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Zoo da inovação: O que é uma startup Camelo?
Crescimento sustentável, valorização da cultura e análise de investimentos estão entre as peculiaridades desse tipo de empresa
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Giovana Oréfice
29 de junho de 2022 - 10h56
A resistência às diversas temperaturas e longas caminhadas no deserto em direção ao oásis são atitudes características dos camelos e alusões que podem ser aplicadas também ao mundo corporativo e ao mercado. As startups camelo tiveram essa denominação cunhada pelo autor Alex Lazarow, dando a ideia de que, diferentemente das fantasiosas unicórnios, que almejam o lucro, as camelos pretendem atravessar as adversidades frente à realidade e sem turbulências.
O ecossistema das startups conta com o termo blitzcaling, que é quando um negócio tem crescimento acelerado – o que não é o caso das camelos. “Estamos em fase tão ‘blitzscaling’ e temos uma bolha se instaurando no mercado também, o que faz com que a startup camelo seja muito necessária nesse momento que estamos passando de reajuste de checks, de valuations. Normalmente, a camelo faz todas as ações para crescer de maneira sustentável e escalável”, explica Luiza Leite, coordenadora de aceleração na ACE Startups, que se posiciona como holding de investimento para inovação de negócios. “Quando olhamos para uma startup assim, avaliando investimento, temos mais empatia com o empreendedor que valoriza o dinheiro que está captando”, salienta.
O contraste que evidencia a sobrevivência das startups camelo em meio às adversidades é a onda de demissão em massa que as unicórnios têm enfrentado no Brasil. O cenário econômico com baixas taxas de juros, antes propenso a contratações, enfrenta agora crise em que a captação de capital se tornou mais difícil e os cortes de caixa se fazem necessários. Segundo Antônio André Neto, coordenador acadêmico dos MBAs em gestão estratégica e econômica de negócios da FGV, a interrupção do fluxo de capital se dá porque os aportes que estavam previstos para acontecer foram interrompidos ou estão acontecendo de forma reduzida. “Existem algumas startups que não recebem investimentos ou, até eventualmente, recebem, mas têm plano de crescimento muito mais orgânico, conservador e regular”, comenta Neto. “Elas têm crescimento mais lento e, a princípio, não necessariamente, dependem do aporte de terceiros. Os sócios fazem aportes no começo e sabem que estão olhando para a empresa em horizonte de dez anos”, complementa o professor.
A coordenadora de aceleração na ACE Startups endossa que as startups camelo não buscam muitos investimentos. “Normalmente, pega um cheque no começo da jornada, mais early stage para dar uma impulsionada, mas, logo em seguida, já equilibra a ponta”, diz. A jornada é marcada pelo break even, que se caracteriza pelo equilíbrio entre custo de operação e faturamento.
Tendo como uma das bases de segurança a preservação da cultura, é importante ressaltar que este tipo de empresa nasce e permanece, pelo menos por um tempo, com time enxuto frente às operações – geralmente, os sócios e mais alguns estagiários. Uma das bases do crescimento saudável diz respeito também às pessoas: o caixa assegura o pagamento dos colaboradores, demonstrando confiança.
A experiência frente a outros negócios e o conservadorismo, além da veia em tecnologia e produtos, são alguns pontos que definem os empreendedores à frente destas startups. Na maior parte dos casos, os sócios não necessariamente deixam seus empregos de primeira para se dedicar ao novo negócio, e esperam até que a empresa atinja maturidade para que possa ser autossustentável.
Menos dinheiro, mais intelecto
Diferentemente das unicórnios que buscam a viralização rumo à popularidade no mercado, as camelos apostam no investimento em canais mais tradicionais e orgânicos como assessoria de imprensa para repercussão na mídia em vez da aposta de gasto com anúncios para a aquisição de clientes.
Nesse sentido, uma das principais buscas por investidor não tem o capital como interesse principal, mas sim o conhecimento. Neto, da FGV, aponta que as startups camelo têm grande apreço por investidores estratégicos. “Mais que dinheiro, traz conhecimento e acesso ao mercado. Esse é um modelo que se chama, principalmente, corporate venture”, detalha. “Uma grande corporação investe em startup e, assim, não só coloca dinheiro, mas também conhecimento e tecnologia, traz potenciais fornecedores”.
“Zoo da Inovação” é uma série de Meio & Mensagem. Confira os demais capítulos e conheça as startups: unicórnio, dragão e zebra.
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