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Opinião

O novo paradigma da comunicação e a inclusão digital

Nos próximos dez anos, de mãos dadas com a inteligência artificial (IA), veremos mudanças mais profundas e transversais do que aquelas imaginadas por Marshal McLuhan


7 de março de 2024 - 17h38

A indústria da comunicação surfa na maior onda de transformação da história. Nos próximos dez anos, de mãos dadas com a inteligência artificial (IA), veremos mudanças mais profundas e transversais do que aquelas imaginadas por Marshal McLuhan. É um momento em que o mundo aponta para o aumento dos processos comunicacionais que são base para uma nova economia e, infelizmente, a América Latina se encontra atrasada, com parcelas da população sem perspectivas de serem incorporadas ao mercado digital.

O contraste entre a nossa região e as economias desenvolvidas é grande. E, mais uma vez, ficou exposto nas conversas que aconteceram em torno do Mobile World Congress (MWC), a mais importante feira de tecnologia do mundo recentemente foi realizada em Barcelona, onde empresas estratégicas para os mercados em que atuam colocaram suas visões de futuro, entre elas a Vrio Corp, controladora da Sky Brasil e a DirecTV Latin America.

Enquanto os processos de automação e aplicação de IA avançam no mundo, a América Latina sofre as consequências da exclusão digital, ou seja, problemas relacionados à conectividade de rede e ao uso de dispositivos conectados, principalmente computadores e smartphones, e em certos locais até da televisão, que faz parte do complexo de dispositivos que compõem as TICs.

O impacto da exclusão digital se dá em muitas áreas, sendo de especial interesse: saúde (telemedicina); trabalho (teletrabalho); educação; e serviços financeiros. A gravidade dessa realidade foi exposta pela pandemia, pelo lockdown e pela impossibilidade de contato entre as pessoas. O fim do isolamento preventivo devido à Covid19 deixou um novo cenário, que acelerou os tempos e a região não gerou as mudanças necessárias para “não perder o trem” da digitalização.

Na América Latina, 67% dos domicílios (71% da população) têm acesso a conectividade significativa, mas nas áreas rurais o percentual despenca para 23% dos domicílios (37% da população), segundo o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). E apenas um terço das escolas tem a largura de banda ou a velocidade de internet necessárias para acessar conteúdo, enquanto nos países da OCDE chega a 66% do total.

No Brasil, com mais de 210 milhões de habitantes, estima-se que cerca de 7,6% dos domicílios estejam fora das áreas de abrangência, deixando mais de 16 milhões de pessoas excluídas digitalmente. E a exclusão digital castiga 74,2 milhões de brasileiros se forem somados fatores como a brecha de uso, a má qualidade do serviço ou a falta de acesso a entretenimento e conteúdo educacional audiovisual.

O impacto na educação de crianças, jovens e adultos, em zonas rurais onde a conectividade ainda não chegou nem tem perspectiva de chegar no médio prazo, é particularmente grave. Nesses casos, a televisão por satélite tem uma resposta a dar: o uso de conteúdos audiovisuais para reduzir a distância entre as possibilidades educacionais e/ou digitais disponíveis entre os setores urbano e rural ou entre áreas ricas e menos favorecidas de uma determinada sociedade. Embora dependa das características de cada jurisdição, é inegável a facilidade de divulgação de conteúdos culturais, esportivos ou educacionais por meio da televisão, especialmente a operada via satélite.

Governos de todo o mundo reconhecem e priorizam o imperativo da conectividade e têm desenvolvido diversas políticas e programas voltados à ampliação do acesso, com resultados variados, formando um catálogo de alternativas com experiências comprovadas, potencialmente replicáveis e escaláveis.

A verdade é que, em determinadas condições, em função das infraestruturas locais, dos aspectos econômicos, geográficos, demográficos e outros aspectos técnicos específicos, o subsídio ao consumidor parece ser a forma mais adequada para incluir o povo. Isso implica o desenvolvimento de políticas de inclusão, de subsídio à demanda, que garantam acesso equitativo à tecnologia e aos conteúdos digitais.

Este tema foi discutido em Barcelona, no âmbito do MWC 2024. Houve um debate entre representantes da sociedade civil; executivos de empresas do setor; o Fórum Latino-Americano de Reguladores de Telecomunicações (Regulatel) e a Associação Interamericana de Empresas de Telecomunicações (ASIET).

Foi uma conversa frutífera sobre as transformações e desafios do setor; recomendações de boas práticas em termos de melhoria regulatória; proposição de projetos de colaboração público-privada para ampliação e instalação de redes, promoção de talentos digitais regionais e políticas para incluir principalmente os mais jovens.

Estamos confiantes de que, juntamente com a REGULATEL e a ASIET, continuaremos nossos esforços para o aprimoramento regulatório do setor de telecomunicações na América Latina, o que levará a um impulso nos investimentos e ao desenvolvimento de políticas públicas que incluam a todos no novo mundo digital com os benefícios que isso acarretará para os países e suas populações.

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