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NFTs nos games: propriedade nas mãos do jogador
Com a Web3, os jogos NFT, que movimentaram US$ 5,17 bilhões, em 2021, estão mudando a lógica dos jogos eletrônicos
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Amanda Schnaider
26 de julho de 2022 - 6h00
Não é só no mundo das artes ou da moda que os NFTs podem ter aplicações. Os tokens não-fungíveis (NFTs), aqueles que não são intercambiáveis, ou seja, que não podem ser trocados por outro de mesmo valor, também estão presentes nos games.
Em 2021, os jogos NFT, também conhecidos como blockchain games, movimentaram US$ 5,17 bilhões, segundo dados do relatório do L’Atelier BNP Paribas e NonFungible.com. Esse valor, inclusive, representa 29,3% de todo o mercado de NFT, superando até mesmo as artes. Apesar de o boom de jogos NFTs ter acontecido durante a pandemia, devido à conjuntura econômica e social, eles surgiram em 2016.
Esses jogos eletrônicos operam total ou parcialmente sobre uma rede de criptomoedas, na qual o jogador tem a posse sobre os objetivos, itens ou personagens do jogo. Isso muda totalmente a lógica do game, porque até então se um jogador comprava um item de um jogo, ele não detinha o valor desse item no mundo real, ou seja, ele não poderia negociar esse item ou vendê-lo no mercado, porque a propriedade daquele item era do servidor do jogo. Com a blockchain, a propriedade dos itens é do próprio jogador. “Até então qualquer tipo de microtransação dentro do jogo, os jogadores não recebiam nada”, enfatiza Caroline Nunes, CEO da InspireIP.
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Segundo Caroline, nessa lógica anterior se o jogo resolvesse banir o jogador por algum motivo ou se ele deixasse de existir de uma hora para a outra, o jogador perdia aqueles itens que detinha dentro do game. “É uma virada de chave no universo de games, falo no universo de games da Web2. Com relação aos jogos que nascem na Web3, no universo nativo descentralizo, tem uma aceitação maior da comunidade da Web3, porque estamos tendo uma reação muito negativa da indústria de games da Web2 ao NFT”, completa.
Um exemplo dessa reação negativa da indústria de games da Web2 aos NFTs é o que desenvolvedora do Minecraft, Mojang Studios, anunciou na semana passada. A desenvolvedora adotou uma postura contrária aos tokens não-fungíveis e blockchain em seu jogo. Em uma postagem em seu blog, a companhia escreveu: “integrações de NFTs com o Minecraft geralmente não são algo que daremos suporte ou permitiremos”. A Mojang ainda argumenta que “cada um desses usos de NFTs e outras tecnologias de blockchain cria propriedade digital baseada em escassez e exclusão, o que não se alinha com os valores do Minecraft”. A companhia ainda ressalta que “o preço especulativo e a mentalidade de investimento em torno de NFTs tira o foco de jogar o jogo e incentiva o lucro”.
Além da Mojang, a Valve Corporation, proprietária da Steam, plataforma de distribuição de jogos eletrônicos para PC, também tem uma posição contrária os blockchain games em sua plataforma. Alguns meses após o lançamento do Ghost Recon Breakpoint, jogo que ganhou notoriedade por seus NFTs, a Ubisoft anunciou que não criará mais NFTs para o jogo.
Para a CEO da InspireIP, essa reação negativa da indústria aos NFTs mostra um desconhecimento. “Quando eles se negam completamente a abracar as tecnologias que poderiam beneficiar muito a base de jogadores que eles têm, estão dando uns cinco passos para trás. Eu espero que daqui a uns anos a indústria mude em relação a esse posicionamento”, complementa.
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Há dois tipos de jogos NFT: aqueles que já nasceram com NFT, que são chamados de “Play-to-earn” (jogar para ganhar, em tradução livre), como é o caso de Axie Infinity, Gods Unchained, Thetan Arena e Pegaxy; e os jogos da Web2 que cogitaram usar a NFT, como é o caso da Epic Games, que fechou uma parceria com a Gala Games, empresa de blockchain games, em junho deste ano, para colocar alguns dos seus títulos na loja da Epic Games. O primeiro jogo em blockchain disponível na Epic Games Store será o GRIT, um battle royale que se passa no Velho Oeste.
De acordo com o fundador do portal CriptoFácil, Paulo Aragão, além de permitir que os usuários ganhem dinheiro enquanto jogam, os blockchain games também permitem aos jogadores venderem itens, ativos e personagens dentro do jogo. “Garantir autenticidade e criar um sentido maior de exclusividade para aquele ativo específico dentro do jogo”, são algumas das vantagens dos jogos NFT, segundo Aragão.
“Ao falar de jogos que utilizam a tecnologia blockchain, eles tinham como base o mecanismo ‘Play-to-earn’ que hoje já está passando por uma mudança, adotando o ‘Play-and-earn’, que faz com que, conforme o player vai jogando e evoluindo através das missões in-game, ele seja remunerado com tokens do jogo, abrindo a possibilidade do jogador usufruir de uma economia real, podendo até mesmo trocar por dinheiro”, explica Jhoniker Braulio, CEO da First Phoenix, empresa brasileira de desenvolvimento de jogos eletrônicos, reforçando que essa mudança faz com que os desenvolvedores de jogos blockchain se preocupem primeiramente com a gameplay, atraindo os players pela diversão, unindo o mercado gamer com o mercado blockchain, estabilizando melhor a economia do jogo, criando uma longevidade.
Braulio salienta que jogar em si não é o maior problema quando se pensa em riscos de jogos NFT. Segundo ele, o problema é que a maioria desses jogos que utilizam a tecnologia blockchain necessitam que o jogador invista em um NFT antes de participar do jogo. “Então, se o jogo não for interessante, não atrair jogadores, e não tiver longevidade, pode acontecer de seu NFT não valorizar e você não ganhar tokens o suficiente para suprir o que foi investido, lembrando que esse mercado trabalha através de demanda, enquanto tiver muitas pessoas comprando, interagindo e jogando, mais utilidade seus ativos terão e maior será a chance de que seus ativos valorizem”, completa.
De acordo com um levantamento realizado pelo Yubb a pedido do E-Investidor, a criptomoeda do Axie Infinity, AXS, valorizou 17.272,9% em 2021, ou seja, quem comprou o NFT por US$ 1, por exemplo, poderia vender por US$ 17,2 mil. Entretanto, desde o início desse ano, o AXS desvalorizou 58,51%. Para Caroline, CEO da InspireIP, essa desvalorização acontece por dois motivos principais: o medo e o hype. “A hype culminou em outubro de 2021 e, eventualmente, essa hype está descendo, estamos entrando num momento muito mais sóbrio, paramos de ver a tecnologia como um fim, mas como um meio”, ressalta. Já Braulio, CEO da First Phoenix, entende que essa desvalorização acontece porque muitos jogos focaram apenas na remuneração, esquecendo o ponto principal de um jogo: a gameplay. “Como o jogo não tem esse detalhe importante, ele deixa de ter longevidade, fazendo com que os seus ativos percam a utilidade”, complementa.
Apesar disso, o fundador do portal CriptoFácil, entende que esse risco de valorização e desvalorização é similar ao que acontece nos jogos tradicionais. “As pessoas que estão entrando nesse mundo precisam saber muito onde estão entrando”, comenta. Caroline reforça a opinião de Aragão. Segundo ela, é preciso tornar certos cuidados com esses jogos, assim como com qualquer tipo de investimento. “Você tem que saber o que está por trás desse jogo, como a comunidade está sendo construída nesses jogos, como o jogo está se sustentando. Tudo isso tem que se levado em consideração antes de uma pessoa colocar dinheiro dentro de um projeto de jogos”.
Por serem parte da Web3 e do metaverso, os jogos NFT também tem espaço para a publicidade. Um exemplo de jogo que está abrindo oprotunidade para inserções publicitárias é o RIO-X, que está em desenvolvimento pela First Phoenix. “Ele oferecerá diversos espaços para empresas fazerem publicidade, lá teremos outdoors, busdoor, caminhões e até mesmo lojas físicas onde o player conseguirá ter acesso ao produto dessas empresas e fazer compras enquanto se diverte”, explica o CEO, Jhoniker Braulio. Para Caroline, o interessante de ter uma publicidade voltada para esse universo de Web3 é ter a possibilidade de vincular a marca ao jogo e de criar um subproduto da marca, que utiliza a sua identidade para a criação de ícones colecionáveis.
Série
Esta matéria pertence a uma série de Meio & Mensagem sobre NFTs . Confira a matéria anterior sobre o uso dos NFT na moda e na música.
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