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Chegada do 5G dá pontapé na aplicação da Internet das Coisas
Características como baixa latência e ultra banda larga abrem portas para maior automação de processos e ampliam capacidade de eficiência de todos os setores da economia
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Giovana Oréfice
29 de julho de 2022 - 8h23
*Atualizada às 09h51
O início do mês de julho foi simbolicamente importante para a evolução tecnológica brasileira. Na quarta-feira, 5, Brasília foi a primeira cidade do País a oferecer o sinal de 5G sem interferências de outras frequências. O feito acontece após alguns meses, após o fim do leilão do 5G, que ocorreu em novembro do ano passado e levantou um montante de R$ 46,7 bilhões. As principais empresas de comunicação do Brasil – Vivo, TIM e Claro – foram responsáveis por arrematar a maior parte dos lotes de frequência de transmissão.
Seguindo o cronograma de avanço da funcionalidade pelo território nacional, conforme indica a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), as próximas capitais a receber o 5G são Porto Alegre, Belo Horizonte e João Pessoa.
Diferente do que pode levar a imaginar o senso comum, a chegada da tecnologia não serve apenas para aumentar a área de cobertura de Internet sem fio e fazer com que a velocidade seja maior no uso de smartphones conectados. A evolução ganha um sentido mais amplo com sua aplicação na indústria e é decisivo para colocar ainda mais em prática a chamada “Internet das coisas”, que teve seus primeiros experimentos feitos a partir de internet cabeada. “Parece até um pouco clichê, mas a palavra ‘coisa’ não está aí por acaso, porque realmente o termo foi cunhado quando as pessoas não sabiam de verdade o que ia acontecer”, destrincha Carlos Rafael, professor de sistemas de informações da ESPM.
“A diferença é que, quando se fala de internet das coisas, quem vai interagir com a internet não é você, mas sim um aparelho. […] Ela foi surgindo aos poucos. Dos anos 90 para cá, de pouquinho a pouquinho, a cada ano, alguém vem fazendo coisas. Até que por volta de 2000 a coisa começou a ganhar uma boa forma”, contextualiza Rafael. Neste caso, é preciso ressaltar que a tecnologia é acessível a partir de velhos conhecidos do cotidiano do consumidor comum, como Wi-Fi, celulares e planos de operadora de telecomunicações. A internet das coisas permite que objetos se conectem por meio de uma única rede.
Ainda que eficazes, o 3G e o 4G atendiam necessidades do mercado que não dependessem altamente da rapidez, assertividade do envio de dados e ampliação da cobertura de conectividade. Como exemplo dessa carência, o professor cita o uso de drones para a realização de entregas que diversos varejistas já estão fazendo ao redor do mundo, como é o caso da Amazon nos Estados Unidos. No Brasil, a viabilizadora dessa tecnologia é a startup Speedbird Aero, que tem planos do tipo para empresas como iFood.
Além da baixa latência, o 5G é capaz de operar uma velocidade média de 1.4 gigabit por segundo, representado pela sigla Gpbs, conforme explica Paulo Humberto Gouvêa, diretor de soluções corporativas da TIM Brasil. “Estamos falando de velocidades acima disso em laboratório para usos e aplicações industriais chegando acima de cinco gigabits por segundo na comunicação — a ultra banda larga”, explica. Além disso, ele comenta que a chegada da tecnologia permite o uso de cerca de 3 milhões de dispositivos por quilômetro quadrado.
“O 5G não é uma simples evolução tecnológica de uma operadora de telecomunicações, indo do 4 para o 5G. Ele é um projeto de País para ganho de eficiência e produtividade em todos os setores da economia”, detalha Gouvêa. O potencial econômico é grande: o Ministério da Economia prevê que, até 2035, os benefícios gerados pelo 5G, entre eles o impulso da internet das coisas, tem potencial de fazer com que o produto interno bruto (PIB) do Brasil chegue em US$ 1,2 trilhão — mais de R$ 6 trilhões, de acordo com a cotação atual.
Status brasileiro
Carlos Rafael, da ESPM, admite que, quando comparado a países como Estados Unidos e China, o Brasil ainda está atrás no que diz respeito à internet das coisas. “Hoje, aqui no Brasil, temos muito de internet das coisas em indústrias e empresas, porque o conceito é vago. Então, qualquer coisa que está na Internet e operado por um ser humano, pode ser considerado internet das coisas”, declara.
Um dos mais conhecidos projetos envolvendo a internet das coisas é a construção de cidades inteligentes. Em 2017, Bill Gates, fundador da Microsoft, foi um dos pioneiros nessa temática. As cidades do futuro, como também são chamadas, dependem de uma rede do tipo para garantir mobilidade com transporte limpo, por exemplo, entre eles os carros autônomos, redes ultra velozes e polos logísticos. Ademais, as smart cities – do termo em inglês – devem contar com tecnologia de ponta. Uma empresa afiliada do bilionário chegou a adquirir, por um montante de R$ 80 milhões, uma área desértica próxima à cidade de Phoenix, no Arizona, Estados Unidos, para a construção de uma comunidade com esses fins.
Contudo, a implantação da internet das coisas dá passos mais simplificados no Brasil e fomenta a materialização da indústria 4.0. A TIM já conta com projetos voltados para a conectividade do agronegócio e, hoje, realiza a cobertura de 7 milhões de hectares, e mais de 25 mil km por rodovia, e beneficia 900 mil pessoas — que eram excluídas do ponto de vista do acesso à conexão. Já no ano passado, ao lado da Accenture, a companhia auxiliou na implantação de um piloto de uma planta de indústria inteligente que utiliza o 5G como base da conectividade: Polo Automotivo Stellantis de Goiana, em Pernambuco.
“Estamos no começo desse papel da operadora de telecomunicação com a indústria do ponto de vista de levar essa conectividade sem fio, dando mobilidade ao processo produtivo com o uso de tecnologia, e não mais sendo cabeado”, comenta o diretor de soluções corporativas. “Quando olhamos para o caso do Brasil — de processos disruptivos, ganho de produtividade, automação de processos — estamos falando das pessoas deixarem de fazer trabalhos repetitivos que podem ser muito bem feitos por máquinas e ter a união da inteligência artificial para que elas façam trabalhos mais de tomada de decisão, criatividade, trabalhem junto com os processos”, acrescenta.
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