4YFN: o impacto social da IA em startups africanas
Empreendedores da Etiópia, Nigéria e do Quênia mostram como a tecnologia pode causar mudanças profundas em comunidades de seus países
Empreendedores da Etiópia, Nigéria e do Quênia mostram como a tecnologia pode causar mudanças profundas em comunidades de seus países
Sergio Damasceno Silva
4 de março de 2025 - 12h14
As startups são parte importante do ecossistema que agrega expositores, visitantes e palestrantes do Mobile World Congress (MWC).
Paralelamente ao MWC, acontece, todo ano, o 4YFN, inclusive compartilha o mesmo espaço: o MWC ocupa os pavilhões 1 a 7 da Fira Barcelona e o pavilhão 8, que é gigante, é dedicado ao 4YFN.
O 4YFN é o evento de startups mais influente da Europa.
Nesse evento, startups, investidores e corporações estão presentes para mostrar suas inovações e impulsionar novos empreendimentos comerciais.
É um dos encontros de referência para o ecossistema empreendedor internacional, onde startups de tecnologia, investidores, corporações e instituições públicas se encontram para gerar sinergias e acordos comerciais conjuntos.
No ano passado, o 4YFN, reuniu 930 startups e exibidores, 105 países e territórios, mais de 100 mil visitantes e cerca de 50 bilhões de euros dos fundos de investimentos representados durante sua realização.
Esse dinheiro não foi, necessariamente, aplicado ou investido, mas é o que estava disponível conforme as carteiras dos fundos presentes.
Perto do mais de US$ 1 trilhão que grandes empresas e governos pretendem investir na inteligência artificial (IA), pode parecer pouco.
Mas, depois de mais de uma década, o 4YFN tem obtido sucesso em ligar o mundo da conectividade via MWC às startups que têm propostas e soluções interessantes para operações locais e internacionais.
Uma das sessões do 4YFN deste ano foi “Nos bastidores da IA: moldando o ecossistema de tecnologia profunda para o impacto”.
À medida que a IA se torna uma força motriz no desenvolvimento global, o painel mostrou como os inovadores têm desenvolvido soluções de IA adaptadas aos contextos locais.
Startups disruptivas e construtores de ecossistemas de IA falaram sobre os desafios e oportunidades ao promover um ecossistema inovador que suporte soluções impactantes.
Nesse painel, participaram a fundadora e CEO da iCog, Betelhem Dessie, o CEO e confundador da Fastagger, Mutembei Kariuki, e o CEO da Crop2Cash, Michael Ogundare.
A Crop2Cash, da Nigéria, apoia agricultores que enfrentam condições de seca para adaptar suas práticas agrícolas por meio de conteúdo de agricultura inteligente para o clima e para gerenciar riscos financeiros por meio de seu mercado digital, e conecta agricultores a sementes de milho de alto rendimento e resistentes à seca via dados de serviços suplementares não estruturados (USSD, na sigla em inglês).
A seca frequente e as altas temperaturas causadas pelas mudanças climáticas têm impacto negativo na produção de milho na Nigéria. Os agricultores no norte do país lutam para acessar o financiamento de que precisam para escalar e transformar suas operações e construir resiliência.
Com base nesse cenário, a Crop2Cash fornece aos pequenos agricultores acesso a financiamento formal para insumos agrícolas e permite que recebam pagamentos digitais e acessem outros serviços financeiros digitais, como crédito.
A Crop2Cash também apoia o acesso a financiamento acessível para pequenos agricultores na Nigéria com plataforma USSD.
A GSMA apoiou a Crop2Cash em novembro de 2022 para conectar agricultores a sementes de alto rendimento e resistentes à seca via USSD e fornecer consultoria meteorológica por SMS personalizada para pequenos agricultores sobre as melhores práticas agrícolas.
Desde a parceria com a GSMA, a Crop2Cash atendeu 20.701 pequenos agricultores com a solução USSD, dos quais 5.627 são mulheres; ajudou a construir perfis financeiros para mais de cem mil pequenos agricultores e desbloqueou US$ 2,8 milhões em crédito e os agricultores que usam a plataforma relataram aumento de 70% na renda.
“Estamos tornando os pequenos agricultores da Nigéria financeiramente inclusivos. O GSMA Innovation Fund nos permitiu dimensionar nossos modelos de negócios e desbloquear benefícios adicionais por meio de assistência técnica e oportunidades de networking,”, afirma o CEO da Crop2Cash, Michael Ogundare.
Betelhem Dessie, da iCog, da Etiópia, é uma empreendedora de educação tecnológica, conhecida por seu trabalho transformador no cenário tecnológico emergente do país.
Reconhecida por grandes veículos como CNN e BBC como jovem pioneira, Betelhem também foi destaque na lista da Quartz de inovadores africanos para ficar de olho.
Sua jornada destaca a profunda curiosidade sobre tecnologia e seu poder de impulsionar mudanças positivas. Betelhem desenvolveu fascínio precoce por computadores aos oito anos e, aos dez, aprendia a programar.
Adolescente, explorou vários aspectos da ciência da computação e robótica. Em parceria com o iCog Labs, o primeiro laboratório de IA e robótica da Etiópia, lançou a iniciativa iCog, motivada por sua visão de fornecer às crianças em regiões em desenvolvimento as mesmas oportunidades que teve para explorar a tecnologia.
Agora, Betelhem atua como conselheira chefe no iCog Labs e CEO do iCog, e concentra seus esforços em divulgação e pesquisa comunitária, enfatizando o acesso à tecnologia e educação tecnológica.
Seus projetos, portanto, visam descentralizar a tecnologia e capacitar os jovens com as habilidades essenciais necessárias para inovar com tecnologias emergentes.
Sob a liderança de Betelhem, o iCog apresentou mais de 30 mil alunos à codificação.
Também supervisiona projetos de pesquisa que abordam desafios críticos na agricultura, saúde e educação, como o uso de IA para otimizar recomendações de fertilizantes com base em dados de satélite e a análise de mídias sociais para melhorar a comunicação dos jovens sobre saúde sexual reprodutiva.
Outros projetos impactantes incluem Digitruck, uma sala de aula móvel, fora da rede, para áreas remotas, e Leyu, projeto de crowdsourcing de dados para idiomas de poucos recursos para alimentar ferramentas de IA, ao mesmo tempo em que cria oportunidades de emprego para comunidades marginalizadas.
Mutembei Kariuki, CEO e cofundador da Fastagger, do Quênia, é empreendedor de tecnologia.
A Fastagger é uma startup de IA de tecnologia profunda focada em infraestrutura para permitir que modelos de machine learning e IA sejam executados em dispositivos de ponta, como smartphones, em ambientes de baixa energia e baixa conectividade.
A Fastagger faz parte dos programas Nvidia Inception e do primeiro programa acelerador de IA do Google. Kariuki trabalhou com organizações no Quênia, Áustria, Índia e Japão.
Ainda, se envolveu em empreendedorismo social e trabalhou no Brasil, Índia e Filipinas para dar suporte a empresas sociais com a Potência Ventures.
Também aprendeu tecnologias emergentes, como computação quântica, IA, blockchain, internet das coisas (IoT) e impressão 3D, que acredita que irão melhorar radicalmente a qualidade de vida da humanidade.
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