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De 7 a 15 de março de 2025 I Austin - EUA
SXSW

A Parábola dos cegos e o elefante

Como diferentes perspectivas formam a essência do festival


17 de março de 2025 - 19h08

Quando alguém me pede para definir o SXSW, recorro à parábola dos cegos e o elefante. No conto, cada cego toca uma parte do animal e tenta descrevê-lo sem enxergar o todo. Um sente a tromba e acha que é uma cobra; outro toca a perna e jura que é um tronco de árvore. Cada um tem razão dentro da sua perspectiva, mas nenhum compreende o elefante por completo. O SXSW é assim: cada visitante experimenta apenas uma fração do evento e forma a sua opinião a partir dessa vivência parcial.

O South by Southwest é um dos maiores festivais de inovação, tecnologia, música e cinema do mundo. É um ecossistema dinâmico, com milhares de palestras, shows, ativações, mentorias e exposições acontecendo simultaneamente. Minha experiência é apenas um recorte, e é por isso que valorizo tanto as trocas, os compartilhamentos e os grupos organizados por Edney Souza, Meio & Mensagem, EXP + PROS, Globo, White Rabbit, oclb, Institute for Tomorrow, Elas Vão SXSW, Conflow, Oxygen, Boost Content, Spark:off, Aladas, Explore, Disruptivos e tantos outros.

Mas o SXSW vai além do que acontece no palco: está nos encontros pelos corredores, nas conversas nas filas e nas discussões pós-evento, que continuam ecoando em vídeos no YouTube, podcasts, livros e artigos ao longo do ano.

No meio desse turbilhão de ideias e debates, alguns temas se destacaram em 2025. O amadurecimento das discussões sobre inteligência artificial, mídias sociais e a epidemia de solidão foi evidente. Vi críticas a governos autoritários, questionamentos sobre o papel da tecnologia na sociedade e ativismo também na XR Experience — a exibição com mais de 30 experiências imersivas, onde passei pelo menos dois dias.

A curadoria da XR Experience (garimpada por Blake Kammerdiener, com apoio de Gaëlle Mourre e Hayley Martin) trouxe histórias que desafiam as fronteiras do audiovisual, expandindo a imersão e a interatividade. Cito aqui apenas alguns dos destaques:

  • In the Current of Being, que usa hápticos para intensificar a sensação de presença na história real de uma sobrevivente de terapia de conversão por eletrochoque;
  • Ancestor, que nos leva a uma jornada coletiva sobre legado e relações familiares;
  • Traces, uma experiência de VR compartilhada em que grupos de quatro participantes confrontavam e dividem a vivência do luto;
  • Reflections of a Little Red Dot, um documentário interativo que propõe uma nova forma de narrativa;
  • Now is When We Are (The Stars), que nos transportou para uma floresta de vagalumes (como descreveu minha amiga Luciana Bisker) ou para um céu estrelado onde, em uma experiência coletiva, fomos expostos à impermanência e à finitude. Quem será a última pessoa a falar sobre você? Qual é o seu legado? Como serão seus últimos minutos na Terra? Quem estará ao seu lado?

Essas produções não apenas apresentam novas linguagens do audiovisual — são ferramentas de empatia, que colocam o participante no centro da narrativa e, muitas vezes, permitem que ele altere o rumo da história.

Além do que vi e ouvi, também me envolvi com os bastidores do festival. O SXSW sempre foi um laboratório para novas formas de interação, como as Connect Sessions, mentorias, workshops e meetups. Este ano, tivemos a oportunidade de criar um formato inovador para apresentar a XR Experience — uma das áreas mais disputadas do evento.

Junto com Gaëlle Mourre e Rodrigo M. Terra, desenvolvemos um painel que funcionava como um guia estratégico de navegação: A Guide to SXSW’s XR Experience. Mostramos um menu das atrações, falamos das tecnologias envolvidas e de usos práticos em outros setores e, no final, cada participante saiu com um guia em PDF para facilitar suas escolhas.

Outro momento de experimentação foi na São Paulo House, onde fui convidada pelos organizadores e pelo curador Franklin Costa para criar e mediar um painel com Amy Gallo, Ian Beacraft e Neil Redding. Testamos um formato diferente: os três featured speakers trouxeram suas perspectivas individuais e, em seguida, estabelecemos um diálogo cruzado, conectando os pontos entre suas palestras. Falamos sobre o futuro do trabalho, a quebra de paradigmas e como o uso da tecnologia impacta as relações e as estruturas organizacionais. Para aprofundar ainda mais a troca, incluímos uma rodada de perguntas entre os próprios palestrantes. Aliás, que sucesso foi a SP House, com mais de 15.000 visitantes!

No meio de uma floresta de vagalumes de LED no McCullough Theatre, parei para refletir sobre a transitoriedade das coisas. Somos pequenos na linha do tempo, mas, ao mesmo tempo, capazes de transformar o mundo com pequenas ações — desde que movidos por coragem e propósito, como fomos incentivados por Michelle Obama, Nonny de La Peña, Jay Graber, Esther Perel, Laurie Santos, Nita Farahany, Karen Guggenheim, Mark Cuban, Joshua Rubin, Hugh Forrest, Tracy Mann e tantos outros.

Como um dos cegos da fábula, enxerguei o festival a partir da minha própria vivência. Mas é compartilhando experiências que conseguimos ampliar nossa percepção e formar uma visão mais completa desse grande evento.

Em 2026, estaremos lá novamente, prontos para explorar novas facetas do SXSW e, juntos, compreender coletivamente a sua verdadeira dimensão.

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