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Opinião

Como o Brasil pode ganhar com a Mobile World Congress na Espanha

O MWC acontece em outro continente, com um generoso oceano Atlântico dividindo nosso país de Barcelona, mesmo assim o Brasil faz parte de toda a programação do evento de algumas formas muito importantes.


29 de fevereiro de 2024 - 15h06

No artigo anterior, contei mais sobre o que é a Mobile World Congress e com quem ela fala. Agora o objetivo é dar foco no que aconteceu durante o evento e que afeta diretamente o Brasil. Mais do que isso, a ideia é entender como o nosso país consegue tirar proveito do maior congresso do mundo quando o assunto é telecomunicações sem a necessidade de ter um fio entre o produto e a parede, liberando o usuário ou empresa para continuar exercendo bem o que faz de melhor.

Tudo isso acontece em outro continente, com um generoso oceano Atlântico dividindo nosso país de Barcelona, mesmo assim o Brasil faz parte de toda a programação do evento de algumas formas muito importantes.

A primeira presença nacional que destaco é uma delegação com representantes dos Poderes Executivo, Legislativo e agências reguladoras do país, além de operadores, empresas provedoras de soluções tecnológicas e de inovação. A delegação oficial é coordenada por 3 instituições:

Telebrasil, uma associação brasileira de telecomunicações com mais de 100 empresas e criada em 1974, como entidade civil de caráter privativo e âmbito nacional, sem finalidade lucrativa.

TelComp, uma organização fundada em janeiro de 2000, representando mais de 70 empresas do setor de telecomunicações e com objetivo de alavancar o desenvolvimento e aumentar a competição na área de telecomunicações através de pautas de interesse das empresas de pequeno e médio porte no Brasil. Um exemplo da força deste grupo de pequenos operadores, é que hoje na banda larga fixa, a soma das conexões destes associados  representa mais de 50% do mercado. Ela é uma forma de representação das companhias associadas perante os Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, envolvendo Ministérios, Congresso, Governos Estaduais e Municipais, Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), Tribunais de Contas e o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE).

E por último, mas não menos importante, a Associação para Promoção da Excelência do Software Brasileiro (Softex) fecha o trio da delegação brasileira. Trata-se de uma promotora de políticas públicas para incentivar a inovação tecnológica no Brasil, com iniciativas ligadas à educação e ao empreendedorismo.

Brasil tem estande próprio dentro da MWC

Além da delegação, o Brasil conta com presença de um estande chamado Brasil IT+ para expor o que existe de melhor no nosso país, com ajuda da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil). A ideia dessa entidade é promover os produtos e serviços brasileiros no exterior, a fim de atrair atenção de possíveis investimentos estrangeiros para setores estratégicos da economia.

Agora, olhando para o que temos de Brasil na MWC, vejo o momento único de juntar todos os operadores e a indústria inteira. A TelComp, por exemplo, mediou um congresso interno no evento com discussão muito positiva de como fazer com que a indústria e o setor de telecomunicações consigam ter suas pautas ouvidas, seja na Anatel em um debate aberto ou no Congresso com senadores e deputados.

Já a ApexBrasil, em paralelo, abriu sua própria discussão e debateu o que posso chamar de um plano estratégico para tecnologias brasileiras, mesmo com poucas empresas ou indústrias realmente do país que temos hoje.

Internet das Coisas é foco para o Brasil

Posso destacar alguns pontos, como a questão da tributação de telecomunicações. Como este é um setor que basicamente impacta toda uma cadeia de valor da economia brasileira, a conversa girou em torna da capacidade de tributação mais elevada impactar as reservas do país como um todo. Outro ponto foi a questão de internet das coisas (ou IoT), com vários estudos apontando que a conectividade em geral, seja numa fábrica, na agropecuária ou mesmo nos campos de colheita, aumenta a produtividade em níveis capazes de girar entre 10% e 30%. Imagine como isso pode impactar positivamente o PIB brasileiro.

Outro destaque da MWC e que tem o Brasil como objetivo está no aumento da competitividade das operadoras, especialmente quando pensamos nas virtuais, ou também chamadas de MVNO em inglês (Mobile Virtual Network Operator). Quanto mais competição a gente tiver no mercado, ele fica mais maduro e temos regionalização mais eficiente para companhias trabalhando em nichos de mercados específicos, onde grandes operadores não alcançam.

A delegação brasileira e demais participantes também discutiram como as tecnologias de conectividade são relevantes para um país de dimensões continentais como o Brasil. As conexões podem ser banda larga fixa ou móvel, mas o papo também envolveu o valor cobrado para utilizar os postes, o 5G ganhando mais presença no Brasil e o satélite como tecnologia fundamental para alcançar regiões afastadas de grandes centros. Isso só é possível se tivermos uma matriz tecnológica e incentivada para toda a infraestrutura.

Fechando o dia de trabalho focado no Brasil, sobre políticas públicas, discutimos como o governo tem um trabalho com o Ministério das Comunicações e objetivos para conectividade chegando em ainda mais áreas e escolas rurais.

Para além do Brasil, mas focando em nossos vizinhos, um painel chamado “Políticas para impulsionar investimentos no futuro digital da América Latina” discutiu a importância de investimentos para inclusão digital da população carente de toda região. Nesta conversa estiveram presentes a delegação brasileira e representantes dos outros países da América Latina.

Com um olhar bastante direto para o que o Brasil pode oferecer ao mundo e principalmente como podemos ter apoio para crescer aqui mesmo, a presença das delegações nacionais na Mobile World Congress nos traz discussões e oportunidades de evolução para o mercado local. É um momento em que a indústria se junta, estando aberta a discussões construtivas e relevantes para o desenvolvimento do país. Seja aumentando a produtividade de indústrias ou do agro ao adotar mais internet das coisas, seja por promover maior competitividade com operadoras virtuais e nichadas em públicos ainda desprovidos de boa conexão.

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