DE 08 A 16 DE MARÇO DE 2024 | AUSTIN - EUA

SXSW

A nova economia de bem-estar sexual

Empresas inovadoras transformam a relação entre sexualidade e tecnologia a favor da melhoria da nossa intimidade.


21 de março de 2023 - 15h10

(crédito: Amy E. Price/GettyImages)

Dentre as inúmeras tendências e inovações que o SXSW 2023 apresentou, algumas têm o potencial de impactar diretamente os nossos relacionamentos e intimidade.

Antes de projetarmos o que podemos esperar do Futuro do Sexo, vale entendermos como a relação entre sexualidade e tecnologia evoluiu nos últimos anos. Este foi o tema da palestra da Samantha Cole, que escreveu o livro “Como o sexo mudou a internet e a internet mudou o sexo”.

Não é de hoje que desenvolvemos tecnologias em prol do nosso prazer. O artefato sexual mais antigo já encontrado, um dildo de pedra polida, tem aproximadamente 28.000 anos. Mas foi a partir da internet que esta relação se fortaleceu, sendo o sexo e a pornografia os catalizadores de várias inovações tecnológicas que depois se tornariam populares, como o streaming de vídeos, meios de pagamento online, webcams, realidade virtual, entre outras.

Segundo Samantha “Um dos impulsos mais básicos que os humanos têm é o sexo. E a sexualidade está entrelaçada no tecido da internet – sua arquitetura, protocolos, padrões e transações comerciais – quer as pessoas que usam esses sistemas percebam ou não”.

A Internet forneceu uma plataforma para a expressão sexual que antes não estava disponível. Permitiu que as pessoas explorassem sua sexualidade e se conectassem com outras que compartilhavam interesses semelhantes, independentemente de sua localização. Os apps de relacionamento e as redes sociais mudaram a forma como nos relacionamentos afetivamente. Já a conveniência, a segurança e a privacidade do “online” nos permitiram experimentar produtos e conteúdos eróticos, que em outras condições talvez não faríamos.

Até pouco tempo, o uso de tecnologias a favor da melhoria da nossa experiência sexual, para outros fins que não a pornografia, ainda era bem limitada. Graças a uma nova leva de empresas, conhecidas como “SEXTECHS”, que têm como propósito promover o bem-estar sexual, este cenário está mudando.

Foi através dos exemplos do que estas empresas estão desenvolvendo, que Bryone Cole, fundadora da SexTech School e do podcast “The Future of Sex” e Maaike Steinebach, ex CEO da VISA e founder da Femtech Future, compartilharam suas perspectivas sobre o que esperar da economia sexual do futuro.

Apesar de muitas pessoas acharem que “Sextech” é sobre sexo com robôs ou vibradores, Bryony explicou que o conceito é muito mais amplo e que este mercado, avaliado em USD 60 bilhões, engloba também soluções para o bem-estar, saúde e educação sexual, além de produtos e serviços para o prazer.

É importante destacar que o “tech” neste contexto não está limitado ao uso de tecnologias digitais. Por definição, tecnologia pode ser qualquer técnica que resolva um problema e no campo da sexualidade, o que mais temos são oportunidades para criar experiências sexuais mais positivas e satisfatórias para uma grande parcela da população que por muito tempo teve suas necessidades sexuais subestimadas.

É comum vermos desde soluções aparentemente “low tech”, como os anéis flexíveis (Ohnut) que permitem reduzir a dor que algumas mulheres sentem durante o sexo penetrativo, e calcinhas para prevenção de IST’s no sexo oral (Lorals), até apps e dispositivos mais “high tech” que ajudam pessoas a se autoconhecerem sexualmente (Emjoy), controlarem seus ciclos(Clue) ou lidarem com os sintomas da menopausa.

De acordo com Bryony, muitas das novas empresas que estão surgindo neste mercado são lideradas por mulheres, que estão desenvolvendo produtos a partir de suas próprias demandas. Porém, existem também soluções para homens, que exploram novas abordagens para questões relacionadas a ejaculação precoce, disfunção erétil e fertilidade. Um dos exemplos que ela apresentou foi o Yo Sperm Test, um teste de fertilidade masculina que pode ser comprado na internet e feito em casa com o apoio do celular.

Diferentemente das empresas “tradicionais” do setor, as “Sextechs” carregam características que as aproximam muito mais do mercado de saúde e bem-estar do que do erótico. O desenvolvimento dos produtos é focado na experiência do usuário, em qualidade e em design, as embalagens são discretas, a identidade visual é clean, e as marcas investem em conteúdos educacionais e criação de comunidades. Tudo isso faz com que seus produtos sejam disponibilizados em novos canais de venda como o varejo de moda e beleza, levando mais pessoas a conhecerem e consumirem.

Mas, para que esta indústria alcance todo o seu potencial e beneficie parcela cada vez maior e mais diversa da população, é preciso combater os estigmas e os preconceitos existentes que dificultam que as startups do setor, consideradas de risco, levantem investimentos, promovam os seus produtos em redes sociais e operem seus negócios normalmente. Daí a importância do desenvolvimento de comunidades e ecossistemas, como a Sextech School que apoia estas empresas.

Promover a educação sexual também é chave, tanto para empreendedores, que devem garantir que seus produtos e serviços sejam desenvolvidos e usados de maneira responsável e ética, como para consumidores, que precisam entender mais sobre sua sexualidade e necessidades, a fim de que possam usufruir de forma adequada de soluções que melhorem suas vidas sexuais.

Embora tenha focado mais no “Futuro do Presente” do sexo, o que pode ter frustrado parte da audiência que esperava cases de aplicações mais “sexy” e disruptivas, Bryony ainda falou do potencial da Inteligência Artificial para o desenvolvimento de produtos e serviços mais sofisticados, personalizados e interativos que fornecem informações sobre saúde, comportamento e preferências sexuais a partir da análise de dados dos usuários.

Para a especialista, robôs sexuais e companheiros virtuais inteligentes, bem como tecnologias de realidade virtual farão parte do Futuro do Sexo, mas são as aplicações mais simples de Sextech que poderão impactar positivamente a vida de milhares de pessoas.

De acordo com uma pesquisa da PROSEX de 2016 (no Brasil), mais de 50% das mulheres têm dificuldade de atingir o orgasmo. Portanto, inovações que ajudem pessoas, em especial mulheres a usufruírem de todo potencial de viver uma sexualidade plena e satisfatória, são muito mais urgentes e importantes.

O mundo está mudando, assim como a maneira como abordamos a nossa intimidade. Porém, falar sobre sexo é ainda mais íntimo do que fazer sexo para a maioria das pessoas, e esta “conversa” precisa ser naturalizada para acontecer fora das quatro paredes do quarto.

O Futuro da economia do bem-estar sexual não está em desenvolver tecnologias da “NASA” para substituir parceiros e aumentarmos a nossa “intimidade artificial”. Pelo contrário, está em ampliar os nossos sentidos que são nossas tecnologias originais, para tornar a nossa sexualidade cada vez mais sentida, expressa e experimental.

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