gravidez, fui desligada por telefone no retorno da licença-maternidade. É uma violência. Nós nos perguntamos o que fizemos de errado, até entendermos que não houve erro nosso, mas da sociedade, que ainda permite a recorrência dessa estatística. Isso me trouxe a convicção de ir atrás de números como esse e contribuir para mudá-los. E, quando somos líderes, isso depende de colocarmos a pauta como prioridade nas empresas”, defende.
A sensibilidade e a força com que Juliana fala sobre sua vivência pessoal parecem ser fatores importantes para suas tomadas de decisão como liderança de um segmento ainda dominado por homens. Há quase quatro anos na Diageo, ela começou em 2018 como gerente de marketing sênior da marca de cachaça Ypióca. Em apenas um ano, assumiu a posição de Head de Marketing de Scotch, à frente das marcas Johnnie Walker, Old Parr e Black & White. No início de deste ano, passou a liderar o portfólio de uísques para Brasil, Paraguai e Uruguai.
SER MULHER NO SETOR DE WHISKY
“Tenho duas pautas que vivi na minha vida pessoal e hoje fazem parte da minha agenda como mulher e líder: a maternidade e o assédio. Faço parte das estatísticas de mulheres que já passaram por assédio em bares e baladas. Quase 89% delas não denunciam, seja por não saberem como fazê-lo ou por medo e vergonha. Quando aconteceu comigo, também não fiz nada. Já vivi isso, e levo essa vivência para o lado de cá.”
O assédio em bares e baladas é uma realidade no Brasil e no mundo e tem sido pauta constante nas reuniões de Juliana e em ações da Diageo. Em associação recente com a Fundação Dom Cabral, a empresa fez uma parceria com a startup Women Friendly, que certifica espaços que sejam livres dessa cultura de desrespeito em locais associados a bebidas alcoólicas. A união se justifica pelos impressionantes resultados da pesquisa conduzida pela Johnnie Walker: cerca de 78% das mulheres que trabalham em bares, restaurantes ou baladas já declararam ter sofrido algum tipo de assédio sexual.
A mesma pesquisa apontou que mais de 53% não se sentem confortáveis em ir para um bar ou uma balada sozinhas. “Nós, como líderes de mercado, donos de uma marca forte, que fala de ‘keep walking’, não podíamos deixar de olhar pra isso. Estamos treinando bartenders e garçons pelo Brasil para que esse tipo de situação não aconteça, e todos os estabelecimentos treinados terão um certificado ‘Women Friendly’, para que as mulheres se sintam mais seguras”.
A cadeira de Juliana ainda é um privilégio de poucas mulheres, sobretudo no segmento, mas o desafio é prioridade na empresa. “Hoje, 50% do grupo diretivo de Diageo no Brasil é composto por mulheres. Globalmente, a porcentagem é 52%. E, embora a categoria de whisky ainda seja vista como masculina, 30% dos consumidores são mulheres, o que não é pouco. Além disso, nossa master blender é Emma Walker. É ela quem dita a tendência de whisky da marca, o que é inspirador”, completa.
O PODER DO EQUILÍBRIO
Formada em arquitetura, Juliana começou a trabalhar com marketing digital ainda na faculdade e não largou mais. “Tive um amor à segunda vista pelo marketing. No começo, fiz alguns estágios em arquitetura, mas vi que não era mesmo minha praia. É um trabalho maravilhoso, mas gosto do contato humano. Foi aí que, fazendo um curso de web design, surgiu uma oportunidade em um trabalho de marketing e nunca mais fui embora.”
Para Juliana, seu maior desafio na vida é conciliar a maternidade com a carreira. Com três filhos, entre eles um casal de gêmeos de 11 anos, a executiva diz que sempre teve papéis para equilibrar. Acredita, porém, que isso só agrega, em casa e no trabalho. “Ser mãe foi uma escolha importante para mim, mas também não queria abrir mão da minha vida profissional. Minha primeira gravidez foi fundamental nesse sentido, pois fui promovida grávida, voltei e assumi uma nova área. Consegui conciliar tudo de forma muito produtiva. Mas a empresa em que estava na época [Pepsico] já era antenada nos valores e no papel da mulher, então tive essa oportunidade.”
A executiva garante: “Acredito que toda mulher pode ter essa experiência por escolha própria, se quiser. Sim, é possível ter tudo. Temos energia e potencial para exercer essa mudança. Sou uma mulher que olha o copo meio cheio, quer mudar a realidade, buscar um mundo mais justo e equilibrar os papéis da vida pessoal e profissional. Sou uma eterna otimista e vou buscar equilíbrio sempre, acreditando que vou fazer a diferença.”
Compartilhe
Veja também
Como as marcas podem combater o racismo na publicidade?
Agências, anunciantes e pesquisadores discutem como a indústria pode ser uma aliada na pauta antirracista, sobretudo frente ao recorte de gênero
Cida Bento é homenageada pela Mauricio de Sousa Produções
A psicóloga e ativista vira personagem dos quadrinhos no projeto Donas da Rua, da Turma da Mônica