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De 7 a 15 de março de 2025 I Austin - EUA
SXSW

A ressaca da AI

Enfim, ainda foi só o primeiro dia, mas sigo acreditando na ‘opening session’ dando o tom - alô humanos, voltemos a aprender ser humanos


9 de março de 2025 - 11h33

Hoje disseram por aqui que a ‘opening session’ (na sala principal) tende a dar o tom do festival. Eu não poderia concordar mais. A princípio achei que a minha sensação “foco no humano e suas humanices” deste ano era devido à minha escolha de agenda / trilhas, mas talvez seja apenas ressaca do excesso de AI da última temporada.

Claro que o festival segue inundado de palestras e discussões ao redor de AI e tecnologia pra todo lado e de todo tipo – impactos na arte, trabalho, marketing, comportamento de gerações, produtividade, bem como a ética, regulação e como poderes público, civil, privado se implicam e protagonizam discussões importantes sobre futuro. Esta é uma constante no SXSW desde o ano passado e me parece default.

A 1a palestra do dia foi abertura da Kasley Killam (‘Kasley Killam in conversation with Amy Gallo) – duas escritoras, a primeira especialista em ‘social health’ e a segunda especialista em ‘workplace dynamics’. De cara e em comum o apreço fundante nas relações humanas. Kasley trouxe pesquisas e evidências sobre a importância de sermos sociáveis e saber nos relacionar e interagir pessoalmente. Ela afirma que a próxima ‘grande onda’ de discussão em educação, trabalho e saúde pública será ‘social health’, como foi saúde mental anos atrás. Depois, Amy trouxe mais dados sobre a importância de conexão emocional, relacionamento pessoal em ambientes corporativos e como isso também melhora a produtividade. Foi interessante ouvir as duas palestrantes navegando desde a epidemia da solidão ao redor do mundo até a nossa diária e crescente falta de tato e paciência na lida com o outro – aqui alcançando uma maioria de identificação na plateia.

Depois, em outro painel cujo o título era tentador (aliás, não paro de pensar sobre os títulos das palestras no SXSW) – ‘How to rise above the skepticism and exhaustion of today’s consumer’, 2 típicos millennnials – founders de empresas ‘contra-sistema’ interessados na cultura vigente – falavam sobre o branding que mais acreditam (anti-práticas comuns de propaganda): conexões mais verdadeiras e honestas com seus consumidores, a importância do boca a boca, da sustentabilidade rigorosa, do gasto da verba de comunicação mais em ações do que discursos; reforçando e retomando essa mudança mental desta geração em relação ao universo do consumo. Um deles (Joe Hollier) criador do ‘light phone’, um celular nada smart, pensado pra tirar as pessoas do scroll infinito ou da lógica de ‘empty calories’ das redes sociais como tem-se falado por aqui. O que vimos foi um diálogo de dois designers que há 10 anos atrás apostaram no ‘humano no centro’ e agora, depois de mil plot twists, renovam seus votos e dobram as apostas. Para eles, a conexão autêntica com as pessoas segue sendo a chave pra construção de qualquer marca e negócio.

Em outras tantas salas vizinhas (que seguimos com AI convertendo áudios em textos) algumas palestras sobre a total descrença em previsões e futurismo; em como devemos criar o futuro ou desenhar o que se imagina. E a nossa eterna luta entre repetir/ reproduzir ou desbravar e criar.

Mais tarde alguém ainda me disse que em uma palestra com astronautas da Nasa, eles disseram que a relação profunda que estabelecem um com o outro é o que faz a diferença em qualquer missão. Um pouco de “dane-se” se somos da Nasa / vamos pra Lua, ou conquistar o espaço com mil tecnologias; no fundo o que vale é confiar e saber muito do outro ali ao lado, porque é ele que vai salvar a sua vida quando algo inesperado acontecer.

Enfim, ainda foi só o primeiro dia, mas sigo acreditando na ‘opening session’ dando o tom – alô humanos, voltemos a aprender ser humanos. Parece óbvio, mas também parece necessário o reforço. Seguimos!

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