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Primeira CEO negra do Brasil, Rachel Maia destaca a importância do pertencimento

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Primeira CEO negra do Brasil, Rachel Maia destaca a importância do pertencimento

Executiva acumula extensa experiência no mercado de luxo e consumo e hoje dedica-se a diversos conselhos e sua consultoria voltada a Diversidade & Inclusão


21 de setembro de 2023 - 8h01

Rachell Maia, CEO da RM Consulting (crédito: Arthur Nobre)

Primeira mulher negra a ocupar o cargo de CEO no Brasil, Rachel Maia é uma ávida estudante que concluiu diversos MBAs em algumas das universidades mais prestigiadas do mundo, como Harvard, USP e FGV. “Sempre acreditei que se atualizar é uma fórmula de continuar inovando. Essa é a dica para todos os meus mentorados. Conhecimento é poder, ninguém te tira”, reflete. Com passagens pelas presidências de empresas como Tiffany & Co Joalheria, Pandora e Lacoste Brasil, atualmente atua a frente de sua consultoria RM Consulting, atendendo a companhias como o grupo Carrefour, Comgas, Hering, JBS, Sum Up, XP Investimentos. Reconhecida como Great Place to Work Líder de Trabalho por 5 anos, Rachel também conquistou o Prêmio Personalidade do Ano, concedido pela Exame Melhores e Maiores. A executiva ainda é Conselheira da CVC e Vale, além de presidente do Pacto Global da ONU. 

 Sendo a mais jovem de sete irmãos, Rachel Maia passou toda sua vida escolar em instituições públicas e compartilhava um quarto com suas irmãs. Sua brincadeira preferida era uma boneca feita de sabugo de milho, que ela descreve como “muito bonita e bem-vestida!” Ela recorda com carinho a marcante alegria e o valor do respeito ao próximo que sua infância lhe proporcionou. Rachel atribui ao seu pai a lição de que dedicação aos estudos e preparação são de extrema importância, enquanto sua mãe lhe ensinou que coragem e sensibilidade são qualidades que a levariam para longe. 

Com um histórico de mais de três décadas de atuação nos setores de Consumo e Farmacêutica, começou a trabalhar ainda adolescente como monitora em escola pública. Após formação em Ciências Contábeis, iniciou sua trajetória no meio corporativo na Cia’s Seven Eleven, onde atuou por sete anos. Com a intenção de aprimorar seu conhecimento em língua inglesa, viveu um ano e meio no Canadá, onde estudou na University of Victoria. “Foi um período muito importante pra mim, porque eu conheci uma nova cultura, novos povos como os aborígenes. Eu, da minha casa, fui a primeira a sair para estudar de uma forma bem disruptiva. Foi algo muito especial pros meus pais, pra toda a minha família, pois ninguém tinha feito isso na minha casa”, conta. 

No retorno ao Brasil, iniciou atuação como controller na farmacêutica Novartis, responsável pela unidade de negócio das lentes de contato em escala global, fazendo interlocução com a base da Suíça. “Foi muito importante pra mim porque era um universo novo, onde eu tinha contato com toda a parte global e já praticava meu inglês”, lembra-se. Nesta época, concluiu seu primeiro MBA na Fundação Getúlio Vargas. 

Com a intenção de se aperfeiçoar profissionalmente, voltou a estudar no exterior por cerca de um ano. Desta vez, a universidade era a prestigiada Harvard e o curso chamava-se Negotiation School. Mais uma vez de volta ao Brasil, assumiu o cargo de CFO na joalheria Tiffany & Co. “Existia a questão de eu ser uma outsider dentro daquele meio. A diversidade não era algo comum dentro do universo de luxo, mas eu estava focada na minha carreira, em crescer. E muito dedicada aos estudos, já estava no meu terceiro MBA. Eu era o contato de Nova York no Brasil e acumulava toda a responsabilidade porque além de ser uma empresa de luxo, é completamente financeira”, conta Rachel. 

Em abril de 2010, a executiva assumiu como presidente da joalheria Pandora no Brasil e relembra que em um ano chegou a viajar a negócio para a Dinamarca por 17 vezes. “Foi algo espetacular, porque eu fiz a expansão da marca, além de disseminar a questão da diversidade de gênero, PCDs e raça de uma forma que eu podia fazer palestras sobre o tema que acredito para falar da importância da pluralidade na liderança”. Contando com uma verba baixa para investimentos, Rachel conseguiu fazer a marca se tornar desejada através de relacionamento e networking. “Dentro de um processo de liderança, relacionamento e empatia, não via apenas o resultado, mas o resultado combinado com pessoas e networking”. 

 Apaixonada pelo universo da moda, em seguida assumiu o desafio de sentar-se na cadeira de CEO da Lacoste no Brasil. Nesta mesma época, inicia sua experiência em Conselhos de Administração atuando como presidente do comitê da Câmara Americana de Comércio (Amcham). Atualmente, atua em conselhos nos mais diversos segmentos como turismo (CVC) e minério (Vale). 

 Rachel garante que o que há em comum entre todas eles são a estratégia, que envolve compreender as decisões cruciais, a interação com indivíduos, a inovação, a escolha do momento certo para agir e a capacidade de efetivar ações. Além disso, engloba a concepção de um projeto, a definição de um propósito e a implementação de uma estrutura de gestão eficaz.  Para ela, gerar oportunidades também faz parte desse contexto estratégico, quando se foca em uma visão ampla e abrangente, independentemente do setor em questão.   


Desde o início de sua carreira, Rachel é engajada em liderar transformações que envolvam diversidade e inclusão, principalmente na questão de raça, um tema recorrente em suas palestras pela RM Consulting. “Nós estamos fechando um ciclo onde a negritude passa por justiça. Agora sabemos que temos o nosso valor, nossa vez, mas sabemos também que fomos tirados de um processo de escravidão sem nenhum tipo de política pública para nos reingressar na sociedade. Isso é um tema complexo que a sociedade como um todo não quis considerar, mas hoje nós estamos discutindo e é muito importante. Eu quero falar de corpos pretos sendo incluídos e pertencentes à sociedade. É diferente você estar a você pertencer”, reflete. 

Mãe solo de Sarah Maria e Pedro Antônio, a executiva confessa que os filhos são de fato os maiores desafios de sua vida. “Eu não tenho dúvida de ter errado ou de continuar errando. Está tudo certo errar [nos negócios]. Mas com os filhos é sempre uma caixinha surpresa. Queremos sempre dar o melhor e surpreender, mas nem sempre conseguimos”.  

Obstinada a sempre oferecer o melhor exemplo, fundou ao lado da irmã o Projeto Social Capacita-me – com o viés na educação e empregabilidade de pessoas em situação de vulnerabilidade. O programa oferece 14 cursos por semestre que vão desde informática a manicure, 100% gratuitos e a única exigência é que os candidatos tenham acima de 18 anos. “O primeiro curso foi de 160 horas letivas para mais de 40 pessoas e quem fez o encerramento foi o cantor Péricles”, relembra. 

Engajada em questões de ESG há mais de 15 anos, Rachel sempre olhou para esses temas não somente nas empresas que liderou mas também nos Conselhos de Administração por onde passou. “Minha relação com a sustentabilidade começou de forma bem simples, porque eu amo lidar com a terra, me reenergiza. Se você for na minha casa, tem que pedir licença para as minhas plantas. Todos os ambientes da minha casa têm um verde. Além disso, aprendi a reciclar desde muito cedo, que não é apenas separar o plástico do orgânico, é o respeito com o próximo. Não fazer aquilo que não gostaria que fizesse contigo. Essa é a minha relação com a sustentabilidade e com o ecossistema “, conta. 

Nos momentos de lazer, Rachel gosta de se dedicar à culinária e aproveitar o tempo com familiares e amigos. Ávida leitora, faz questão de indicar alguns livros como a autobiografia da atriz Viola Davis “Em busca de Mim” (Ed. Record), “Renegados”, uma conversa entre o presidente Barack Obama e o músico Bruce Springsteen (Ed. Cia. Das Letras) e “O Momento de Voar” de Melinda Gates (Ed. Sextante). 

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