Gêmeos digitais impactam a gestão das cidades
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Opinião

Gêmeos digitais impactam a gestão das cidades

Com o avanço das tecnologias e o amadurecimento dos projetos no mundo todo, a modelagem digital deve se tornar uma peça-chave para a governança urbana no futuro


28 de fevereiro de 2025 - 14h45

O mercado global de cidades inteligentes está crescendo rapidamente, impulsionado pelo avanço das tecnologias digitais e pela busca por maior eficiência urbana, um tema de destaque nas discussões no Mobile World Congress (MWC 2025). Segundo a Fortune Business Insights, esse setor, avaliado em aproximadamente US$ 623,90 bilhões em 2023, deve atingir US$ 4,647 trilhões até 2032, com uma taxa de crescimento anual composta (CAGR) de 25,2%. No Brasil, as iniciativas voltadas para cidades inteligentes já movimentam bilhões de reais anualmente, com investimentos crescentes em infraestrutura digital, energia sustentável e otimização de serviços públicos.

Entre as inovações, o MWC Barcelona 2025 destaca o uso dos gêmeos digitais como uma ferramenta essencial para a transformação dos municípios. Com a crescente complexidade da gestão urbana, novas soluções são fundamentais para integrar dados e otimizar a tomada de decisões. Os gêmeos digitais funcionam como representações virtuais detalhadas de cidades, bairros ou sistemas específicos, combinando informações coletadas em tempo real para criar modelos dinâmicos e interativos.

Essa tecnologia teve suas origens no setor industrial, onde era utilizada para simular e testar equipamentos antes de sua fabricação. Com o tempo, essa abordagem foi adaptada para ambientes urbanos, permitindo que cidades inteiras fossem modeladas digitalmente. Esse avanço abriu novas possibilidades para a gestão municipal, possibilitando uma governança mais eficiente e fundamentada em dados mais precisos.

Esses modelos virtuais podem ser aplicados em diversas áreas. No setor de saneamento, ajudam a prever falhas em redes de abastecimento de água e esgoto, reduzem os desperdícios e melhoram a distribuição. Na mobilidade urbana, a modelagem digital auxilia no planejamento do tráfego e permite simulações em tempo real para melhorar o fluxo de veículos. No setor de energia, contribuem para a gestão mais eficiente da distribuição elétrica, previnem apagões e reduzem custos. Além disso, a segurança pública também pode ser beneficiada, com o uso de modelos para monitoramento e resposta rápida a emergências.

A modelagem digital em tempo real de infraestruturas como rodovias, redes elétricas e sistemas de abastecimento de água permite um monitoramento integrado e ações coordenadas em caso de desastres naturais ou crises urbanas. Com um gêmeo digital operando continuamente, as autoridades podem alocar recursos de forma mais eficiente, minimizando impactos.

Além disso, os gêmeos digitais viabilizam simulações que antecipam cenários críticos. Em Singapura, por exemplo, um modelo 3D integrado foi utilizado para simular evacuações em estádios, garantindo estratégias mais eficazes para segurança pública em grandes eventos. No Reino Unido, um projeto está em andamento, permitindo que cidades compartilhem dados para aprimorar a gestão de infraestrutura e transporte. Já em Shenzhen, na China, houve a redução do congestionamento em mais de 10% sem a necessidade de novas vias, apenas com a análise e alocação de tráfego.

Embora a adoção dessa tecnologia envolva desafios, como o investimento inicial e a necessidade de integração com infraestruturas existentes, esses fatores representam também oportunidades para inovação e modernização das cidades. À medida que mais governos e empresas reconhecem os benefícios dos gêmeos digitais, novos modelos de financiamento, parcerias público-privadas e incentivos regulatórios estão sendo desenvolvidos para viabilizar sua implementação.

Além disso, a crescente digitalização das cidades e a evolução das redes de conectividade, como o 5G, facilitam a coleta e transmissão de dados em tempo real, ampliando o potencial dessa tecnologia. Com iniciativas estratégicas e colaboração entre setores, os desafios podem ser superados, abrindo caminho para uma gestão urbana mais eficiente e sustentável.

Os gêmeos digitais atingem seu verdadeiro potencial quando combinados com outras tecnologias emergentes, como a inteligência artificial, a Internet das Coisas (IoT) e as redes 5G. A IoT permite que sensores conectados em toda a cidade alimentem continuamente o sistema com dados em tempo real. A IA, por sua vez, analisa essas informações e fornece insights para melhorar os processos. Já o 5G viabiliza a transmissão rápida e confiável desses dados, garantindo a eficiência da tecnologia.

No Brasil, a aplicação está em fase inicial e iniciativas promissoras começam a surgir. Foz do Iguaçu está desenvolvendo um projeto-piloto para planejamento urbano, criando réplicas virtuais de bairros para otimizar a mobilidade e a infraestrutura. No Rio de Janeiro, há um exemplo de utilização no mapeamento digital da Rocinha, uma das comunidades mais populosas da cidade, permitindo um melhor entendimento das necessidades dos moradores com o objetivo de aprimorar os serviços públicos.

Outros países também demonstram o potencial dessa tecnologia. Em Dubai, um dos projetos mais avançados de gêmeos digitais está sendo desenvolvido para monitorar a infraestrutura da cidade em tempo real, com objetivos como maior eficiência energética e melhor segurança pública. Nos Estados Unidos, Nova York implementou um sistema de modelagem digital voltada para a redução do consumo de energia e a sustentabilidade de edifícios públicos.

O futuro dessa tecnologia está ligado a um novo conceito de “modelos cognitivos”, onde a inteligência artificial desempenha um papel fundamental na tomada de decisões em tempo real. As cidades estão migrando de infraestruturas físicas dispersas para ecossistemas inteligentes e interconectados. Essa transformação deve impulsionar a criação de ambientes urbanos mais limpos, seguros e com maior qualidade de vida.

Com o avanço das tecnologias e o amadurecimento dos projetos no mundo todo, a modelagem digital deve se tornar uma peça-chave para a governança urbana no futuro. A adoção ampla dessa tecnologia tem o potencial de redefinir a forma como as cidades são planejadas, gerenciadas e vividas, promovendo eficiência, sustentabilidade e inclusão digital.

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