O percurso da diversidade e inclusão na indústria de tecnologia
Definição de objetivos e mensuração contínua de progresso são processos fundamentais para a promoção de políticas de D&I
Definição de objetivos e mensuração contínua de progresso são processos fundamentais para a promoção de políticas de D&I
Caio Fulgêncio
27 de fevereiro de 2024 - 12h39
Destaque entre os temas deste ano, diversidade e inclusão (D&I) foi o assunto do summit Diversity 4Tech, nesta terça-feira, 27, no Mobile World Congress (MWC). A compreensão de que a indústria de tecnologia precisa se alinhar cada vez mais ao tema, a fim de construir produtos e soluções pautadas na equidade, se demonstrou como uma prioridade para representantes de diferentes setores.
Políticas de D&I de sucesso, comprovadamente, impactam negócios – seja afetando o nível de colaboração dos times, seja ajudando a promover a inovação. Para se ter uma ideia, segundo estudo da McKinsey citado no summit, empresas focadas em gênero têm desempenho 15% superior ao da concorrência. Já companhias etnicamente diversas superam em 35% suas concorrentes.
No entanto, apesar dos benefícios, não restam dúvidas de que o avanço da diversidade ainda caminha a passos lentos. Dessa forma, em quase todas as partes do mundo, o grande desafio está associado à dificuldade de promover a inclusão, muito além da representatividade. Nesse sentido, a capacidade de definir os objetivos, acompanhar o andamento das políticas de D&I e mensurar os resultados são medidas fundamentais.
A adequação das companhias à realidade atual inclui, além de programas de contratação e educação interna, iniciativas para grupos sub-representados, com recortes de raça e identidade de gênero. Em um de seus programas, por exemplo, a Nokia desenvolve o treinamento de mulheres na liderança, que, em dois anos, resultou em um salto de 30 para 189 mulheres promovidas.
“Precisamos mudar a face da nossa indústria para que ela seja mais inclusiva do que somos hoje. Por isso, temos um grupo de pesquisa com os funcionários e, à medida que mensuramos os dados, queremos sempre melhorar os resultados”, falou Jean Lawrence, vice-presidente de marketing e comunicações da Nokia.
No entanto, quando o assunto é a inclusão de pessoas com deficiência (PCDs), os desafios são maiores, de acordo com Neil Milliken, head global de acessibilidade e inclusão digital da Atos. Em outras palavras, ele explicou que 80% das deficiências são invisíveis e ainda existe “desconforto” em conversar abertamente sobre o assunto. Por isso, torna-se mais complexa a identificação e criação de políticas de D&I contundentes nas organizações.
“Tenho duas deficiências, mas ninguém conseguiria saber olhando para mim. Então, isso torna mais difícil para as empresas terem a capacidade de contar. Logo, precisamos descobrir o que fazer para mensurar e criar uma cultura psicologicamente segura”, complementou.
Milliken ressaltou que, com a importância da agenda ESG (environmental, social and governance), o mercado tem feito um bom trabalho em criar relatórios e métricas. Para ele, o avanço do social, assim como tem ocorrido no ambiental, sem dúvidas, carece de medidas de governança. Isso, defendeu, compreende também ações de educação – ou seja, “de mentoria reversa” – para todo o público interno.
A head de ESG da Amdocs, Idit Duvdevany-Aronsohn, acrescentou que o segredo é ser “intencional e consistente” nos esforços para promover a diversidade. Nesse sentido, após investimentos em coleta, conhecer os próprios dados é o primeiro passo para direcionar o olhar e sanar os problemas.
Exemplo disso, a Amdocs – multinacional especializada em software e serviços para provedores – criou um dashboard robusto totalmente integrado às áreas da companhia. Com ele, é possível cruzar informações “em todos os ângulos possíveis”, desde a representação geral até a gerencial, extrapolando o setor de RH.
Idit comentou que, mesmo que estejam disponíveis para os líderes, as informações são apresentadas a cada revisão trimestral dos resultados de negócios. Ou seja, diversidade e inclusão se tornam um KPI importante para a empresa.
“Trazemos D&I para a mesa enquanto discutimos os fluxos de contas, receitas e desenvolvimentos, tópicos importantes para os gerentes. Apesar da não obrigatoriedade, ter os dados disponíveis promove o tópico, aumenta a responsabilidade e o envolvimento dos líderes. Portanto, conhecer os dados nos ajuda a definir os KPIs, medi-los e ver em que ponto estamos, mas também a criar um ecossistema completo para que todos os envolvidos estejam mais engajados”, complementou.
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