Revolução da IA: caminhos da capitalização da tecnologia
Empresas de telecomunicações defendem que monetização da inteligência artificial passa, obrigatoriamente, por testes internos
Empresas de telecomunicações defendem que monetização da inteligência artificial passa, obrigatoriamente, por testes internos
Caio Fulgêncio
3 de março de 2025 - 12h27
O investimento total em inteligência artificial (IA) no mundo, em 2025, em comparação ao ano passado, deve dobrar de tamanho, chegando a US$ 200 bilhões. Apesar da inegável atenção ao assunto, pesquisa recente da Cisco aponta que 97% dos CEOs estão animados com a IA, mas apenas 1,7% acredita que está realmente pronto para integrá-la aos sistemas principais de sua empresa, o que demonstra o nível de oportunidade de aprofundamento da tecnologia na realidade do mercado.
Nesta segunda-feira, 3, MWC discutiu o quanto as empresas já conseguem monetizar soluções baseadas em IA (Crédito: Caio Fulgêncio)
Para Usman Javaid, diretor de produtos e marketing da Orange Business, integradora de tecnologias da informação e comunicação dedicada ao universo B2B, há três elementos (3 Cs) que ainda não estão prontos para impulsionar o que chama de “revolução da IA”: conectividade, nuvem (cloud, em inglês) e cibersegurança.
Para tentar responder ao desafio, a empresa – parte da global Orange, operadora de infraestrutura de telecomunicações – criou uma plataforma que combina os 3 Cs para que os clientes consigam integrar essas áreas. “Acreditamos que é a melhor forma de fornecer às empresas a base para construir sua estratégia de IA”, disse durante painel nesta segunda-feira, 3, no Mobile World Congress (MWC).
Exemplo prático citado por Javaid foi a criação de um assistente de IA para leitura de exames raio-x e diagnóstico. Esse tipo de trabalho normalmente é feito por médicos, uma vez que a quantidade de radiologistas tem caído no mundo. A partir do programa, médicos poderiam acessar as informações em tempo real e ganhar tempo em outras atividades essenciais.
Para alcançar bons resultados, no âmbito de software, Mitchell Gunnels, vice-presidente assistente de tecnologia da americana de telecomunicações AT&T, diz que é necessário “começar pelo básico”. Ou seja, ao iniciar a jornada da implementação efetiva da IA, é preciso investir em coisas como a construção de proteções da propriedade intelectual, estabelecer política de IA sólida para a empresa, além de implementar mecanismos de monitoramento e detecção de abuso.
“Foi assim que começamos há cerca de dois anos. Depois de estabelecer essa base, conseguimos avançar no desenvolvimento de uma plataforma específica para as demandas da AT&T, que é capaz de receber uma solicitação do setor de negócios e gerar um código necessário para isso em questão de minutos”, explicou.
Esse avanço, obviamente, passa pela complexidade em relação ao manuseio de muitos dados. “Quando pensamos no clico de vida da entrega de software, estamos lidando com 20 anos de código, muita dívida técnica e o desafio de fazer com a que a IA compreenda tudo isso para gerar um novo código de qualidade”, complementa.
A almejada monetização da IA pelas empresas, conforme os executivos, passa pelo uso interno, antes de levar as soluções ao mercado. Javaid contou que, ainda em setembro de 2023, a Orange montou uma estratégia para capacitar e impulsionar os funcionários com soluções de IA generativa (GenAI)
“Lançamos uma ferramenta que nos permite aproveitar modelos de linguagem de grande escala (LLMs) e executá-los em múltiplas nuvens, oferecendo uma interface extremamente intuitiva para garantir o uso seguro e compatível da GenAI internamente. Ela foi projetada par ser fácil de usar, com funções de chat, pesquisa e geração de imagens totalmente integradas”, enumerou.
Como resultados, os 60 mil funcionários alcançados pela solução relataram a economia média de pelo menos meio dia de trabalho por semana. Entre os principais usos estão análise de documentos, desenvolvimento de software e tradução de idiomas. A partir da comprovação, a Orange passou a comercializar o serviço, que se propõe a bater de frente com o uso descontrolado da IA nas empresas ao substituir por algo que pode ocorrer em conformidade com as políticas internas.
“Acho que a fórmula é bem simples: precisamos testar muitas ideias e ver quais funcionam, para, então, apostar alto naquelas que dão certo. Experimentação é a chave. Como mencionei, começamos testando internamente e, depois, ela acabou se tornando um produto de mercado”, resumiu.
Gunnels concordou com Javaid sobre a geração de receita e completou dizendo que incorporar IA na rede é uma grande oportunidade, ainda mais no âmbito das empresas de telecomunicação. Nesse sentido, para ele, o setor precisa ser ousado.
“Estamos constantemente sendo impactados por novos disruptores e não podemos perder essa oportunidade. Parece um daqueles momentos históricos da internet. Esse é um momento decisivo, no qual precisamos agir com ousadia, olhar para a geração de receita e capitalizar ao máximo o potencial da IA”, finalizou.
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