Ben Stiller: “O bom storytelling sempre reside na conexão emocional”
Diretor de Ruptura conversou com Eddy Cue, vice-presidente de serviços da Apple, sobre o processo criativo da série que caminha para o final da segunda temporada
Diretor de Ruptura conversou com Eddy Cue, vice-presidente de serviços da Apple, sobre o processo criativo da série que caminha para o final da segunda temporada
Isabella Lessa
9 de março de 2025 - 20h16
Ben Stiller e Eddy Cue falam sobre processos criativos da série Ruptura e da abordagem da Apple em torno da inovação (Crédito: Isabella Lessa0
Ruptura tem somente duas temporadas – sendo que a segunda mal chegou ao fim –, mas rapidamente se tornou um sucesso de audiência. Produção original da Apple TV+, a série conta a história de funcionários cujas memórias foram isoladas em duas partes: a da vida profissional e a da vida pessoal.
Hoje, é a mais assistida do serviço de streaming. Não é difícil entender o porquê. Em um momento no qual as corporações vivenciam múltiplos desafios para manter ou reinventar suas culturas internas — e em que as pessoas estão revendo as possibilidades da relação com o trabalho –, a trama, ainda que distópica, ressoa questões bastante próximas da realidade de muitos.
A manifestação de apreço pela obra dirigida por Ben Stiller foi comprovada na manhã gelada deste domingo, 9, quando hordas de participantes do South by Southwest (SXSW) preencheram todos os espaços disponíveis do Ballroom D para ver de perto o diretor e Eddy Cue, vice-presidente sênior de serviços da Apple.
Logo no início da sessão, foi exibido um trecho do episódio que estreará nos próximos dias. A organização do evento havia pedido para que a audiência não filmar.
Para tentar garantir algum controle sobre a multidão presente, seguranças vestidos de preto – alguns de óculos escuros – ficaram um bom tempo rondando as fileiras à procura de infratores, ocasionalmente usando lanternas para isso. Uma mulher que gravava a sessão com o que aparentava ser um gravador de áudio precisou deletar o conteúdo, a pedido de uma enfática segurança.
Na opinião de Cue, executivo da Apple, a reação do público a Ruptura o lembra dos tempos áureos da TV, em que a audiência esperava com ansiedade pelos próximos capítulos de uma trama. “Faz tempo que não via um programa que capturava a imaginação e o momento cultural de tantas pessoas”, disse.
Dan Erickson, roteirista da série, começou a escrevê-la há quase dez anos, quando trabalhava em um emprego do qual não gostava, em uma fábrica de portas.
“O conceito criado por ele ressoa nas pessoas que estão tendo de passar seu tempo fazendo coisas para o ganha-pão e não querendo lidar com certas partes da vida”, opinou Stiller. “E traz à tona questões como ‘o que está acontecendo nessa empresa’, ‘o que estamos fazendo quando trabalhamos’, ‘o que estamos fazendo com nossas vidas?’. É quase como The Office, mas há um elemento Twilight Zone na história. É como a vida”, acrescentou.
O fato de a primeira temporada de Ruptura ter sido filmada durante a pandemia de Covid-19, período em que as pessoas estavam com sentimentos de desesperança e desconexão umas das outras, alimentou o timing da série quando foi lançada, acredita o diretor.
Nesse sentido, foi interessante observar a audiência ir além do conceito da série para chegar ao aspecto emocional da relação com os personagens, disse. “O bom storytelling sempre reside na conexão emocional”.
Tanto Stiller quanto Cue concordam que é desafiadora a missão de criar algo que prenda a atenção das pessoas, porém reconhecem, na mesma medida, que a quantidade de conteúdo gerada pelas pessoas – como, por exemplo, os podcasts que se debruçam em teorias sobre Ruptura – é um movimento interessante de se observar.
“As pessoas têm muitas ideias e isso é fantástico”, disse Stiller. Ele garantiu, aliás, que a Apple lhe concedeu bastante liberdade criativa para trabalhar na série, e não deixou de traçar os paralelos entre a Lumen, corporação em que os personagens da trama trabalham, e a Apple, grande corporação da vida real. “É o programa perfeito para estar na Apple. Há algo na estética… a propósito, como a Apple está indo? Às vezes me preocupo com vocês quando repassamos os orçamentos”, brincou Stiller.
Cue, por sua vez, disse enxergar similaridades no processo criativo do time da série e no da própria Apple. “Para inovar, não podemos ser iguais a todo mundo. Tentamos nos arriscar e, para conseguir fazer isso, temos de nos cercar de pessoas ótimas”, pontuou. Além disso, o executivo comentou que é preciso colocar o foco em poucas coisas, não muitas, e executá-las muito bem.
Esse é o segredo do sucesso da Apple, acrescentou: fazer poucos produtos. Da mesma forma, a Apple TV+ não produz tantas séries porque a companhia não sabe fazê-las em grandes quantidades. A equipe do streaming encara os programas tal qual os gadgets da companhia: precisam ser pensados para todos, não para um pequeno grupo de pessoas.
“A música na série é outro personagem incrivelmente importante”, disse Stiller. O responsável pela trilha de Ruptura é Theodore Shapiro, que começou a compor antes mesmo das filmagens da primeira temporada.
Parte do processo criativo da série, contou o diretor, se deu ao ouvir as músicas compostas por Shapiro e a partir da observação dos atores ensaiando as cenas. “Foi por meio desses detalhes que fomos descobrindo como o programa iria ser”.
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