2025: o ano em que as Kellys e as Birkins chegaram a Austin
Aquele festival democrático, sem "área Vip", ficou no passado; a versão 2025 deu um novo significado ao platinum badge
Aquele festival democrático, sem "área Vip", ficou no passado; a versão 2025 deu um novo significado ao platinum badge
13 de março de 2025 - 16h53
Vou começar fazendo um esclarecimento importante: não tenho nada contra elas. Pelo contrário – eu amo bolsas, de todos os tipos, marcas, tamanhos (quem me conhece pode testemunhar).
Se você não sabe o que é uma bolsa Brikin, eu explico: é um modelo de bolsa hiper-exclusivo da Hermés – feito em pequeníssimas quantidades e materiais lindos (e muito, muito caros), batizada em homenagem a ela mesma, Jane Birkin. Carregar uma coisinha destas significa abrir mão de muitas dezenas de milhares de reais.
Primeiro eu comecei a ver pochetes Kelly na cintura das mulheres aqui – e já estranhei. E ontem, caminhando pelo ACC, trombei com uma brasileira de bolsa Birkin e quase caí dura.
Vejam bem: como alguém que gosta destas coisas, eu vejo muitas delas por aí o tempo todo e presto atenção. Mas em doze anos de festival, eu nunca tinha visto uma peça destas aqui. E a razão é óbvia – uma bolsa como essa não fazia nenhum sentido aqui em Austin até pouco tempo atrás.
Não existe um dress-code pro festival, e esta é uma das belezas dele. Mas por ser um programa que te faz ficar o dia (e boa parte da noite) na rua, a maior parte das pessoas tende a usar tênis, roupa confortável e uma mochila ou sacolão – porque a gente coloca tudo lá dentro: água, casaco, caderno ou computador e todo o resto (pensa no caramujo carregando a casinha nas costas).
Mas as maiores belezas do festival até hoje eram: primeiro, o fato de que todos vinham aqui pelo conteúdo. Os speakers renovados todo ano, as descobertas incríveis que a humanidade fazia (e ainda faz) pelo mundo, o trabalho humanitário de tantas figuras incríveis encontradas pelo festival no tempo todo nos moviam e emocionavam. E segundo: os que tinham um badge pendurado no pescoço se tratavam e eram tratados como iguais. Isso explica as conversas ótimas nas filas, a generosidade espontânea das pessoas e as experiências que só se vive quando você tira o crachá corporativo.
Corta para 2024/25 e para a mudança que vejo nas ruas e no festival: ele está gentrificado, definitivamente. E a pochete caríssima que parece deslocada aos meus olhos, percebo, talvez seja mesmo apropriada para esta nova versão.
Aquele festival democrático, sem “área Vip”, ficou no passado. A versão 2025 deu um novo significado ao platinum badge, que agora tem filas separadas e menores tanto no Convention Center (dando acesso a assento garantido nas sessões mais lotadas dois dias antes delas acontecerem) quanto nas ativações ao redor. É quase uma casta diferente.
A maior delegação do festival ainda é a nossa – agora, acelerada por grupos fechados para networking – que entregam “resumos em 3 minutos” das palestras e pegam emprestados os palestrantes-estrela do festival para jantares privados. Assim, seus membros possam aproveitar livremente o Pete’s, o Broken Spoken e o White Horse e as festas fechadas de brasileiros em todos eles até tarde.
2026 será um ano diferente para o festival. Sem o Convention Center como epicentro, ele vai precisar se reinventar (pelo menos logisticamente). Torço para que este novo momento traga ele de volta para o lugar – e que a gente volte a poder misturar o ótimo entretenimento local em sua versão autêntica com conhecimento de primeira.
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